Crítica
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Sinopse
A história do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, hoje um dos profissionais mais célebres de seu ramo, é contada pelo ponto de vista de sua filha. Serão investigadas as opiniões incisivas do artista enquanto se debruça sobre sua obra e suas relações de afeto.
Crítica
Tudo é Projeto se junta ao filão dos documentários de filhos sobre os próprios pais. Longe, contudo, de estabelecer uma coalizão formal ou mesmo de abordagem, esse tipo de filme, bastante recorrente, sobretudo de uns tempos para cá, geralmente possui uma carga emocional intrínseca à, então, proximidade do criador com seu objeto circunstancial de estudo. Aqui, as diretoras Joana Mendes da Rocha e Patricia Rubano se propõem a produzir algo sobre o octogenário Paulo Mendes da Rocha, um dos mais importantes e renomados arquitetos do mundo. Joana, além de realizadora, é personagem do longa-metragem, não apenas por encarnar esse elo afetivo, tão importante ao resultado, mas também por se colocar constantemente na tela, ditando ao pai as questões pertinentes para que ele faça reflexões acerca de seu processo criativo e do que o move enquanto profissional dos mais requisitados.
Há um flagrante tom reverencial em Tudo é Projeto, haja vista, inclusive, a maneira como Joana deixa Paulo opinar em situações que dizem única e exclusivamente respeito à encenação. Dessa forma, com boa dose de generosidade, talvez um pouco acanhada diante da personalidade ímpar do pai, ela cede o controle da filmagem pontualmente, dando espaço à perspectiva de Paulo, que observa a cidade como se esta fosse um organismo pulsante, com regras implícitas, muitas delas determinadas pelas linhas arquitetônicas. Um dos grandes méritos do filme é justamente o tempo privilegiado concedido à riquíssima retórica de Paulo, o que o permite elucubrar livremente sobre pontos concernentes até à filosofia. Uma ideia recorrentemente defendida por ele é o da arquitetura como uma atividade humana que dá vazão a necessidades e desejos, cujo caráter discursivo é evidente a quem se dispuser a observar.
Em momentos pontuais, Tudo é Projeto se deixa levar demasiadamente pelo magnetismo da inteligência de Paulo, restringindo-se às suas ilustrações, ou explicações, do conceito por trás de algumas edificações importantes. Todavia, mesmo nesses instantes meramente informativos, o filme ainda consegue conservar o nosso interesse, exatamente porque ele advém, essencialmente, da fala de Paulo, de uma bem registrada sapiência oriunda dos anos de trabalho e de uma curiosidade quanto à multiplicidade presente na urbe. São Paulo, de certa forma, acaba se transformando num personagem ativo deste documentário afetivo. Embora esparsas, são bonitas as passagens em que Paulo, funcionando como uma espécie de mestre de cerimônias, chama a nossa atenção para lugares excepcionais, repletos de significados, em meio à selva de pedra na qual se tornou uma das maiores cidades do mundo.
Nem sempre Tudo é Projeto logra êxito nessa tentativa capital de promover interseção entre a intimidade familiar e a atividade de Paulo Mendes da Rocha. Entretanto, no mais das vezes, esse é o principal ativo deste documentário simples, mas que serve de veículo informativo e produz alguns sentidos além do que a superfície pode deixar antever inicialmente. Curiosamente, Joana, tão empenhada em deflagrar essa pessoalidade motriz, se restringe ao papel de ouvinte, permitindo-se muito ocasionalmente a assumir, de fato, um papel ativo. A câmera perscruta os resultados do ímpeto criativo de Paulo com clara admiração, espelhando imageticamente o que o comportamento de Joana denota. É claramente um filme de celebração, mas que a constrói a partir de uma ternura latente. Paulo, por sua vez, tira o viés puramente prático da arquitetura, relacionando-a com a vida e suas idiossincrasias natas.
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