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Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

A banda pop masculina Slavabody Disco Disco Boys, febre entre as mocinhas de todo o Brasil, anuncia que irá tocar no Rio de Janeiro. Fãs de carteirinha do grupo, as adolescentes e melhores amigas Gabi, Manu e Ritinha farão de tudo para que seus pais as deixem sair da cidade onde moram para assistir ao show do grupo.

Crítica

Baseado no livro homônimo da escritora Thalita Rebouças – que chega a fazer uma pequena participação no filme –, Tudo Por Um Pop Star fala sobre a idolatria de três adolescentes, Gabriela (Maisa Silva), Manuela (Klara Castanho) e Rita (Mel Maia), pela boy band norte-americana Slavabody Disco Disco Boys. O cineasta Bruno Garotti, que havia feito um bom trabalho ao abordar a juventude em Eu Fico Loko (2017), aqui centra sua atenção na amizade das meninas, oferecendo soluções criativas para determinadas circunstâncias, como o clipe inicial que, ao mesmo tempo, apresenta o fascínio das protagonistas por seus ídolos e demonstra a força dos laços que as unem. Aliás, o longa-metragem é construído como uma fábula adolescente, repleto de licenças poéticas ora funcionais, ora encaixadas a fórceps dentro da lógica interna, dinâmica não estritamente aferrada ao realismo. O primeiro empecilho para as tietes finalmente realizarem o sonho de conhecer os garotos famosos é convencer seus pais a deixarem-nas ir ao Rio de Janeiro para o show que eles farão por lá.

Para desatar esse nó, em particular, surge em cena Babete (Giovanna Lancellotti), jovem adulta que se identifica com a ansiedade das vizinhas por já ter sido groupie de Justin Bieber. Existe nessa coadjuvante uma dualidade curiosa, pois ela é cultora de meditação, de práticas orientais de relaxamento, adepta de conversas com plantas, mas também possui um lado acelerado. Quanto à Gabriela, Manuela e Rita, elas formam a típica trinca “amigas para sempre”, com o roteiro dando espaço suficiente para que tenhamos boas doses das personalidades de cada uma. A primeira é uma espécie de fiel da balança, oscilando entre a coragem e a prudência, fruto de um trabalho discreto, porém bastante funcional, de Maísa Silva. A segunda é a líder, aquela que arrisca mais, a articuladora dos planos da tríade. Já a terceira é a cautelosa, delas a mais pé-no-chão. Esse equilíbrio de peculiaridades faz bem ao filme, que transcorre como uma aventura meio inconsequente, mas ainda assim com bons momentos, valorizados pela ourivesaria do trabalho diretivo não refém do banal.

Tudo Por Um Pop Star possui circunstâncias complicadas, vide o momento em que as protagonistas arriscam a vida para conhecer os famosos. Não bastasse a execução trôpega, com uma utilização de recursos digitais de qualidade, no mínimo, discutível, há a incômoda ausência de um viés crítico. Acaba que a irresponsabilidade além do limite passa como outro excesso considerado natural a quem admira demasiadamente outrem. O investimento na rivalidade feminina na escola, com meninas se encaixando num espaço de vilania, desenhado abertamente, também é algo a ser questionado, especialmente na atualidade, em que conceitos como sororidade estão em voga, justamente, para quebrar vícios. Algumas peças se encaixam com muita facilidade, eventos surgem e somem sem deixar rastros, como a lorota do YouTuber vivido por Felipe Neto. Aliás, a forma de viabilizar a entrada do trio no show, por meio da viralização de um clipe fofo recheado de declarações de amor, é um dos sintomas da inclinação da narrativa ao âmbito pueril, em que a inocência estabelece as regras.

Na verdade, a trajetória acidentada das adolescentes para curtir de perto o show dos Slavabody Disco Disco Boys diz respeito à celebração da amizade das protagonistas. Na construção desse percurso claudicante, recursos como a realidade frustrando os sonhos/devaneios são úteis para impulsionar o impacto da sequência final, exatamente quando ela é contradita com noção de oportunidade. Os cantores servem apenas como um objetivo a ser alcançado, o destino que revela a importância do caminho à Gabriela, Manuela e Rita. O influenciador digital Felipe Neto interpreta uma caricatura, jovem de olho mais no poder midiático ofertado por seus milhares de seguidores que necessariamente em expressar-se de acordo com sua opinião genuína. O fato dessa figura passar longe da autocrítica é somente um dos sintoma de certa superficialidade atrelada a questões pertinentes. Tudo Por Um Pop Star é ingênuo ao ponto de mostrar estadunidenses cantando em português, por ser conveniente ao clima de celebração. Mesmo assim, tem méritos e um carisma que o sustenta.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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