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Sinopse

Woody, Buzz, Jesse e toda a turma vivem felizes, agora como brinquedos da pequena Bonnie. Entretanto, a chegada de um garfo transformado em brinquedo, Garfinho, faz com que a calmaria reinante chegue ao fim, justamente porque ele não se aceita como tal.

Crítica

Apesar do que o belíssimo Toy Story 3 (2010) deu a entender, com seu suposto fim do ciclo dos brinquedos mais queridos das telonas, agora chega aos cinemas uma nova aventura encarregada de renovar o fôlego da saga basilar quanto às animações contemporâneas. Woody, Buzz e companhia se despediram de Andy, entendendo a nobreza de alegrar a vida de outra criança, no caso a da pequena Bonnie. Em Toy Story 4 a obsolescência atinge lugares distintos, algo visto quando a garotinha deixa (novamente) o xerife no empoeirado armário. Assim, não é apenas o crescimento que pode gerar o arrefecimento dos vínculos, mas os protocolos naturais da vida. A predileção não é uma matéria negociável, assim como o afeto passa longe dos mecanismos da barganha. E este novo longa-metragem, como nenhum outro da franquia, é bem centrado no cowboy e na sua necessidade de entender que há múltiplos papeis a serem desempenhados no vasto mundo.

Logo de cara, Woody reafirma sua dedicação à tarefa para a qual imagina ter nascido, ou seja, fazer sua criança feliz. Para isso, infringe regras, indo com Bonnie ao primeiro dia de aula, testemunhando o nascimento de Garfinho, o mais importante dos personagens que surgem em Toy Story 4. Aliás, a renovação é um signo vital no filme dirigido por Josh Cooley, vide as aparições esporádicas de figuras indefectíveis, tais como Rex, Slinky, Porquinho, além do Sr. e da Sra. Cabeça de Batata. Essa maré de mudanças passa, inclusive, pela simbólica cena da infante tirando do xerife a estrela que lhe confere autoridade e a transferindo momentaneamente a Jessie. Indício de um tempo de urgente fomento ao destaque das mulheres, também funciona como sintoma das mutações relacionais, movimento celebrado orgânica e silenciosamente. Até mesmo o astronauta fica um pouco escanteado, minuciosamente disposto à margem de uma jornada tumultuada de valiosas descobertas.

Toy Story 4 mantém o padrão dos antecessores, nos últimos minutos sendo equivalente, no quesito emocional, ao predecessor imediato. É difícil segurar as lágrimas diante de decisões inevitáveis, de ritos que fazem parte da existência, seja a das pessoas ou mesmo a dos brinquedos animados, dispostos a tudo para permanecer unidos. Antes, porém, Woody reencontra uma velha amiga que indiretamente lhe aponta a possibilidade de uma rotina mais subjetiva, ainda que bastante motivada pela felicidade gerada nos petizes carentes de atenção e, quiçá, de um apoio para encarar melhor as novidades. A missão de juntar novamente Garfinho e Bonnie é uma desculpa para o roteiro desenhar esse amadurecimento tardio do cowboy altruísta, por certo também egoísta e prepotente em vários instantes, características que o aproximam da humanidade. A narrativa dinâmica contém sacadas, tanto visuais quanto verbalizadas, que tornam tudo isso bastante divertido.

Os grande alívios cômicos de Toy Story 4 são o coelho e o pato de pelúcia, literalmente grudados. Betty, a pastorinha utilizada num contexto imprescindível, bem como suas colegas ovelhas, a minúscula "policial" risonha e o dublê exibicionista completam a nova turma, nem melhor, tampouco pior, mas diferente. Uma das maiores sacadas do filme é a antagonista, a boneca que credita seu esquecimento ao fato de ter a caixa de voz quebrada. Ao lado dela, os asseclas, aterrorizantes bonecos de ventríloquo que se deslocam tropegamente criando pavor. Diferentemente de Toy Story 3, em que a iminência do adeus era fomentada em cada cena, com isso criando uma sensação permanente de melancolia, nesse filme as coisas acontecem menos mediadas pela inevitabilidade num primeiro plano, mas quando o desfecho surge, comovente e absolutamente coeso com o trajeto até ali, fica evidente que a Pixar conseguiu mais uma vez, ou seja, fez, da saga Toy Story um cativante veículo para falar das fases intrínsecas ao amadurecer, inclusive aquilo que temos de deixar para trás.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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