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Sinopse

Trabalhador de uma usina, Russell mora com o pai adoentado e o irmão caçula que acabou de voltar da Guerra do Iraque. Envolvido num acidente que acaba vitimando fatalmente uma criança, ele é preso e, mais tarde, ao sair da cadeia, se depara com o desaparecimento do irmão. Irado, Russell resolve fazer justiça com as próprias mãos.

Crítica

Tudo por Justiça estreou em dezembro de 2013 nos Estados Unidos, tentando aproveitar os momentos finais de elegibilidade para o Oscar. Não conseguiu ser lembrado pela Academia, mas parece chegar em um momento mais propício para o seu sucesso no Brasil. Christian Bale acabou de ser indicado ao prêmio pela atuação em outro filme, Trapaça (2013), e Woody Harrelson estrelou o elogiadíssimo seriado da HBO True Detective. E é exatamente o embate entre estes dois grandes atores que o novo trabalho do diretor e roteirista Scott Cooper se apoia.

O filme começa nos apresentando ao seu vilão. Em um drive-in, observamos o perverso Harlan DeGroat (Harrelson) quase matar um sujeito que se interpôs entre uma discussão que ele travava com sua companheira no carro. A sequência nos mostra o pavio curtíssimo de DeGroat e a instabilidade de seu comportamento. Depois, conhecemos a família Baze. O patriarca está de cama, vítima de uma séria doença. O primogênito, Russell (Bale), trabalha na usina da cidade, é responsável e tem um relacionamento feliz com Lena (Zoe Saldana). O caçula, Rodney (Casey Affleck), está pronto para ser enviado ao Afeganistão, e empilha dívidas e mais dívidas com o jogo. Em um acaso do destino, quando voltava para a casa após tentar pagar parte do débito de seu irmão para o agiota John Petty (Willem Dafoe), Russell bate num carro que aparece do nada na estrada. Esse acidente acaba matando os ocupantes do veículo, mandando Baze para a prisão.

Nos cinco anos em que passa preso, o pai de Russell morre, seu irmão volta da guerra e acumula mais dívidas e Lena parte para um novo relacionamento. Quando as coisas pareciam voltar ao normal, com Baze já fora da prisão, uma luta clandestina organizada por DeGroat conta com a participação de Rodney, que insistiu estar ali para pagar suas dívidas através do seu talento para o combate. Nisso, o caçula desaparece e Russell começa uma caçada para descobrir o que aconteceu com seu irmão. Busca essa que o colocará frente a frente com o perigoso Harlan DeGroat.

Escrito e dirigido por Scott Cooper, com a parceria de Brad Ingelsby no script, Tudo por Justiça traz novamente a trama de vingança para as telonas, uma temática surrada de tão utilizada, mas que funciona muito bem quando nos importamos com os personagens, quando o destino e os desdobramentos de suas ações soam reais. O caso de Russell, por exemplo. Ele é o clássico modelo da pessoa que tenta fazer o certo, mas sempre acaba se dando mal por causa disso.  A vida vai lhe surrando a cada nova etapa de forma impiedosa. E o que Rusell pode fazer se não baixar a cabeça e continuar trabalhando?

Seu irmão, Rodney, não vê a situação com os mesmos olhos. Ambicioso e incrivelmente impulsivo, o rapaz voltou da guerra com cicatrizes – muitas vezes utilizadas como desculpa para justificar seu comportamento, é verdade. Diferente de Russell, Rodney não quer viver uma existência trivial, ainda que nunca tenha tido oportunidades em ser extraordinário. Isso o leva à ruína, se metendo com sujeitos como DeGroat, instáveis e perigosos. Christian Bale, como sempre, entrega uma bela performance, se transformando naquele sujeito - desta vez, sem bengalas de maquiagem como em Trapaça ou perda de peso como em O Vencedor (2010). Casey Affleck, por sua vez, surpreende. O ator tem escolhido personagens desafiadores e, aqui, tem a performance da carreira - agraciada com uma indicação ao Satellite Award.

Woody Harrelson ganha o personagem menos tridimensional de Tudo por Justiça. Um homem mau por ser mau, apenas. Entendendo isso, o ator compensa esta falta de complexidade com uma atuação visceral. De olhos injetados, temperamento ruim e muita atitude, Harlan DeGroat é o tipo de sujeito que você não gostaria de encontrar. No primeiro embate verbal com Russell, muito antes de todo o inferno acontecer, DeGroat é confrontado: “Você tem um problema comigo?” Logo respondido pelo criminoso: “Eu tenho problema com todo mundo”. Com essa frase, junto do prólogo, podemos entender que aquele sujeito é o mal encarnado. E que qualquer pessoa que passar em seu caminho terá um destino terrível.

Com um elenco invejável, contando ainda com pequenas participações de Sam Shepard e Forest Whitaker, Tudo por Justiça pode não apresentar arroubos de criatividade em seu roteiro, mas como uma trama de vingança pura e simples, consegue entreter. Scott Cooper assina seu segundo longa-metragem, bastante diferente do anterior, o musical Coração Louco (2009), e se mostra um novato bastante competente. Alguém a se notar em cada nova empreitada, certamente.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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