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Crítica


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Sinopse

O adolescente Beto conhece Agatha numa viagem de avião, episódio que desencadeia uma série de acontecimentos inesperados. Juntos de seus amigos, eles terão de enfrentar as turbulências do amadurecimento.

Crítica

Se o título dessa comédia romântica nacional remete o espectador a um filme-catástrofe, isso não se dá por acaso. E há mais de um motivo para tanto. Primeiro, porque de fato há um outro longa com o mesmo nome lançado em 1997 e estrelado por Ray Liotta e Lauren Holly (quem?), que naufragou tão ferozmente nas bilheterias (arrecadou um quinto do seu orçamento de US$ 55 milhões) a ponto de qualquer lembrança residual hoje em dia ser meramente genérica. E também porque este Turbulência que chega agora aos cinemas é tão desprovido de atrativos que seu resultado mais parece uma viagem indigesta de avião, daquelas bem atribuladas e sem sossego, que faz o espectador (ou tripulante) torcer por um fim rápido e indolor.

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O cartaz já entrega: quatro amigos, dois rapazes e duas garotas, envolvidos em confusões amorosas. Beto (Arthur Vinciprova, também autor do roteiro e do texto da peça original na qual o filme se baseia) é um garoto despreocupado que vive na ponte aérea entre o Rio de Janeiro, onde está o pai (Eduardo Galvão), e Belo Horizonte, onde mora com a mãe (Letícia Isnard, de Mato sem Cachorro, 2013). Numa dessas idas e vindas no jatinho particular paterno, acaba oferecendo carona para a bela Ágatha (Monique Alfradique, que só havia aparecido antes na tela grande como uma das paquitas de Xuxa e os Duendes, 2001). A atração entre eles é imediata, mas acaba não se desenvolvendo – ela é tímida, ele é travado. Tempos depois, no entanto, ao visitar Claudio (Bruno Gissoni), o primo carioca, o encontra namorado com quem? Ágatha, é claro. E disposto a empurrá-lo para a melhor amiga dela, Paula (Lua Blanco, de Teus Olhos Meus, 2011).

Neste ponto forma-se um quarteto digno das produções mais convencionais do gênero. O que até não seria ruim, caso o desenvolvimento desta situação se desse de forma convincente e apaixonada. Mas não é o que se vê. Pelo contrário, essa direção logo é descartada. Beto e Ágatha se beijam na primeira oportunidade, ela descobre que Claudio a traiu com Paula e, indecisa entre os dois, decide viajar pelo mundo. Beto passa o resto dos seus dias – e meses, e anos – chorando uma virgindade que não consegue encerrar, Claudio se descobre impotente diante de qualquer outra mulher e Paula é uma ranzinza que reclama de tudo. E o que o diretor de primeira viagem Tiago Venâncio revela é um retrato de uma geração vazia, sem anseios nem ambições, que apenas reage, sem nunca parecer verdadeiramente motivada.

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A sorte de Gissoni é seu ar de galã cafajeste, suficiente para lhe garantir a fama que hoje desfruta. Pois se fosse pelos méritos artísticos, o garoto não iria longe. O tom monocórdio, no entanto, não é exclusividade dele: Alfradique é a única que parece interessada em aprofundar sua personagem, mesmo que seus diálogos e atitudes não lhe ajudem muito. Difícil, no entanto, é entender a atração dela por Vinciprova, um dos protagonistas mais insípidos já vistos no cinema brasileiro, sem graça, charme ou qualquer tipo de carisma. Se a iniciativa de se comunicar com um público mais jovem é válida, essa deveria ter no mínimo se mantido atualizada, pois falar em Orkut numa era em que até o Facebook já parece coisa dos pais destes personagens não parece ser o melhor dos caminhos. Assim, Turbulência termina sem maiores consequências e sem se fixar na memória de nenhum dos envolvidos, independente do lado da tela, deixando claro o caráter descartável da produção.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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