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Crítica


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Sinopse

Um sujeito mal-humorado, mas boa praça, encontra uma jovem na porta da sua casa pedindo comida e moradia. Ele decide ajuda-la e, aos poucos, sentimentos começam a surgir no que parecia ser um coração de pedra.

Crítica

Para fãs de Woody Allen, nada melhor que ver seu diretor favorito no seu habitat natural. Por melhores que sejam os seus trabalhos na Europa – com destaques para Match Point (2005), Vicky Cristina Barcelona (2008) e Meia Noite em Paris (2011), o lugar do cineasta neurótico é Nova York. Felizmente, o seu reencontro com a cidade que tanto lhe é cara foi brindado com um roteiro que remete aos melhores anos cômicos do diretor. Tudo Pode Dar Certo tem um texto afiado, engraçadíssimo e com personagens que só poderiam sair da cabeça de Woody Allen. Na trama, Boris (Larry David) é um professor de física aposentado, professor de xadrez para crianças, e o homem mais inteligente do planeta. Ao menos, em sua ótica. Para ele, todas as pessoas que o cercam são insetos débeis que não sabem absolutamente nada do mundo em que vivem. Sua rotina muda completamente quando uma jovem sem teto, Melody (Evan Rachel Wood), lhe pede abrigo, implorando por ajuda. Contrariado, Boris a deixa entrar em sua vida, fato que mudará completamente não só a existência da dupla, como a de todos a sua volta.

Causou certa estranheza quando o diretor anunciou que seu primeiro filme em Nova York depois da turnê européia seria protagonizado por Larry David (do seriado Segura a Onda e um dos criadores de Seinfeld). Não por alguém duvidar do talento do ator. Mas é sabido que geralmente Woody Allen convida pessoas para interpretar seus alteregos quando sente que um intérprete mais jovem seria a escolha certa para interpretá-los. Assim fora com John Cusack em Tiros na Broadway (1994), Kenneth Branagh em Celebridades (1998), Will Ferrell em Melinda e Melinda (2004), entre tantos outros. Como apenas doze anos separam Larry David de Woody Allen, o cineasta poderia interpretar o protagonista de Tudo Pode Dar Certo sem maiores problemas. Ledo engano. David dá uma agressividade ao seu Boris que o diretor/ator nunca conseguiria transmitir. Cada frase carregada de veneno proferida por Larry David chega ao seu interlocutor como uma bomba. E isso não é algo que se aprende, é algo intrínseco à figura do co-criador de um dos melhores seriados cômicos de todos os tempos, Seinfeld.

O elenco de apoio formado por Evan Rachel Wood, Patrícia Clarkson e Ed Begley Jr. também ganham seus momentos para brilhar nesta comédia. Cada um possui uma trajetória que vai se desenrolando das formas mais variadas e imprevisíveis. Mas é correto falar que o filme é de Larry David e do personagem mais ranzinza criado por Allen. O seu figurino, completamente desleixado, sua expressão corporal, sempre a mancar, e sua aparente falta de amor pelo próximo criam uma figura curiosíssima e defendida com vivacidade por David. Sua preferência por falar diretamente ao espectador, quebrando a quarta parede e olhando para a câmera, é fonte de boas piadas, visto que o recurso parece estranho para os demais personagens. Uma ótima sacada, remetendo aos bons tempos de A Rosa Púrpura do Cairo (1985).

O roteiro traz um número enorme de diálogos inspirados e a trama parece voar como uma pluma, ao sabor dos ventos, dado a sua imprevisibilidade. A temática de Tudo Pode Dar Certo não é estranha para qualquer espectador que tenha visto, ao menos, um punhado de filmes de Woody Allen. O roteiro traz os assuntos que sempre estão na cabeça do diretor, como a morte, a sorte, o acaso e a neurose. Como novidade, é possível apontar apenas o otimismo, que parece ter invadido o roteiro. Não à toa, o título em português escolhido foi Tudo Pode Dar Certo. Depois de assistir a esta comédia divertida e charmosa, não é de se duvidar que o espectador saia acreditando na mensagem.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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