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Crítica


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Sinopse

O mundo é um lugar confuso para Wendy, uma jovem que, apesar do autismo, é independente e brilhante. Wendy escreve histórias de fantasia em seu tempo livre. Quando descobre uma competição de novos autores, decide terminar seu roteiro e participar. Agora, o problema é entregar o texto em tempo. Com seu pequeno cão e apenas alguns dólares no bolso, decide corajosamente ir em busca de seu sonho, embarcando numa aventura repleta de desafios e surpresas.

Crítica

A protagonista de Tudo que Quero é Wendy (Dakota Fanning), autista que mora numa casa de acompanhamento para pacientes com algum transtorno psicológico. Mesmo longe da família, ela tem todo o suporte necessário para desenvolver suas habilidades sociais. A responsável pelo espaço é Scottie (Toni Collette), que observa suas variações de humor e, inclusive, checa a manutenção de uma rotina importante à jovem. Logo no começo do filme, aliás, temos dissecada essa programação diária que envolve desde a conferência sistemática do período menstrual ao trajeto percorrido da moradia ao emprego. É imprescindível tais passos serem seguidos à risca, exatamente a fim de que a rotina forneça tranquilidade à paciente, haja vista as particularidades de sua condição. Em meio à apresentação dessas etapas, o cineasta Ben Lewin expõe, superficialmente, alguns laços afetivos. Trabalhando numa empresa alimentícia, a fã de Star Trek desfila impressionantes conhecimentos acerca da saga espacial, da qual está escrevendo o roteiro para um concurso.

A ambientação inicial de Tudo que Quero é simplória, mas funcional do ponto de vista narrativo, apontando a caminhos relativamente conhecidos, como ao triunfo pessoal enquanto temática a ser explorada. A interação de Wendy com a irmã mais velha, Audrey (Alice Eve), todavia, dá um bom indício dos matizes utilizados no restante do longa-metragem. Parte em virtude da inapetência de sua intérprete, outra por conta do roteiro que entrelaça banalmente os personagens sem realçar seus elos afetivos, a primogênita se constitui como uma figura praticamente inexpressiva, cuja conduta é altamente questionável dramaticamente. Há uma discrepância entre Fanning e Eve, sendo a primeira relevante, pela forma como cria Wendy a partir de seu estado mental, recorrendo à dificuldade de contato visual e físico como ferramenta de verossimilhança, e a segunda totalmente inócua, até nos instantes supostamente dolorosos em que a proximidade deveria atestar a impossibilidade de convivência.

É curioso o fato de Wendy ser fanática por Star Trek. Há ali um potencial de atração entre a ficção e a realidade da protagonista. A incompetência diretiva, porém, torna as fricções baratas. A cuidadora se chama Scottie, alusão ao engenheiro-chefe da nave Enterprise, contudo não há rimas entre possíveis similaridades comportamentais que justifiquem a piscadela. Acaba, como em outros momentos, surgindo na telona como mera curiosidade. Há previsibilidade na trama, especialmente após uma discussão familiar encenada tortuosamente – e que dá margem de distanciamento entre o espectador e Audrey, pois ela age involuntariamente se isentando da caçula que lhe pede guarita. A partir do instante em que a garota resolve pegar a estrada, acompanhada apenas de seu simpático cachorro, não é difícil antever desdobramentos, apesar de determinados absurdos pelo caminho, como o acidente de trânsito, que serve, tão e somente, para adicionar o ambiente hospitalar à confusão.

Tudo que Quero penhora diversas coisas para atingir rapidamente a mensagem central. Uma delas é a lógica do deslocamento, sequer trabalhada a contento numa perspectiva psicológica, já que sair de casa é um enorme desafio para alguém praticamente dependente do estabelecimento de hábitos. Outra gratuidade é o arremedo de crise entre o Scottie e seu filho. Aliás, o ensaio da subtrama é absolutamente descartável. Voltando à Audrey e a tudo o que ela deveria representar, falta-lhe tônus e verdade. O cineasta recorre a convenções, tais como vislumbres de um passado infantil através das até então esquecidas fitas VHS, para tentar (sem sucesso) estabelecer uma ordem afetiva menos esquemática. A correlação inexpressiva (de quem, na dinâmica, seria equivalente a Kirk e Spock, por exemplo) não chega propriamente a incomodar. Nesse filme, a superação é o mais importante, nem que para isso seja preciso fazer dos problemas simples contratempos fáceis de transpor. Notável, apenas a força de vontade. Dakota Fanning, mesmo diante desse cenário todo, tem bom desempenho.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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