Crítica
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Sinopse
Jerem está em busca do ambiente ideal para compor um álbum de rap. Para isso, ele se muda para a casa de sua avó. Lá ele conhece uma vendedora extravagante que o convence a testar uma geladeira inteligente.
Crítica
O protagonista de Tudo Sobre Yves, como o título já adianta, não é Jérem (William Lebghil, o primeiro nome do elenco), e nem So (Doria Tillier, a personagem feminina de maior destaque). Nessa comédia nonsense escrita e dirigida por Benoît Forgeard, o interesse está não em uma figura humana, mas numa inanimada e artificial: uma geladeira. É este eletrodoméstico, de uma geração considerada “inteligente”, e este em particular, batizado de Yves, que está à frente dos principais acontecimentos da trama. Por mais que a piada seja válida – e mesmo curiosa – até certo ponto, ela se estende por demais da conta. O resultado é uma história boba, que vai além da crítica inicial para se tornar refém do próprio argumento que pretendia combater. Sendo assim, se revela tão fria e desinteressante quanto o aparelho que usa como ilustração.
Lebghil havia revelado desenvoltura em filmes como Primeiro Ano (2018), pelo qual foi indicado ao César como Revelação, e Assim é a Vida (2017), um projeto coral no qual ele era um dos destaques. Dessa vez, no entanto, se vê com a responsabilidade de ter que carregar praticamente sozinho um tipo não muito simpático, deixando claro não possuir carisma suficiente para tal tarefa. Como Jérem, um rapper desempregado e sem rumo na vida, que mora na casa deixada pela avó após essa ter falecido, é produto típico de uma geração que acredita ser merecedora de muito mais do que a vida tem lhe destinado, e por isso não julga ser necessário esforço para conquistar o que pensa ser seu de direito. “Uma hora a minha chance há de chegar”, afirma. Mas a matemática é clara: não há cenário possível em um futuro próximo que possa melhorar sua situação.
Quem calcula tal probabilidade e não hesita em lhe dar a real é, veja só, Yves. Sem um tostão no bolso, Jérem aceita participar como cobaia de um projeto experimental, e com isso recebe a moderna geladeira como presente. Ele está, de fato, interessado em toda a comida que acompanha a iniciativa: tudo será pago pela empresa por trás do lançamento. Para So, a executiva que o escolheu para essa iniciativa, no entanto, o foco está no experimento e em descobrir como um produto capaz de antever as necessidades do seu proprietário irá lidar diante de tamanho desafio. Não chega a ser surpresa, portanto, quando o eletrônico passa a se mostrar mais inteligente e perspicaz do que sua contraparte orgânica, desenvolvendo entre os dois uma dinâmica já muitas vezes explorada pelo cinema – e da qual se é possível antever o resultado sem maiores esforços.
Ainda que relutante num primeiro momento, logo se estabelecerá entre Jérem e Yves uma sintonia como a vista em Ela (2013), não de paixão platônica, mas de dependência. A dinâmica se incentiva quando a inteligência artificial passa a ir além das suas obrigações iniciais, se envolvendo na vida amorosa do rapaz – ao perceber que está interessado em So, não só estabelece comunicação com ela em nome dele, através de e-mails e mensagens de celular, como também passa a guiá-lo sobre como proceder a cada encontro – como também na profissional – percebendo o fracasso musical dele, será a máquina que, a partir dos versos e refrãos aleatórios, irá compor seu grande sucesso. Mesmo espantado, a nova sensação da música não pensará duas vezes em tomar os créditos para si. Porém, como o cinema de ficção científica insiste em reforçar, quando aquele que muito dá se sente traído, as vibes de HAL em 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) mais uma vez se confirmarão.
Forgeard está em seu terceiro trabalho como realizador, e mesmo que seja mais conhecido como intérprete (Além da Ilusão, 2016), não se pode afirmar que seja alguém com desenvoltura na tarefa de contar uma história. Em Tudo Sobre Yves, deixa essa falta de preparo evidente, pois não apenas se demora em demasia em conceitos que a lugar nenhum levam – como o embate jurídico que ocupa boa parte da trama em sua reta final – como também acaba cedendo com facilidade por imagens de impacto, mais pelo apelo visual do que pela função (nula) que revelam dentro de um contexto maior (como a competição musical liderada por máquinas de lavar, cafeteiras e aspiradores de pó). Sem conseguir inovar dentro de uma temática há muito explorada – a supremacia das máquinas frente à idiotia humana – ainda recai inadvertidamente em propostas ingênuas, até mesmo tolas, que pouco – ou nada – oferecem ao debate.
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