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Crítica


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1 voto 6

Onde Assistir

Sinopse

O equilíbrio já tenso entre um casal se torna mais frágil quando um jovem artista se muda para o apartamento dele.

Crítica

A onda hipster que se apossou da cultura pop nos últimos anos trouxe muita coisa boa. De séries engraçadinhas e inteligentes à moda do retrô, inspirando inclusive filmes – entre os quais o emblema maior talvez sejam os primeiros trabalhos do diretor Xavier Dolan – os reflexos desse movimento estão entre nós. Mas, como em qualquer outra tendência passageira, referências aleatórias e atitude irônica não garantem que o produto final será esteticamente admirável ou minimamente divertido. Prova disso é Tudo Acontece em Nova York, que chegou às telas sem empolgar o público-alvo (ou a crítica).

O filme é dirigido pela dupla Ruben Amar e Lola Bessis – ela, aliás, é ainda uma das protagonistas. Estreantes na seara do longa-metragem, mas donos de uma série de curtas com certo prestígio em festivais, os diretores também assinam o roteiro ao lado de dois consultores (Brian Paccione e Kate Kirtz). A história gira em torno de Lilas (Bessis), uma jovem francesa endinheirada e filha de uma famosa artista que sonha em seguir a mesma carreira da mãe. Por motivos que a própria razão desconhece, no entanto, a garota abandona Paris e as oportunidades oferecidas para se aventurar em Nova York. Lá, acaba conhecendo e indo morar com Leeward (Dustin Guy Defa) e sua família, que inclui a pequena Rainbow (Olivia Costello). No entanto, a casa é frequentada por seus amigos como se deles fosse: a trupe dorme onde dá vontade e faz festas com instrumentos de brinquedo e leituras do livro "Give to the people" (algo como "dê ao próximo"), escrito por múltiplos autores. A ideia em si até poderia ser legal: o trailer sugeria uma comédia romântica temperada com arte e um estilo bastante alternativo.

Mas o desespero do roteiro por ser descolado chega ao caricato e transforma o longa, em mais de um momento, numa constrangedora paródia de si mesmo. A cena em que Leeward explica à filha porque ele a chama de Rainbow ("arco-íris", em português), por exemplo, começa linda: ele realiza um truque com óleo e tintas no leite em que a garota come o cereal. Até que, em seguida, o personagem avisa, quase desesperado: "não beba esse leite". A garotinha parece tão desnorteada quanto o próprio pai. Outro ponto incômodo ocorre quando se para para pensar que, por mais que Lilas não se identifique com a mãe e queira seguir seu próprio caminho, é quase burra a ideia de fugir para uma cidade estrangeira e ignorar sua ampla esfera de influência. Afinal, quer ser uma artista ou uma rebelde mimada? Como a maioria dos personagens do filme, a segunda opção parece ser a resposta.

Mary (Brooke Bloom) soa como a única pessoa na tela dotada de um mínimo de capacidade de raciocínio lógico. É a mulher de Leeward, enfermeira, que trabalha como louca para sustentar marido e filha. Apesar disso, tanto a direção quanto o roteiro se esforçam para fazer dela uma chata, uma pessoa careta e "pequeno-burguesa", preocupada com coisas "fúteis" como comprar uma casa e construir uma família estável ao invés de dançar com artistas de rua e distribuir CDs gratuitos. Curiosamente, nenhum dos outros personagens parece muito feliz com suas escolhas, que incluem, por exemplo, uma recusa leviana a trabalhar para campanhas publicitárias. A direção, que graças ao roteiro poderia ousar para reproduzir a realidade e os ideais de seus tresloucados personagens, se limita a uma estética de instagram, com uma decupagem careta e explicativa, exemplo perfeito do modelo que parece querer criticar. Mirou na nouvelle-vague e no Woody Allen e acertou num pastiche mal feito de Norman Jewison ou Robert Wise.

Num reflexo do que passa pela cabeça de seus protagonistas, nada faz muito sentido em Tudo Acontece ao Nova York. Aliás, ao contrário do sugerido pelo título nacional, não acontece quase nada. Ao fim do filme, que ensaia uma desastrada e imatura metalinguagem, fica a certeza de que se trata da maior apologia à vagabundagem improdutiva desde o nacional Cores (2012). E que filtros de Instagram, comida orgânica, roupas retrô e drinks em potes de geleia só são legais quando não servem pra disfarçar a falta de ideais por baixo do chapéu fedora.

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é jornalista, mestre em Estética, Redes e Tecnocultura e otaku de cinema. Deu um jeito de levar o audiovisual para a Comunicação Interna, sua ocupação principal, e se diverte enquanto apresenta a linguagem das telonas para o mundo corporativo. Adora tudo quanto é tipo de filme, mas nem todo tipo de diretor.
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Grade crítica

CríticoNota
Dimas Tadeu
2
Alysson Oliveira
6
MÉDIA
4

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