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Sinopse

Precisando pagar uma dívida pendente com o chede da máfia, um professor de artes acaba cometendo um ato de desespero. Ele sequestra Kennedy, a filha de um jogador, querendo uma fiança em troca da liberdade da menina.

Crítica

Batizar um filme de ação com o título Últimas Consequências não é lá uma escolha que possa se considerar criativa. No entanto, o nome que o primeiro longa-metragem do norte-americano Terrell Lamont recebeu no Brasil combina não apenas com seu roteiro, mas também com os erros que ele possui. O filme não é nem um pouco inovador em sua trama, pois trata de mais um protagonista que chega ao limite para conseguir colocar as contas em dia, o que inclui um grupo de mafiosos entre os cobradores. Doug Shaw (Joshua Ray) é professor de arte, mas se vê obrigado a trabalhar como mecânico para provar à esposa que pode ter o que ela considera um “trabalho de verdade”. Infeliz no lado profissional e não enxergando futuro em sua carreira como pintor, ele acaba pegando dinheiro emprestado com a máfia e, para completar a bola de neve de problemas, resolve sequestrar Kennedy (Kennedy Waite), filha de um famoso e milionário jogador de beisebol. Dívidas, envolvimento entre vítima e sequestrador, um homem bom apelando ao crime. Sim, você já viu isso em algum lugar. Em vários, na verdade.

Últimas Consequências começa muito bem, com ângulos de câmera que fogem ao comum, ora assumindo o ponto de vista de Doug, ora o de Kennedy e, em alguns momentos, proporcionando ao espectador a sensação de também estar presente na cena. A fotografia azulada faz referência às cores utilizadas por Doug em seus quadros e também funciona como símbolo de sua sensibilidade, que encontra-se abalada pela crise familiar que a falta de dinheiro causou. Os primeiros quarenta minutos de filme são extremamente bem dirigidos, incluindo os atores, que conseguem manter o clima de tensão sem precisar exagerar na interpretação. Nesse ponto, o público já comprou a ideia do longa e encontra-se envolvido tanto na tragédia de Doug como nas escolhas que ele faz para tentar sair dela. O equilíbrio que Lamont atinge, intercalando bons diálogos com cenas de ação bastante realistas, injeta um fôlego que faz os amantes do cinema de ação ter a sensação de estarem diante de uma produção que remete aos bons tempos do gênero, como a década de 70 e 80. Mas uma sequência surge para quebrar o encanto.

Não será necessário um spoiler, pois quem assistir à Últimas Consequências irá descobrir que sequência é essa, com facilidade. Um corpo estranho dentro de uma história que, até então, tinha uma boa dose de verossimilhança e certo talento em sua condução. Talvez por não ter saída ou uma explicação mais plausível aos acontecimentos que ocorrem do meio para o fim do filme, Lamont, que também assina o roteiro, opta por seguir o caminho mais fácil e render-se aos clichês que não deram as caras no início. Logo nos vemos diante de mais um exemplar de ação que, nos anos de ouro das locadoras, abarrotavam as prateleiras. Mais do mesmo, com o detalhes, neste caso, de causar uma decepção extra, já que tudo dava a entender que não teríamos uma película comum diante de nossos olhos.

A trilha sonora apelativa, que dá as caras justamente quando as cenas se tornam um convite à emoção barata, ajuda a piorar a situação. Coincidência ou não, as atuações de Joshua Ray e Kennedy Waite também sofrem uma queda, beirando o estilo novela mexicana. Causar medo, emoção e reflexão num mesmo roteiro é um trabalho árduo, mas que Últimas Consequências poderia ter executado de forma mais digna, caso não houvesse a preocupação de agradar a todos e, em nome dessa ilusão, deixar-se levar pelo trivial ao invés de apostar no inovador. É uma pena, pois é esse pensamento que ajuda a manter entre alguns espectadores o preconceito contra o cinema de ação contemporâneo.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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