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Sinopse

Traumatizada após um encontro devastador com um tornado que custou a vida de alguns dos seus melhores amigos, uma ex-caçadora de tempestades é convencida a voltar à ação para testar um novo sistema revolucionário de rastreamento. Lá, cruza seu caminho com Tyler Owens, o ícone das redes sociais que se diverte postando suas aventuras de caça a tempestades com sua equipe.

Crítica

Nem uma sequência, muito menos uma refilmagem. Twisters é, na realidade, uma “atualização” de Twister (1996), longa lançado há quase três décadas e que trazia consigo nomes de respeito nos créditos: Steven Spielberg na produção, Michael Crichton (autor de Jurassic Park, o livro no qual o filme se baseia) como roteirista e Helen Hunt, recém-vencedora do Oscar, à frente do elenco. O resultado foi impressionante: arrecadou nas bilheterias quase cinco vezes o valor investido no seu orçamento e recebeu duas indicações ao prêmio da Academia por sua qualidade técnica (Som e Efeitos Visuais). Mesmo assim, uma continuação, por mais que tivesse sido cogitada exaustivamente, nunca se tornou realidade. Ao menos até agora. Se após tanto tempo ligar os personagens de um filme a outro não parecia mais fazer sentido, que tal simplesmente dar a eles uma nova roupagem, mantendo seus dramas, mas modernizando os interesses? Pois é o que acontece nessa produção dirigida por Lee Isaac Chung a partir do roteiro de Mark L. Smith (O Regresso, 2015) e Joseph Kosinski. Eis, portanto, um produto que segue uma fórmula de sucesso à risca, e é tão bem sucedido nesse propósito que é quase impossível se desapontar com o que apresenta no final.

Importante se ater a alguns destes nomes. Chung foi indicado ao Oscar por Minari: Em Busca da Felicidade (2020), um drama sobre uma família de imigrantes tentando novas oportunidades em um país que lhe é estranho. Kosinski, por sua vez, também já teve um título por ele assinado na disputa pela estatueta dourada, justamente a aventura Top Gun: Maverick (2022). Um pouco de cada uma destas abordagens pode ser percebida em Twisters. Daisy Edgar-Jones aparece como Kate Cooper, uma meteorologista especializada em perseguir tornados. Após passar por uma situação traumática que custou a vida do namorado e de alguns dos seus melhores amigos, decide se reinventar enquanto profissional, se mantendo mais na segurança proporcionada por uma tela de computador do que atuando em campo, literalmente sujeita às chuvas e trovoadas. Ou seja, apenas nesse prólogo o espectador é abastecido com informações suficientes sobre aquela com quem se importar: trata-se de alguém de capacidade excepcional, mas machucada por experiências anteriores. Voltar à ativa, portanto, é mais do que uma questão de tempo, mas de convencimento.

O argumento necessário lhe é apresentado por Javi (Anthony Ramos), que ressurge em sua vida depois de cinco anos afastados. Ele também está num novo momento, e apoiado por patrocinadores, afirma ter agrupado a equipe ideal não apenas para seguir perseguindo ciclones, mas com os equipamentos necessários para estudá-los e a partir destas informações aprender tanto como evitá-los, mas quando isso não for possível, deles também se defender. Ao mesmo tempo, ela é apresentada a um grupo de concorrentes exibicionistas, aventureiros sem aprofundamento teórico que se arriscam diante dos fenômenos climáticos em busca de seguidores para seus vídeos no youtube e da fama (e ganhos) que tal exposição pode lhes proporcionar. São dois lados de uma mesma moeda, e a maneira como o trama se encarrega de colocá-los como opostos é tão maniqueísta que chega a ser fácil antever que tal distância não irá se manter por muito tempo: os mocinhos não são tão inocentes, assim como os vilões podem ser mais altruístas do que se poderia imaginar.

Entre esse jogo de opostos, há de se destacar a boa química que se estabelece desde o primeiro contato entre Kate e Tyler Owens, o líder dos ‘caçadores de tornados’. Defendido por Glen Powell, um astro em ascensão e eficiente no que se propõe, Tyler é o típico lobo em pele de cordeiro – ou o oposto, na verdade. Aos poucos sua exuberância e gestos galanteadores darão espaço a alguém preocupado com o que estão fazendo, e não apenas em busca por novos cliques e aplausos virtuais. O entrosamento entre eles será truncado, em parte devido ao compromisso que ela sente possuir com o antigo amigo. Mas eis que um debate mais contemporâneo se faz presente: as consequências provocadas pelos drásticos eventos naturais e a necessidade de se estar preparado para essa realidade cada vez mais urgente. Javi e associados não querem apenas se precaver em nome de um mundo melhor, mas também aproveitar uma potencial desvalorização imobiliária após cada devastação provocada pela natureza. A mocinha repleta de ideais até então intocáveis percebe, enfim, que a ética que envolve esse tipo de exercício é mais maleável – e elástica – do que havia pensado, e o seu poder de transformação é não apenas limitado, mas também guiado por aqueles que, de fato, são capazes de fazer diferença.

Muito tem se comentado nos últimos tempos sobre a necessidade de se evitar clichês e uma ânsia constante por originalidade, como se fosse possível reinventar a roda a cada novo filme. Twisters, pelo contrário, abre mão desse esforço ao mesmo tempo em que se mostra seguro em seguir com competência os passos por muitos já trilhados, mas nem sempre executados com a devida habilidade que tal percurso exige. As sequências de ação prendem a atenção, os personagens são bem construídos e os protagonistas são carismáticos o bastante para justificar uma torcida por seus destinos. E quando o desfecho se dá em um contexto de referências que irá provocar um sorriso de rosto aberto em qualquer cinéfilo (o maior perigo se dá quando o único lugar que aqueles em perigo encontram para se refugiar é dentro de uma sala de cinema, que inexplicavelmente não se abala com as intempéries lá de fora – mesmo com pedaços do teto despencando sem aviso – e segue com uma projeção de Frankenstein, 1931, bem no trecho da tempestade que irá acordar o monstro, em um paralelo com o homem que, enfim, conseguirá conter a ameaça) o sentimento de satisfação se confirma de modo quase inevitável. Previsível, sim. Mas efetivo naquilo que promete. Por vezes, a chuva anunciada que se confirma pode ser mais gratificante do que um dia ensolarado que ninguém esperava.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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