Crítica
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Sinopse
Michael é um empresário que vê sua vida desmoronar quando sua esposa e filha são mortas depois de uma tentativa fracassada de resgate durante um sequestro. Mais tarde, ele conhece uma mulher que o deixa atormentado.
Crítica
Um homem de negócios de sucesso de Nova Orleans tem a felicidade interrompida quando a esposa e a filha são sequestradas no aniversário de dez anos de casamento. Ambas são mortas durante o resgate. Anos depois, o homem continua atormentado pela culpa até encontrar em Florença uma mulher muito parecida com a falecida. Acaso do destino ou mistério mais profundo? Com um trama tão peculiar, é fácil perceber a óbvia influência de Um Corpo Que Cai (1958), de Alfred Hitchcock, na condução deste suspense com toques de romance. Ou seria uma um drama romântico recheado de mistério? O importante é que, ao contrário do clássico do mestre do suspense, em que a sugestão era muito maior do que a trama explícita, Brian De Palma prima pelo excesso - talvez sua marca registrada. E nem por isso fica devendo ao seu cineasta inspirador.
Foram 17 anos que se passaram desde que Michael Courtland (Cliff Robertson) perdeu a esposa (Genevieve Bujold). O (re)encontro com Sandra (a mesma Bujold) na Itália pode parecer um alento, mas traz mais dúvidas do que respostas à vida deste pobre homem. E a obsessão do título começa a tomar conta de sua cabeça e das imagens propagadas pela direção quase perfeita de De Palma. Possivelmente um dos filmes mais hollywoodianos do diretor, a produção é fácil de ser compreendida e digerida pela maioria, o que não torna a história menos profunda. A intenção do roteiro parece querer ir mais a fundo não apenas na relação do "novo" casal como também em suas distintas personalidades, algo que Hitchcock havia deixado para o espectador refletir com pistas jogadas em cenários e na sua decupagem daquela trágica história de Madeleine/Judy (Kim Novak) e John Ferguson (James Stewart).
Com a trama em mãos, De Palma aproveita para reinventar a ideia de femme fatale de seu mestre, fazendo com que o espectador entenda muito bem porque Michael se perde totalmente por conta de Sandra. Não é apenas a bela aparência, o trauma do passado e a chance de recomeçar: ela pode ser como a falecida esposa, mas agrega muito mais, dotada de uma jovialidade perdido ao longo destas quase duas décadas de separação forçada pela morte e de um tom cínico que revela sua ambiguidade. Assim Robertson e Bujold, a intérprete das duas mulheres, se entregam totalmente aos seus personagens, criando um filme muito mais emotivo e emocional do que poderia se esperar do cineasta responsável por As Irmãs Diabólicas (1973).
É interessante notar que, mesmo com esta aura romântica tomando conta de boa parte da produção, De Palma não se deixa ludibriar pelo que está acontecendo em cena, ao contrário do que o espectador pode fazer. Por isso joga tudo para o alto no clímax da história, mostrando o porquê desta obra ser tão parecida e, ao mesmo tempo, tão diferente da qual foi inspirada. Um choque narrativo que eleva as "loucuras" do diretor na mais alta potência. É claro, transformando também esta em uma de suas melhores produções - ainda que uma das menos vistas de sua carreira, mesmo com altos elogios da crítica e até uma indicação ao Oscar (ainda que tenha sido de Trilha Sonora, uma das melhores de Bernard Herrmann).
Talvez um dos grandes problemas da divulgação e, consequentemente, falta de público de Trágica Obsessão tenha sido o lançamento, apenas alguns meses depois, daquele que seria um dos grandes clássicos inesquecíveis do cineasta, Carrie: A Estranha (1976). No Brasil, é ainda mais complicado encontrar uma cópia desta grande produção que ficou relegada quase ao esquecimento. Uma pena, pois aqui De Palma mostra que sabe ser muito mais profundo do que artificial, como muitos vezes é escrutinado pela crítica e outros detratores. Um espetáculo sobre necrofilia e altas doses de psicologia que pode deixar os desavisados mais confusos, mas não menos satisfeitos em conferir uma obra quase impecável em sua condução.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Matheus Bonez | 8 |
Ailton Monteiro | 9 |
Chico Fireman | 7 |
MÉDIA | 8 |
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