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Sinopse

Floquinho, o cachorro do Cebolinha, desapareceu. O menino pensa, então, em um plano infalível para resgatar o cãozinho, mas para isso vai precisar da ajuda de seus fiéis amigos Mônica, Magali e Cascão. Juntos, eles irão enfrentar grandes desafios e viver grandes aventuras para levar o cão de volta para casa.

Crítica

Baseado na graphic novel homônima dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, por sua vez inspirada nos personagens criados por Maurício de Sousa, Turma da Mônica: Laços faz da aventura um bonito processo de descobertas e amadurecimentos. O protagonista é Cebolinha (Kevin Vechiatto), o garoto dos planos "infalíveis", cujo objetivo principal é roubar Sansão, coelho de pelúcia de Mônica (Giulia Benite), a vizinha esquentada e forte. Ele quer ser o dono da "lua". O quarteto ainda é composto de Magali (Laura Rauseo), comilona de plantão, e Cascão (Gabriel Moreira), avesso a banhos, a basicamente tudo envolvendo água. Mais que preservar, e constantemente sublinhar, as características basilares das crianças, daquilo que as torna singulares, o cineasta Daniel Rezende faz do entrelaçamento das idiossincrasias uma possibilidade de observar organicamente seus crescimentos, partindo do urgente enfrentamento das dificuldades. Há um fino equilíbrio entre a necessidade de eventualmente quebrar paradigmas e o não menos importante respeito aos limites de cada um dos jovens intrépidos. Assim, não são enaltecidos apenas aqueles que lutam, mas também os que entendem os outros.

Turma da Mônica: Laços tem visual super colorido, com uma bem-vinda estilização cinquentista no pacato bairro do Limoeiro. Essa estética fornece os pilares imagéticos a uma trama que transcorre pontuando a importância da amizade em detrimento das diferenças. Os tais laços, que na floresta concomitantemente são literais e metafóricos, se provam essenciais para que a turminha encontre o desaparecido cão Floquinho. Existe a preservação da pureza das crianças que adentram corajosamente num território interditado em busca do amigo peludo sob a custódia de uma figura misteriosa. Todavia, a ingenuidade delas vai até determinado ponto, não sendo extrapolada e, portanto, caracterizando a infância sem com isso fazer das figuras bobas ou inverossímeis. A mata fechada pode ser entendida como um limiar entre a meninice e o que inevitavelmente a sobrevém, como ressaltado no encerramento marcado pela ciência dos amores, vide as trocas de olhares e os acanhamentos. Há ótimas brincadeiras com a origem cartunesca, tais como os quatro descalços no pós-queda.

Os atores principais se encaixam como luvas nos personagens de Maurício de Sousa. Daniel Rezende lança mão dos traços individuais com parcimônia, integrando-os naturalmente na investigação. A aversão de Cascão por água, por exemplo, gera momentos engraçados, como a resolução do dilema frente ao vazamento que poderia atrapalhar a missão, mas também serve a observações ternas, como o cuidado que os demais têm por ele, algo materializado no atraso da caminhada a fim de encontrar uma ponte que evite a travessia molhada do rio. Mônica, a brigona, é muito bem transposta à telona, sendo vital para isso a impressionante semelhança física de Giulia Benite com a equivalente do papel. Ela é cativante ao mostrar-se irritada e ao desarmar-se. A trilha sonora é outro elemento a ser louvado em Turma da Mônica: Laços, por substanciar a atmosfera prevalente no filme e tornar alguns instantes especialmente emocionantes, como o entrelaçar de mãos durante o sono. O cineasta demonstra doses generosas de sensibilidade ao fazer os apontamentos com candura.

Daniel Rezende, que já havia demonstrado grandes qualidades como diretor à frente de Bingo: O Rei das Manhãs (2017), faz desse seu segundo longa-metragem uma preciosa homenagem à imaginação de Maurício de Sousa e, ao mesmo tempo, resgata uma infância com sabor nostálgico de passado, um período atravessado por questões atemporais, aqui sem a mediação de dispositivos eletrônicos ou de algo que os valha. Essa jornada analógica é feita de compreensões e doçuras, como a tocante cena de Cebolinha diante da amiga que lhe transmite tristeza, não por meio da agressividade, mas parada, com os olhos repletos de lágrimas e o semblante carregado de um pesar sentido. Para o menino, o cão perdido é uma parte indissociável de si, assim como Mônica, Magali e Cascão, pelo qual, portanto, vale à pena correr riscos e enfrentar até o desconhecido. Além disso, o Louco (Rodrigo Santoro, excepcional no papel) o ensina como é “chato ser normal”. O protagonista, então, entende que as distinções não separam, sendo, pelo contrário, complementares e gregárias. Os planos nem sempre são exitosos, mas os elos que ligam os quatro são realmente infalíveis.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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