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Crítica


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Sinopse

Crianças de escolas públicas do Rio de Janeiro conversam com Eduardo Coutinho sobre diversos assuntos.

Crítica

O ser humano é biologicamente programado para encontrar padrões. No caso do documentário Últimas Conversas, é impossível não relacionar algumas cenas com a trágica morte do cineasta Eduardo Coutinho.

O filme é formado por entrevistas com jovens da periferia carioca, mas a obra foi realizada por um Coutinho em crise, que não sabia aonde chegaria com o material colhido. Isso fica evidenciado na abertura do longa, com um conversa entre o diretor e sua equipe, na qual o realizador mostra sua frustração com o trabalho atual. Nesse ponto o cinéfilo terá sensação semelhante àquela experimentada quando se encontra indícios trágicos nas letras das músicas do último álbum gravado pela banda Os Paralamas do Sucesso antes do acidente aéreo que vitimou a esposa de Hebert Vianna – eis os padrões! Esse presságio é tão forte que emociona os fãs de Eduardo Coutinho.

Últimas Conversas é emotivo em si, mas os acontecimentos além-filme são os que mais comovem. Ao olhar friamente para a obra recente do documentarista, percebe-se que As Canções (2011) é mais emocionante, mas o derradeiro trabalho traz uma carga dramática mais pesada exatamente por ser o canto do cisne. Coutinho morreu antes de concluir a montagem do longa e o trabalho foi assumido pelo colega de profissão João Moreira Salles, que respeitou o estilo do mestre. Últimas Conversas deixa o jovem falar de sua vivência, seus valores, suas relações interpessoais e seus sonhos. Os pontos de encontros e desencontros nos discursos perfilados apresentam a universalidade e a singularidade de cada personagem.

O mais importante trunfo do filme como peça social é o fato de dar voz ao jovem da periferia. Apesar desse extrato social ser protagonista de muitos de nossos filmes de ficção, eles têm pouca chance de ter suas vozes ouvidas diretamente – nesse caso, há uma mediação mínima de Coutinho, claro. Assim, o longa oferece uma oportunidade para a classe média (o público corriqueiro do cinema) entrar em contato com uma parcela da população que, apesar de majoritária numericamente, é praticamente invisível, muda ou fantasiada no cinema brasileiro.

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é formado em Audiovisual pela ECA/USP. Escreve para os sites BRCine e SaraivaConteúdo, além de colaborar para a revista Preview. Participa do programa Quadro a Quadro na TV Geração Z e de videoposts do canal Tateia. Tem experiência em sites (UOL Cinema, Cineclick e GQ), revistas (SET, Movie e Rolling Stone) e televisão (programas Revista da Cidade e Manhã Gazeta).
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