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Crítica


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15 votos 7.4

Onde Assistir

Sinopse

Rio de Janeiro, 1983. Marisa amamenta o pequeno Alessandro, em sua casa, na favela. Viciada em drogas, assiste impotente seu filho ser retirado de suas mãos pelo chefe do tráfico local, devido à uma dívida não paga. Dez anos depois Sandro, filho único, vê sua mãe ser morta por dois ladrões. Ele se torna de rua, e testemunha mais uma tragédia, a chacina da Candelária, na qual 8 meninos de rua foram mortos pela polícia. Este evento aproxima Sandro e Alessandro, que acabam envolvidos no sequestro do ônibus 174.

Crítica

Última Parada 174 está longe de ser um filme ruim. O problema é que não está perto, também, de ser bom. Ou seja, é um trabalho medíocre, que fica no meio do caminho, frustrando expectativas e idealizações. Inspirado na história real do seqüestro ao ônibus 174 no Rio de Janeiro – trama que já tinha rendido um excelente documentário, Ônibus 174 (2002), de José Padilha – o filme ficcional ganha um verniz melodramático que, na tentativa de procurar uma identificação com o público, termina por afastá-lo ainda mais por despertar sentimentos contrários. O que se tem, portanto, é um filme covarde.

A família Barreto – os produtores Luiz Carlos e Lucy e os filhos deles, os diretores Fábio e Bruno – já foram considerados “reis” do Cinema Nacional. São responsáveis por obras emblemáticas da nossa cinematografia, como Terra em Transe (1967), Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), Bye Bye Brasil (1979), O Quatrilho (1995) e O Que é isso, Companheiro? (1997), entre outros. Só que ficaram perdidos no tempo, não souberam se adaptar. E enquanto surgiam novos talentos, como Fernando Meirelles (Cidade de Deus, 2002), Walter Salles (Central do Brasil, 1998) e o próprio Padilha, os Barreto passaram a assinar longas problemáticos, como Bela Donna (1998) e A Paixão de Jacobina (2002), por exemplo. E este Última Parada 174 é uma tentativa desesperada de atualização, porém sem se desligar de antigas manias. Se não, vejamos. O roteirista chamado é o premiado Bráulio Mantovani, indicado ao Oscar pelo citado Cidade de Deus. E assim como ocorreu nestes filmes, a maioria do elenco é não-profissional, recrutado e treinado nas próprias comunidades carentes onde a ação se passa. Como produtor está Daniel Filho, que levou às telas praticamente todos os grandes lançamentos nacionais recentes. Ou seja, tinha tudo para dar certo. Só que não deu.

Quem for assistir a Última Parada 174 estará atrás de que? Do que aconteceu naquele ônibus, de quem eram as pessoas envolvidas e dos por quês por trás daquilo tudo. Bem, isso é justamente o que o filme não trás. Bruno e Bráulio preferiram se concentrar na triste história do protagonista da tragédia, o garoto Sandro do Nascimento (Michel Gomes), menino de rua órfão e de temperamento instável que é levado a um ato de loucura após repetidos abalos emocionais. A trajetória dele, aqui na ficção, é confundida com a de outro rapaz, de nome similar – Alessandro (Marcello Melo Jr.), mas conhecido como “Alê Monstro” – que é separado da figura materna ainda bebê e cresce com a pior das influências, já que foi criado pelo dono do tráfico no morro. Paralelo a tudo isso há ainda a mãe (Cris Vianna) deste, que passa a vida atrás do filho, e termina confundindo um pelo outro, e acolhendo Sandro – quando, na verdade, estava atrás era de Monstro.

Ou seja, uma história que poderia ter como cenário um contexto social muito mais forte e relevante acaba se contentando com a simples denúncia, com reviravoltas de novela e desencontros de folhetim. Os clichês transbordam, e quando finalmente chegamos ao que interessa – o ônibus, que surge após quase 2 horas de projeção – tudo passa tão rápido e anti-climático que não acreditamos que possa ter recebido um tratamento tão banal. Falta de tato do roteirista, em explorar melhor uma situação que merecia um olhar mais aprofundado, mas principalmente erro do diretor, que não soube dedicar a importância que o momento merecia dentro do seu longa.

Escolhido para representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar 2009 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, Última Parada 174 foi selecionado para o Festival de Toronto e exibido na sessão de abertura do Festival do Rio. Feitos alcançados mais pela ainda força que os Barreto possuem no meio do que pelos méritos da obra em si. Este episódio é um belo reflexo do caso social e urbano em que vivemos, mas resultou na tela em algo óbvio, cansativo e redundante. Melhor para todos se tivesse ficado apenas no documentário.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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