Crítica
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Sinopse
Cinebiografia do carnavalesco Joãosinho Trinta, desde sua vinda de São Luís, no Maranhão, até a glória no Carnaval do Rio de Janeiro. O início de carreira como bailarino, a ida para o Salgueiro, a estreia como carnavalesco e o reconhecimento como artista.
Crítica
Não basta ser – ou ter sido – uma grande personalidade para que se justifique o desenvolvimento de uma obra de conteúdo biográfico. Afinal, as vidas das pessoas são compostas por inúmeros momentos, e nem todos eles possuem em si o mesmo grau de interesse e relevância que um ou outro de maior destaque. E se a febre das cinebiografias no cinema nacional parece ter se tornado uma constância, é preciso aprender com os erros de títulos como o recente Não Pare na Pista (2014), que se preocupou tanto em ser abrangente que acabou por perder um foco principal. Felizmente, é exatamente o contrário que acontece em Trinta, a inspirada versão ficcional que conta a história do carnavalesco Joãosinho Trinta.
Após realizar o documentário A Raça Síntese de Joãosinho Trinta (2009), Paulo Machline se dedicou à missão de transformar essa mesma história em um projeto de ficção. O resultado é Trinta, filme que de partida sai ganhando com a escolha mais do que acertada de contar com Matheus Nachtergaele na pele no protagonista. Acostumado nos últimos tempos a marcar presença em participações quase especiais, porém aquém de seu talento, como em Sangue Azul (2014) e Febre do Rato (2011), o ator de sucessos como O Auto da Compadecida (2000) e Cidade de Deus (2002) encontra aqui uma das melhores oportunidades de toda a sua carreira, compondo o tipo mais complexo desde Amarelo Manga (2002). Há os trejeitos, a sensibilidade e a energia características de Joãosinho Trinta, mas também um lado muito próprio do intérprete, que assume o personagem para si, fazendo-o único. Está nos olhares, no manejo das mãos e no tom de voz que alterna quando necessário a certeza em recriar uma figura histórica, mas ao mesmo tempo muito particular.
Diretor do curta indicado ao Oscar Uma História de Futebol (1998) – sobre uma passagem da infância de Pelé – e do pouco visto e subestimado Natimorto (2009) – baseado no romance de Lourenço Mutarelli – Machline retoma a trajetória de Joãosinho Trinta desde o princípio, quando veio de São Luiz do Maranhão para o Rio de Janeiro, trabalhando em uma repartição pública e até os primeiros anos como bailarino do Theatro Municipal. Mas estes são, na realidade, flashes que ajudam o espectador a compreender melhor quem foi este homem, de onde veio e quais eram suas verdadeiras ambições. Isto porque a trama de Trinta se passa, de fato, durante os pouco menos de seis meses antes do Carnaval de 1975, quando Fernando Pamplona – seu mestre, amigo e carnavalesco da Escola de Samba Salgueiro – é demitido, motivando que Trinta, seu assistente, assumisse a função pela primeira vez. Com a grande maioria dos olhos contrários a sua escolha, ele precisou enfrentar praticamente tudo e todos para provar seu valor.
A contagem é regressiva e a tensão consequente com a aproximação do dia do desfile está presente em cada frame. No entanto, a segurança de Joãosinho – e do próprio Nachtergaele – contam muito a favor para o sucesso da empreitada. Milhem Cortaz, como Tião, o chefe do barracão, em uma composição surpreendente, e Paulo Tiefenthaler, como Pamplona, o antigo tutor que se revolta contra o aprendiz, são outros nomes que se destacam dentre um elenco afiado que apresenta ainda Paolla Oliveira, Fabrício Boliveira e Ernani Moraes, entre outros. E por mais que cada um tenha seu espaço e importância, é em Trinta em que se concentram todas as preocupações, fazendo com que este episódio símbolo do início de sua carreira sirva de espelho para todas as suas conquistas futuras. A escolha do diretor e roteirista por esta passagem, a despeito de qualquer outra, é mais do que apropriada e suficiente para iluminar um caminho merecedor de todo aplauso possível.
Além de qualquer talento em particular, Trinta é um conjunto que se revela superior do que a soma de suas partes individuais. Tem-se aqui um filme envolvente, que vai além do reduto dos fãs de Carnaval, comprovando que uma boa história é mesmo universal. Assim como 2 Filhos de Francisco (2005) conseguiu ultrapassar os limites da música sertaneja, Machline construiu um longa absolutamente para todos, assumindo uma jornada cem por cento brasileira para revelar o vigor e a força de vontade de um homem que, contra todos os prognósticos, marcou com uma criatividade singular seu nome entre fãs e admiradores de um modo que perdura até hoje. E que deverá seguir em alta por muito tempo, visto a qualidade superior desta obra que é mais do que uma homenagem, e sim um emocionante exemplo de vida.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Edu Fernandes | 7 |
Francisco Carbone | 4 |
MÉDIA | 6.3 |
Não deixem de ver. Filme muito bem feito. Trilha sonora deliciosa . Linda homenagem a João. Parabéns a todos os envolvidos.