Tragam-me a Cabeça de Carmen M.
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Felipe Bragança, Catarina Wallenstein
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Tragam-me a Cabeça de Carmen M.
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2019
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Ana, uma atriz portuguesa, mergulha na crise política e identitária brasileira atual, enquanto se prepara para viver Carmen Miranda em um misterioso longa-metragem dirigido por um vulto sem nome. Um colorido pesadelo tropical sobre o Brasil de 2018.
Crítica
Combinando realidade com ficção, Tragam-me a Cabeça de Carmen M. é o filme com o qual o diretor Felipe Bragança decidiu seguir logo após o bem-sucedido Não Devore Meu Coração (2017), longa que foi exibido, entre outros lugares, nos festivais de Berlim, na Alemanha, e de Sundance, nos Estados Unidos. A proposta, dessa vez, é menos ambiciosa, mas não desprovida de coragem. Ao lado da atriz portuguesa Catarina Wallenstein – que, além de estrelar, assina também a co-direção – ele se aventura por um terreno desprovido de amarras, porém repleto de inquietações. O resultado instiga, ainda que por vezes entregue um discurso por demais hermético, que ao invés de convidar à reflexão termina por, infelizmente, afastar o receptor.
Uma mulher está atirada no meio da rua. Morta, desmaiada ou simplesmente abandonada? A questão passa batida por alguns, que transitam ao seu lado sem nem ao menos notá-la. Outros, como não poderia deixar de ser, veem ali uma cena inusitada. Até que, enfim, alguém decide tomar uma atitude. Talvez a mais invisível das figuras é a que parte para a ação. A travesti de salto alto e pernas finas pode parecer frágil, mas tem força nos braços não só para carregar a desconhecida consigo, como também para colocá-la em seus braços e levá-la até um ambiente seguro. Uma vez no quartinho abafado da Lapa, no Rio de Janeiro, aquela estranha sem identidade pode ser tudo e nada. Ser um retrato do desejo ou uma imagem a ser refutada. Uma boneca ou uma vontade. Uma forasteira ou apenas mais uma igual a eles, uma pária, jogada na sarjeta, sem corpo nem expressão. Espaço vazio no qual o terreno pode ser fértil, mas não isento de bagagem.
Essa vem em outro tempo e espaço. A mulher é portuguesa, mas está no Brasil. E aqui tenta fazer da sua arte uma forma de mostrar seu valor. Assim como, décadas atrás, fez a pioneira que conquistou o mundo inteiro. Carmen Miranda é a referência imediata. A que cantava como se fosse do morro, a que lamentava por apontarem sua americanização, mas que ainda assim se vestia e portava de forma exótica, tal qual os gringos esperavam e aplaudiam. A estrela era motivo de orgulho e vergonha. Agora, quase um século depois, qual seriam os caminhos por onde ela transitaria? Seria apenas uma curiosidade, ou teria voz e vontade? A mulher sofre para tentar revivê-la. Não se mostra pronta para vestir essa máscara. Seja no canto, na atuação ou mesmo no íntimo da própria casa. Tem o que dizer. Mas talvez não exatamente o que os outros querem ouvir. Ou seria apenas a repetição de tudo aquilo já visto e conhecido?
Apontado como um projeto experimental, Tragam-me a Cabeça de Carmen M. não chega a ser uma incógnita. Muito pelo contrário, tem uma narrativa até simples, em que passado e presente correm em paralelo até um inevitável encontro. A leitura não é difícil, e qualquer um mais atento conseguirá decifrá-la. Mesmo assim, não é um filme para todos os públicos. Está mais próximo dos trabalhos que Bragança fez em início de carreira, como A Fuga da Mulher Gorila (2009) ou A Alegria (2010), do que o citado – e recente – Não Devore Meu Coração. Seria uma volta às origens? Sim e não. É, na verdade, uma ausência de compromisso e preocupação. Um exercício para Catarina Wallestein brincar com o próprio potencial, ao mesmo tempo em que permite aos cineastas se arriscarem por searas menos seguras. Não que esta não seja uma aposta calculada. Mas ao menos sai do lugar-comum. Algo que, é certo, não pode ser ignorado.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Cecilia Barroso | 4 |
Francisco Carbone | 5 |
MÉDIA | 5 |
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