Crítica
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Sinopse
Uma situação dramática parou a Tailândia: um time de futebol ficou preso na caverna Tham Luang durante uma tempestade inesperada. E uma equipe multidisciplinar foi designada para praticamente promover o impossível.
Crítica
Formulada por críticos franceses nos anos 1950, a chamada Política dos Autores (que, em termos gerais, valoriza a importância artística de quem dirige os filmes) propôs concepções consolidadas quase como dogmas em alguns setores, inclusive alguns da crítica. Uma delas diz respeito à ideia restrita de autoralidade, em tese, facultada a alguém que imprime marcas íntimas em cada projeto, independentemente do tema a ser abordado. Em contraponto a esse “autor”, temos os “artesãos”, ou seja, cineastas também bem-sucedidos, mas que não foram convidados a esse panteão virtual por serem “flexíveis demais” em relação ao estilo. Estes não fazem questão de colocar etiquetas evidentes de pessoalidade nos seus trabalhos. O norte-americano Ron Howard pode ser incluído nesse rol dos artesãos, uma vez que seu estilo não se impõe sobre a matéria, mas a ela se adequa estilisticamente. Capaz de transitar com destreza pela história de personalidades factuais (Uma Mente Brilhante, 2001), bem como pelos bastidores do poder (Frost/Nixon, 2008) e da Fórmula 1 (Rush: No Limite da Emoção, 2013), além de incursionar pela saga Star Wars (Han Solo: Uma História Star Wars, 2018), ele é reconhecido por sua competência e solidez como contador de histórias. Talvez não seja um artista brilhante, mas é um exímio contador de histórias. E isso pode ser visto em Treze Vidas: O Resgate.
Ron Howard trabalha com base num acontecimento real que evadiu fronteiras e deixou o mundo apreensivo. Em 2018, 12 atletas de um time de futebol juvenil (mais o treinador) ficaram presos numa caverna tailandesa por conta de uma tempestade repentina. A isso seguiram-se dias angustiantes e intermináveis em que ninguém conseguia ao menos saber se eles estavam vivos dentro de um lugar inundado gradativamente. Portanto, temos um episódio real, carregado naturalmente de dramaticidade. Nas mãos de um cineasta menos habilidoso/cuidadoso, seria um prato cheio para aqueles dramalhões chorosos em que a adesão emocional é praticamente forçada por meio de artifícios chantagistas. Mas, felizmente não é isso o que acontece. Howard é bastante sereno ao reconstituir esse cenário, transitando com sabedoria por um número considerável de pessoas sem necessariamente eleger um protagonista. Aliás, Treze Vidas: O Resgate não é um filme de personagens, não parte da investigação dos efeitos daquilo em alguém específico e tampouco prevê mergulhos vertiginosos em perfis psicológicos/políticos/emocionais. Estamos diante de um filme de situação, no qual o privilégio é mantido nas circunstâncias. Ainda que os mergulhadores britânicos tomem a dianteira, o roteiro assinado por William Nicholson conserva a ideia de que o sucesso dependeu do esforço de muita gente.
Esse fator ecumênico rima com a religiosidade do povo tailandês. Não é como se Ron Howard acreditasse piamente nas forças ocultas adoradas pelos locais, mas tampouco ele exclui a possibilidade da ajuda divina. E isso pode ser visto na forma respeitosa como o norte-americano faz planos-detalhes estratégicos de oferendas, estátuas consagradas a ídolos e outros elementos da iconografia religiosa. O senso de comunidade é fundamental para essa tapeçaria de habilidades e iniciativas. E ela é tecida à medida que as pessoas se sensibilizam com o drama dos meninos soterrados na caverna tailandesa. Há os citados mergulhadores estrangeiros que ajudam a guiar a marinha local com sua expertise em situações específicas de resgate; o jovem que arregaça as mangas e organiza o desvio da água do topo da montanha (esforço enorme); os camponeses que aceitam perder toda a colheita se isso significar alguma chance de sobrevivência às vítimas; os líderes que seguram como podem as pressões externas; os pais e mães que oram e ficam à disposição das equipes empenhadas. Ron Howard elege o conjunto heterogêneo com o responsável pelo êxito. A solidariedade é uma força e tanto, inclusive em tempos sombrios (como o atual) repletos de figuras messiânicas de volta ao senso comum. Treze Vidas: O Resgate é um filme bem conduzido, em que a solidariedade é o real superpoder.
Treze Vidas: O Resgate poderia ser piegas, excessivamente focado em heróis e vilões, mas felizmente não é. Ron Howard combina bem as tonalidades do drama e as intercala organicamente com o suspense. Das pessoas temos apenas o básico para sustentar as suas ações decisivas, o que denota economia narrativa em meio a uma produção de tamanho e desafios consideráveis. O cineasta se mantém sóbrio como contador de história subordinado ao tema. Ele dosa habilmente as noções fundamentais (coragem, resistência, persistência, tenacidade, empatia, etc.) em condições de filmagem e produção complexas, vide situar equipe e elenco em espaços exíguos, rodar cenas longas frequentemente sob chuvas torrenciais (artificiais ou não) e, no fim das contas, evitar que tudo descambe a uma representação banal de algo previamente conhecido. Atores de destaque como Viggo Mortensen, Colin Farrell e Joel Edgerton, para citar os mais facilmente identificáveis pelo grande público, “desaparecem” em seus papeis, servindo-os e não os utilizando como veículos de puro estrelismo egoísta. E essa coesão entre atuações, linguagens visual e sonora também deve ser creditada à direção segura de Howard. Mesmo que saibamos antecipadamente do resultado positivo do plano “maluco” bolado por britânicos, nos mantemos tensos e na expectativa para ver se tudo dará certo. Essa capacidade de mobilizar a nossa credulidade é uma das forças do cinema, o dos autores ou dos talentosos artesãos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Francisco Carbone | 3 |
MÉDIA | 5 |
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