float(9) float(2) float(4.5)

Crítica


8

Leitores


2 votos 9

Onde Assistir

Sinopse

Woody, Buzz, Jesse e toda a turma vivem felizes, agora como brinquedos da pequena Bonnie. Entretanto, a chegada de um garfo transformado em brinquedo, Garfinho, faz com que a calmaria reinante chegue ao fim, justamente porque ele não se aceita como tal.

Crítica

Apesar do que o belíssimo Toy Story 3 (2010) deu a entender, com seu suposto fim do ciclo dos brinquedos mais queridos das telonas, agora chega aos cinemas uma nova aventura encarregada de renovar o fôlego da saga basilar quanto às animações contemporâneas. Woody, Buzz e companhia se despediram de Andy, entendendo a nobreza de alegrar a vida de outra criança, no caso a da pequena Bonnie. Em Toy Story 4 a obsolescência atinge lugares distintos, algo visto quando a garotinha deixa (novamente) o xerife no empoeirado armário. Assim, não é apenas o crescimento que pode gerar o arrefecimento dos vínculos, mas os protocolos naturais da vida. A predileção não é uma matéria negociável, assim como o afeto passa longe dos mecanismos da barganha. E este novo longa-metragem, como nenhum outro da franquia, é bem centrado no cowboy e na sua necessidade de entender que há múltiplos papeis a serem desempenhados no vasto mundo.

Logo de cara, Woody reafirma sua dedicação à tarefa para a qual imagina ter nascido, ou seja, fazer sua criança feliz. Para isso, infringe regras, indo com Bonnie ao primeiro dia de aula, testemunhando o nascimento de Garfinho, o mais importante dos personagens que surgem em Toy Story 4. Aliás, a renovação é um signo vital no filme dirigido por Josh Cooley, vide as aparições esporádicas de figuras indefectíveis, tais como Rex, Slinky, Porquinho, além do Sr. e da Sra. Cabeça de Batata. Essa maré de mudanças passa, inclusive, pela simbólica cena da infante tirando do xerife a estrela que lhe confere autoridade e a transferindo momentaneamente a Jessie. Indício de um tempo de urgente fomento ao destaque das mulheres, também funciona como sintoma das mutações relacionais, movimento celebrado orgânica e silenciosamente. Até mesmo o astronauta fica um pouco escanteado, minuciosamente disposto à margem de uma jornada tumultuada de valiosas descobertas.

Toy Story 4 mantém o padrão dos antecessores, nos últimos minutos sendo equivalente, no quesito emocional, ao predecessor imediato. É difícil segurar as lágrimas diante de decisões inevitáveis, de ritos que fazem parte da existência, seja a das pessoas ou mesmo a dos brinquedos animados, dispostos a tudo para permanecer unidos. Antes, porém, Woody reencontra uma velha amiga que indiretamente lhe aponta a possibilidade de uma rotina mais subjetiva, ainda que bastante motivada pela felicidade gerada nos petizes carentes de atenção e, quiçá, de um apoio para encarar melhor as novidades. A missão de juntar novamente Garfinho e Bonnie é uma desculpa para o roteiro desenhar esse amadurecimento tardio do cowboy altruísta, por certo também egoísta e prepotente em vários instantes, características que o aproximam da humanidade. A narrativa dinâmica contém sacadas, tanto visuais quanto verbalizadas, que tornam tudo isso bastante divertido.

Os grande alívios cômicos de Toy Story 4 são o coelho e o pato de pelúcia, literalmente grudados. Betty, a pastorinha utilizada num contexto imprescindível, bem como suas colegas ovelhas, a minúscula "policial" risonha e o dublê exibicionista completam a nova turma, nem melhor, tampouco pior, mas diferente. Uma das maiores sacadas do filme é a antagonista, a boneca que credita seu esquecimento ao fato de ter a caixa de voz quebrada. Ao lado dela, os asseclas, aterrorizantes bonecos de ventríloquo que se deslocam tropegamente criando pavor. Diferentemente de Toy Story 3, em que a iminência do adeus era fomentada em cada cena, com isso criando uma sensação permanente de melancolia, nesse filme as coisas acontecem menos mediadas pela inevitabilidade num primeiro plano, mas quando o desfecho surge, comovente e absolutamente coeso com o trajeto até ali, fica evidente que a Pixar conseguiu mais uma vez, ou seja, fez, da saga Toy Story um cativante veículo para falar das fases intrínsecas ao amadurecer, inclusive aquilo que temos de deixar para trás.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *