Crítica
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Sinopse
Crítica
Adaptado do livro Goodbye Berlin, de Wolfgang Herrndorf, Tschick parte da abordagem das dificuldades inerentes à adolescência, principalmente a dos que não são necessariamente os populares da escola. O protagonista é Maik (Tristan Göbel), apaixonado pela menina mais bonita das redondezas, filho de uma alcoólatra constantemente internada em clínicas de reabilitação. Todavia, tal traço familiar, que poderia ser utilizado como uma questão a ser enfrentada, aqui é colocado em segundo plano, dizendo mais respeito ao cuidado com que o cineasta Fatih Akin ressalta as particularidades dos personagens. Aliás, a apresentação dessa configuração familiar, mais especificamente a ligação com a genitora geralmente sorridente, a despeito do vício pesado, se dá de maneira simples e engenhosa, durante a leitura de uma redação pela qual o garoto é ridicularizado e, ao mesmo tempo, emerge a sua impopularidade.
Tudo muda quando chega à escola o aluno russo Tschick (Anand Batbileg), jovem caladão de traços orientais, dado a carregar vodca para as aulas e andar levemente embriagado. Dois outsiders no cenário do ensino médio, logo formando uma dupla inseparável pelas estradas da Alemanha, numa aventura improvável a bordo de um Lada Niva roubado. A aproximação entre eles não é fácil, decorre mais da audácia do imigrante que necessariamente da suposta disposição do local para encontrar amigos. Mas, uma vez que esses polos se atraem, temos a constituição de uma amizade adensada aos poucos, necessariamente quando os anseios, as dúvidas e os desejos de ambos passam a convergir. Tschick é um longa-metragem empenhado em apresentar, sobretudo, a transformação de Maik, de menino introvertido a alguém capaz de segurar as rédeas da própria vida. Cabe ao inusitado amigo a missão árdua de conduzi-lo.
A fotografia ressalta o caráter solar da jornada conjunta, passada em plenas férias de verão. Tschick ganha gradativamente a nossa simpatia, exatamente assim que suas atitudes se encarregam de deixar para trás os estereótipos e as lendas disseminadas a seu respeito. Embora não se detenha especialmente numa radiografia do ambiente escolar, o cineasta Fatih Akin tangencia as temáticas que dizem respeito ao espaço de aprendizado na primeira parte do filme. O que verdadeiramente importa, porém, é a o percurso que os garotos fazem, o vínculo fortalecido na medida em que a estrada modifica Maik. Não à toa o russo omite informações relevantes acerca de sua vida, pois a função dele dentro de Tschick é propiciar as mudanças imprescindíveis ao amadurecimento do protagonista. A entrada em cena da instável Isa (Mercedes Müller) adiciona tensão sexual à viagem, já que a beleza insuspeita da menina logo chama a atenção de Maik, fazendo-o esquecer-se momentaneamente o amor colegial.
Em alguns instantes, Tschick incorre numa reiteração improdutiva, mas nada que o afete consideravelmente no geral. Há sacadas muito boas, como a música Ballade Pour Adeline, de Richard Clayderman, dando um tom curioso ao deslocamento. A estrada aberta é encarada como uma via pela qual são acessadas novas geografias, sejam elas literais ou humanas. As pessoas que os dois encontram pelo caminho apresentam outras formas de viver, de observar as vicissitudes da vida, sem que Fatih Akin demarque tanto os acréscimos. A sutileza demonstra a sensibilidade do cineasta para maturar a plausibilidade do elo estabelecido organicamente entre o menino acossado pelas demandas da adolescência e o seu fiel escudeiro, que lhe injeta coragem quando ela falta espontaneamente. Privilegiando a ternura dessa transição necessária, o filme se alinha a tantos semelhantes, mas possui charme próprio.
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