Tunga: O Esquecimento das Paixões
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Miguel De Almeida
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Tunga: Esquecimento das Paixões
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2019
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
A trajetória do escultor, desenhista e artista performático conhecido como Tunga, a partir de fragmentos de suas performances, instalações e obras. O diretor Miguel de Almeida constrói sua visão da vida e da obra do artista e de Gerardo Mello Mourão, que além de escritor, poeta, jornalista e tradutor, era também pai de Tunga, trazendo material diversificado de um dos maiores artistas plásticos contemporâneos.
Crítica
O principal dispositivo de Tunga: O Esquecimento das Paixões é justamente a arte de Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, artista conhecido pelo pseudônimo de Tunga. Longe de qualquer intenção meramente didática, o cineasta Miguel De Almeida se apropria de esculturas, desenhos, instalações e trechos de filmes a fim de construir um mosaico mais sensorial que necessariamente informativo acerca de uma trajetória celebrada internacionalmente. Para corroborar essa distância do convencional à constituição de uma espécie de doc-ensaio, os testemunhos não são identificados, tampouco se assinalam as fontes dos depoimentos sonoros que frequentemente aparecem como intrusos. O resultado é, assim, uma fricção que remonta aos procedimentos da carreira cuja homenagem está em curso. O apego ao franco diálogo cobra seus preços, fazendo do documentário um claudicante teste aos não iniciados.
Provavelmente façam bem mais sentido àqueles que têm certa familiaridade com a obra de Tunga determinadas escolhas, tais como as incessantes justaposições aparentemente aleatórias e certo caos abertamente cultivado como fundamento de uma justiça ao artista então festejado. Ainda que o percurso criado possua contornos borrados, que esse excesso de elementos, texturas, cores e vertentes cause uma hipertrofia narrativa, é louvável a fidelidade do diretor a Tunga. Entretanto, aos que não possuem subsídios prévios com relação às realizações do carioca que externava de diversas maneiras sua concepção singular de mundo, o caminho se torna relativamente hermético, acessível somente pela fisicalidade das esculturas, dos traços fortes, dos esboços e das representações – consideradas mórbidas por alguns – de uma concepção de realidade que passava, inadvertidamente, pela confusão entre a vida e a criação.
Tunga: O Esquecimento das Paixões rapidamente cai num terreno propenso a ser lido como repetitivo e cansativo, especialmente pela forma como estabelece um paradoxo entre a imobilidade e a inquietação. Embora esteja sempre em trânsito, que alterne, com celeridade, componentes e suportes a fim de construir uma imagem ampliada do legado de Tunga, o longa-metragem incorre numa estagnação formal, com recursos semelhantes se atropelando. Curioso como em poucos momentos é permitido ao protagonista expressar-se diretamente, uma vez que sua voz frequentemente é sobreposta pela da mulher que o dubla. São criadas camadas nesse discurso que, então, é oferecido ao espectador com ares de polifonia. Criatividade não falta à linguagem, mas o apego por esse arcabouço específico, feito de articulações nem sempre densas ou férteis, ameaça a integridade de uma contemplação estritamente lírica.
Em apenas um segmento Tunga: O Esquecimento das Paixões fortalece ingredientes que não os majoritariamente ligados aos feitos artísticos de Tunga. Ao falar de seu pai, o notório escritor Gerardo de Mello Mourão, o documentário ameaça debater as raízes de um ímpeto criativo único, lançando luz sobre polêmicas como a atuação paterna no seio do integralismo. Porém, essa observação acaba ganhando ares de nota de rodapé, não servindo de combustível a algo senão uma menção do ambiente doméstico que permitiu ao jovem transformar desassossegos em arte reverenciada. Felizmente descontente com as convenções, Miguel De Almeida fustiga caminhos alternativos, não logrando êxito completamente, mas, pelo menos, fugindo ao banal, eventualmente cometendo equívocos, tais como não substanciar um dinamismo narrativo, mas se arriscando.
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