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Sinopse

Desde pequeno, Alex sempre sonhou em ser rico sem precisar trabalhar. Quando jovem, se torna gigolô e conquista o coração de uma mulher idosa. Mais de vinte anos depois, leva uma vida luxuosa com a esposa, até ser trocado por um rapaz mais novo. Sem casa para morar, nem aptidão para qualquer forma de trabalho, acaba batendo à porta da irmã mais nova e do sobrinho pequeno. Relutantes a princípio, aceitam acolher o tio, transformando a vida de todos.

Crítica

Julgando pela narração descritiva, pelas imagens multicoloridas e pela trilha sonora de aventura, Um Amante Francês se inscreve desde o princípio na linhagem da fábula, ou talvez seja melhor dizer, da farsa. A ideia é subverter códigos de gênero, aplicando o inverso do esperado em famílias tradicionais: desta vez, é o homem que vive às custas da esposa rica, precisando manter a boa forma física para agradá-la. Kad Merad interpreta Alex, um gigolô preguiçoso que prefere viver junto de uma mulher que não ama para ter uma vida de luxo. A irmã dele, uma jovem viúva, conserta a porta do inquilino tímido que não sabe como conquistá-la. O sobrinho pequeno de Alex busca maneiras de se aproximar da garota por quem está apaixonado na escola.

O caminho do roteiro é claro: ele trata de aparar as arestas dos personagens exagerados e fazer com que se encontrem num meio-termo. O homem vaidoso e egoísta aprenderá a ser mais humano, enquanto os parentes comportados demais descobrirão os prazeres de alguma rebeldia moderada. Defende-se os valores da união, da amizade, da fidelidade. Ironicamente, esta cartilha módica é aplicada a um humor nada sutil, marcado por piadas sobre fezes adultas em vasos sanitários infantis, pessoas babando enquanto dormem e técnicas de branqueamento anal. O fator mais curioso deste humor é o fato de se conduzir como se fosse subversivo, enquanto retorna a um imaginário escatológico infantil, em paralelo com a imagem de relacionamentos amorosos castos e assexuados.

Piadas à parte, Um Amante Francês limita-se a reproduzir, cena por cena, o roteiro de Como Se Tornar um Conquistador (2017), sucesso mexicano estrelado por Eugenio Derbez. Em ambos os casos, o filme depende do talento de seu protagonista, em chaves diferentes: enquanto Derbez prefere o humor físico mais caricato, Merad explora muito bem o olhar cansado e a expressão apática diante de algum conflito absurdo. O ator francês sabe como explorar estas piadas, colaborando com um diretor com quem vem estabelecendo uma parceria há décadas: Olivier Baroux, conhecido por alguns dos maiores sucessos populares do cinema francês recente. O diretor possui a boa ideia de equilibrar o personagem afetado do protagonista com outros menos expansivos (Pascal Elbé, Thierry Lhermitte) ou com figuras dotadas de uma comicidade distinta, clownesca (Lionel Abelanski, Guy Lecluyse).

De resto, o filme apela para um valor de produção que se tornou comum nas produções populares: apartamentos com forte impressão de cenário, utilização exagerada de locações reais até se aproximarem da aparência de cenário (as mansões e os carros de luxo, filmados com amplos zooms), cortes um pouco desleixados, justificados pela impressão de inconsequência atribuída à comédia, e trilha sonora redundante, dizendo quando rir ou quando se emocionar. Não se trata de uma direção sutil, nem particularmente inventiva, que busque extrair o melhor do ritmo ou das locações. Deposita-se toda a confiança nos atores e no texto, relegando ao diretor a tarefa de registrá-lo em cena. Por este aspecto, existe um aspecto teatral na encenação diante de tantos acessórios claramente artificiais.

Ao menos, Baroux busca brincar com esta artificialidade, escancarada de modo a parodiar o senso estético kitsch da nova burguesia. O discurso está longe de uma defesa das classes populares ou de qualquer articulação política de ordem progressista, porém consegue enxergar o mundo dos privilegiados como algo grosseiro e cafona – ainda que não necessariamente indesejável. Partindo de representações extremas da riqueza e da pobreza, dos homens e das mulheres, trata de colocar cada um em seu lugar, retomando a ordem ao final, o que talvez escancare o fundo conservador da comédia maliciosa. A refilmagem francesa também serve a comprovar que estes estereótipos sociais atravessam fronteiras, servindo tanto a parodiar a cultura latina/mexicana quanto os valores europeus. Afinal, sendo a comédia um gênero de difícil exportação para outros países, apenas as representações mais universais – e também mais idealizadas – são aquelas que de fato conseguem se traduzir em partes tão diferentes do globo.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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