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Sinopse

Mônica, Cebola, Magali, Cascão e Milena percebem que as coisas estão estranhas no colégio já no primeiro dia de aula. Ao descobrir que o Museu do Limoeiro está prestes a ser leiloado, eles unirão forças para tentar salvá-lo e acabam encontrando segredos muito antigos.

Crítica

Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo é a primeira adaptação cinematográfica das histórias em quadrinhos da Turma da Mônica Jovem, o derivado infantojuvenil da criação de Maurício de Sousa. Nela, os personagens que aprendemos a amar ao longo das décadas estão iniciando o ensino médio e, como adolescentes, tendem a se ver às voltas com problemas típicos dessa fase complicada da vida. No entanto, o roteiro do longa-metragem dirigido por Mauricio Eça se esforça pouco para encarar Mônica ( Sophia Valverde ), Cebola (Xande Valois), Magali (Bianca Paiva), Cascão (Theo Salomão) e Milena (Carol Roberto) verdadeiramente como adolescentes. Uma vez que os pais deles estão quase completamente ausentes dessa aventura, descartados mesmo como figuras de referência/autoridade citadas fora de cena, há, por exemplo, poucos indícios de tensão geracional. Ninguém ali está manifestando dúvidas quanto ao futuro e nem ao menos tentando digerir as particularidades do limiar intrigante entre a infância e a vida adulta. O resultado é que os aventureiros parecem mais infantis do que deveriam. Uma coisa que diferencia os garotos e garotas da Turma da Mônica clássica que apareceram em Turma da Mônica: Laços (2019) e Turma da Mônica: Lições (2021) é que Cebola demonstra claramente ser apaixonado por Mônica, reflexo da fase em que as paixões começam a se tornar protagonistas.

A trama de Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo mostra o começo de uma nova jornada: o excitante período escolar secundário. Mônica continua sendo a garota brava de sempre, mas sua irritabilidade está aqui associada às injustiças, como ela diz: “sempre que vejo alguma injustiça acontecer, não consigo me controlar”. Cebola deixa de ser um adorável provocador para se tornar um adolescente que suspira apaixonado pelos cantos. Magali não demonstra traços da sua gula característica da versão criança, sendo aluna de uma escola de gastronomia (cujas dependências nunca vemos) que, na verdade, é uma fraternidade de feiticeiras. Já Cascão não vivencia situações que façam referência à sua clássica aversão a água. Por fim, Milena aparece como um apoio esporádico aos quatro protagonistas, não justificando estar em pé de igualdade nos materiais de divulgação do longa-metragem – a não ser por uma decisão estratégica visando a expansão do universo, já que ela está prestes a ser protagonista de uma série derivada da Turma da Mônica Jovem no streaming. Tendo em vista que os personagens fazem parte de uma realidade bem diferente daquela da turma clássica, provavelmente não os reconheceríamos sem a caracterização. Cebola cita uma vez planos infalíveis e fala errado somente uma palavra, nada mais do que isso. O diretor Maurício Eça encaixa o longa-metragem na tendência dos nossos infantojuvenis mais recentes, marcados por pessoas idealistas e uma adolescência infantilizada.

Enquanto tentam salvar o Museu do Limoeiro da agressiva especulação imobiliária (subtexto negligenciado), Mônica, Cebola, Cascão e Magali são ameaçados por uma força sobrenatural conhecida como Cabeça de Balde, entidade capaz de colocar vítimas em estado letárgico ao assimilar seus “espíritos”. Outra fragilidade do roteiro assinado por Sabrina Garcia, Rodrigo Goulart e Regina Negrini, com crédito de colaboração para Antônio Arruda, Victor Michels, Bruna Boeing e Tiago Cunha, é que as missões não são conectadas, ou seja, brigar contra a venda do museu acaba tendo pouco a ver com reagir à concretização de uma lenda urbana. Maurício Eça precisa lidar com uma história excessivamente fragmentada em pouco menos de 90 minutos, nem bem desenvolvendo a paixão de Cebola por Mônica e já tendo de oferecer uma tarefa ao grupo, além de desdobrá-la em demandas individuais que precisariam fazer sentido também conjuntamente. Mas, ele tem dificuldade, por exemplo, de costurar a saudade de Cascão de um tio que deixou enigmas para trás e o estudo de Magali para se tornar uma bruxa; ou mesmo de associar o interesse mútuo entre Mônica e Cebola com a rivalidade escolar oferecida pela candidata riquinha ao posto de presidente do grêmio estudantil. Os dilemas, os obstáculos, os problemas e as dúvidas são pouco explorados, assim soando desimportantes. E Cascão passa o filme demonstrando ter medo do Cabeça de Balde, mas esse pavor vai perdendo importância.

Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo fica muito aquém dos excelentes Turma da Mônica: Laços e Turma da Mônica: Lições, em grande parte por conta da falta de investimento na construção do contexto adolescente – a infância nos filmes anteriores é uma moldura condizente com a tradição dos quadrinhos. O longa dirigido por Maurício Eça lança diversas iscas e possibilidades, da observação da rivalidade feminina (que poderia ser mais questionada como lugar-comum a ser combatido) à necessidade de uma assembleia para salvar o prédio que guarda as histórias do bairro do Limoeiro. No entanto, o realizador hesita na hora de conferir o peso devido às coisas. Senão vejamos, o museu em perigo. Em meio a tantos aspectos encarados paralelamente, o realizador logo perde de vista que aquele prédio contém bens imateriais de valor incalculável e por isso deve ser defendido com paixão. Parece que Maurício Eça precisa negligenciar os pormenores e a representação simbólica da futura venda do prédio para cuidar do lado sobrenatural da trama e vice-versa, não priorizando nenhuma das camadas da aventura. Utilizando efeitos digitais de qualidade variável, o cineasta desenvolve uma história que não suscita o nosso interesse pelo ordinário (as questões íntimas e sociais, mundanas) e tampouco pelo extraordinário (a tal entidade do caos que coloca o futuro de todos em xeque). Uma pena

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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