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Crítica


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Sinopse

Vlad é um dos funcionários do setor de Recursos Humanos de sua empresa. Com o fim do ano se aproximando, ele se torna o responsável por organizar a "festa da firma", uma comemoração de fim de ano para levantar o moral do quadro de funcionários, abalado profundamente por causa de uma sequência de demissões. Determinado a provar seu valor para sua ex-namorada, ele aceita o desafio. Tudo começa bem, mas as coisas acabam saindo do controle de Vlad, que terá que fazer o possível e o impossível para resolver os problemas e fazer o evento dar certo.

Crítica

É compreensível, embora não justificável, o fato da distribuidora de Tudo Acaba em Festa praticamente escondê-lo da imprensa e de boa parte do público – vide a quase inexistência de sessões para a crítica e o lançamento que dribla praças importantes. A despeito do potencial cômico inerente a algo cujo ápice é a confraternização de fim de ano numa empresa de diversos departamentos, o longa-metragem de André Pellenz é uma sucessão impressionante de equívocos. Isso, a começar pela suposta delineação de um percurso de crescimento ao protagonista, criticado recorrentemente pela falta de maturidade. Vladmir (Marcos Veras) conta a própria história (não que o tom confessional da retrospectiva faça diferença), partindo da observação de sua irresponsabilidade com horários. Tudo “muda” quando ele conhece Aline (Rosanne Mulholland), a nova funcionária da marca de cosméticos onde ele trabalha no Recursos Humanos. Num clipe, é apresentado esse celebrado e novo amor, com ares de renovação, que não demora a desandar.

Sem tempo suficiente para que o elo se assente, Tudo Acaba em Festa mostra, em desabalada carreira e superficialmente, o princípio da falta de interesse dela; a incorrigibilidade do comportamento temporão dele, inclusive no que tange ao relacionamento; as turbulências chinfrins da empresa; e a frágil concorrência do diretor boa pinta, de olho na namorada alheia. Além disso, Diogo Vilela e Malu Valle, intérpretes dos pais de Vladmir e de Leon (também vivido por Marcos Veras), o irmão gêmeo bem-sucedido que aumenta a pressão doméstica, fazem figurações de luxo em interações familiares à mesa, nas quais supostamente discutem coisas notáveis. As abordagens são absolutamente destituídas de relevância, sendo os mais gritantes sintomas do vazio prevalente. É acintosa a incapacidade do roteiro para lidar com as questões, passando por cima delas de maneira arbitrária, propondo novas, igualmente negligenciadas, e apostando na comicidade rasa e sem graça.

Tudo Acaba em Festa oferece vários esquetes consecutivos, sem urdidura consistente para torna-los parte de um todo minimamente expressivo. Depois da dinâmica constrangedora de demissão dos veteranos, da reunião não menos banal com o presidente vivido com escracho por Nelson Freitas, Vladmir é encarregado de preparar o regabofe de encerramento do ano, a fim de aumentar a moral da equipe. Prato cheio para que ele entenda a necessidade de crescer e com isso reconquiste o amor de Aline, certo? Mais ou menos. Até esse percurso convencional e previsível, por certo, acaba sendo desfigurado pela sequência desordenada de acontecimentos pretensamente jocosos. A jornada de convencimento dos setores distintos é um desfile de estereótipos mal enjambrados, utilizados no limite entre o bom e o mau gosto. O jeitinho brasileiro para resolver imbróglios é preterido, dando lugar a remendos inconsistentemente deflagrados no caminho, num filme que sequer faz rir.

Falta substância em Tudo Acaba em Festa. Além de não ter espessura, o provisório rompimento entre Vladmir e Aline perde espaço em meio a tantos erros e elementos mal costurados (dramática e tecnicamente). Rosanne Mulholland, a priori uma peça-chave, se torna outro adorno de luxo, assim como os ótimos Stepan Nercessian, Victor Leal e Aramis Trindade. Giovanna Lancellotti faz o que pode, esbanjando carisma como a estagiária interiorana cheia de energia e ideias, mas o papel lhe restringe a ser uma sidekick sem personalidade, saindo do nervosismo inicial às proatividade e influência interna, pouco orgânicas. Marcos Veras, o protagonista, faz o básico, mas também é vítima do roteiro cheio de buracos que privilegia os aspectos mais ordinários das circunstâncias em jogo. Esquecível e genérica, a produção subeproveita talentos cômicos experientes em função do encadeamento capenga de situações inofensivas, cuja argamassa é um humor raso e inócuo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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