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Sinopse

A banda Ultraje a Rigor invadiu os rádios e TVs na década de 1980. No fim da Ditadura Militar, o grupo estava por toda parte no dia a dia dos brasileiros. É assim que começa a trajetória destes músicos, suas carreiras e vidas pessoais, especialmente o líder, Roger.

Crítica

A trajetória do Ultraje a Rigor é satisfatoriamente delineada em Ultraje, documentário dirigido por Marc Dourdin. Estabelecendo um percurso retilineamente cronológico, o realizador consegue dar conta da carreira de uma das bandas de rock mais famosas dos anos 80, cuja sonoridade estridente e as letras irreverentes levaram Roger Moreira e companhia ao topo das paradas de sucesso. O primeiro ponto positivo da viagem pelas fases do grupo é o vasto material de arquivo a serviço de uma exumação direta, embalada por hits como Inútil, Rebelde Sem Causa, Ciúme, Eu Me Amo, Pelado, Marylou e Nós Vamos Invadir sua Praia. A menção dos títulos seria suficiente à rememoração dessas canções-chiclete que ecoaram pelos quatro cantos do país. Mas, todas são urdidas na trama com a finalidade de pontuar etapas do êxito popular que foi arrefecendo com o tempo, numa demonstração de que a onda, bem como o mercado do rock nacional, estava em derrocada.

Entremeando as falas dos diversos integrantes com registros fotográficos e audiovisuais, Ultraje começa delineando a cena paulista que fomentou o surgimento do Ultraje A Rigor. Nesse espaço de discussão da gênese, a abordagem é particularmente feliz por abrir o escopo a um fenômeno maior, esquadrinhando outros partícipes e agentes, como Ira, Titãs e um sem número de demais jovens dispostos a fazer um som diferente. Essa contextualização confere uma base sólida à compreensão do estrondo que a bem-vinda insolência de Roger e dos companheiros causou nas estruturas fonográficas do país. Depoimentos de executivos de gravadoras, como Liminha, substanciam esse viés amplo. Embora as falas sejam apresentadas no modelo “cabeças falantes”, o que é compensado visualmente pelas inserções gráficas que visam estimular o âmbito imagético, há boa dinâmica nessa progressão sem solavancos que comporta certas menções a controvérsias.

Os episódios aludidos servem para assinalar passagens importantes, sobretudo da metade do filme em diante, quando são encarados os anos conturbados pela ojeriza de Roger a viagens de avião e sua pouca disposição a ficar longe do papagaio de estimação, atitudes que acabaram respingando negativamente nos colegas. Embora Marc Dourdin não fuja às polêmicas, há pouca atenção às suas causas e efeitos. Por exemplo, as rápidas inserções da esposa de Roger, ela que revela o início do namoro de ambos, parecem funcionar apenas como pré-comentários, maliciosos se atrelados à vida sexualmente ativa da banda na estrada. Como para bom entendedor meia palavra basta, não é necessário, de acordo com a ótica do realizador, encarar a infidelidade do vocalista, mas, tampouco, esconde-se o fato. Há, ao mesmo tempo, disposição de informar, mas sem coragem de assumir posicionamento ou justificar a opção por ele. A gratuidade advém da falta de jeito ao citar.

Ultraje é um filme quadrado, preso a uma fórmula bastante utilizada em documentários biográficos, mas a destreza no encadeamento dos componentes garante o bom resultado. Gradativamente, especialmente quando não há um cenário roqueiro para sustentar a pegada vasta, o longa-metragem fica restrito ao estabelecimento do caminho que trouxe o Ultraje a Rigor aos dias atuais, com a banda sendo atração fixa do The Noite, programa de Danilo Gentili. Roger Moreira, inclusive, defende esse espaço, refutando teses de que tocar diariamente na televisão, sem um lugar privilegiado de protagonismo, seja sinônimo evidente de decadência. Em meio a fragilidades e reiterações, Marc Dourdin captura o espírito transgressor do conjunto, flutuando entre tantas formações para confirmar a incapacidade de desassociar o vocalista da marca que vendeu milhares de cópias nos anos dourados do rock tupiniquim fazendo barulho e eventualmente incomodando.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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