Crítica
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Sinopse
George é um ex-jogador de futebol que, na tentativa de se aproximar do filho, passa a treinar a equipe juvenil na qual o menino joga, ao mesmo tempo em que tenta reconquistar a ex-esposa. Só que não consegue se manter afastado das mães dos colegas de seu filho, que vivem dando em cima dele.
Crítica
A crítica norte-americana consegue ser implacável injustamente às vezes. Tanto que Um Bom Partido (péssimo título brasileiro para Playing for Keeps, algo como Jogando com Tudo) foi execrado antes de seu lançamento, no final de 2012, o que lhe acabou rendendo apenas 4% na nota do Rotten Tomatoes (website que calcula índices de aprovação e rejeição de filmes) e uma bilheteria muito abaixo de seu orçamento de 35 milhões de dólares. A pergunta que fica é: o longa é tão ruim assim? Pode não ser nenhuma maravilha e apresentar diversas falhas, mas com certeza está longe de ser uma das piores produções dos últimos tempos. Talvez seja um problema com diretores estrangeiros, pois, por exemplo, Curvas da Vida (2012), estrelado por Clint Eastwood, segue a mesma linha narrativa e usa subterfúgios ainda piores, mas no mesmo site encontra-se com “meia-aprovação” de 51%. Com “os deles” não se mexe? Vá entender.
Talvez um dos principais problemas do filme dirigido pelo Gabriele Muccino seja o fato de ter sido vendido como uma simples comédia romântica, quando, na verdade, trata-se muito mais de uma “dramédia” sobre George, um ex-jogador de futebol escocês (Gerard Butler) que, após ter se aposentado e perdido todo seu dinheiro, decide morar nos EUA para reconquistar o amor da ex-esposa, Stacie (Jessica Biel), e do pequeno Lewis (Noah Lomax). O antigo craque consegue uma vaga como técnico do esporte na escola de seu filho enquanto tenta, também, virar comentarista esportivo na televisão. Basicamente está mais para um filme familiar e sensível (mesmo que muitas vezes caia nos clichês do gênero) e que tem a tônica de O Último Beijo (2001), excelente filme do italiano realizador também do bom À Procura da Felicidade (2006) e do interessante Sete Vidas (2008).
Gerard Butler tenta e consegue, mais uma vez, sair de seu estereótipo de machão de filmes de ação para encarnar este homem que chutou tanto na trave durante seu auge que agora precisa fazer muitos gols para consertar o passado. O personagem, que poderia cair no simples clichê, consegue ser humanizado pelo ator, que consegue mesclar uma essência loser ao papel ao mesmo tempo em que finge não dar bola para o que acontece ao seu redor. Combinado a isso, ele ainda é capaz de seduzir fora e dentro da tela de uma forma natural. No roteiro original, seu personagem jogava beisebol. Ainda bem que mudaram para um esporte mais popular e que, definitivamente, parece ser o campo de seu intérprete. Atente também que Butler é um ótimo jogador realmente e realiza bons truques com a bola.
Houve comentários exagerados sobre como “as mães” do filme (no caso, Judy Greer, Uma Thurman e Catherine Zeta-Jones) se jogam para cima do ex-jogador durante e fora dos treinos do time escolar. Porém, o próprio personagem explica apenas com as atitudes o porquê de ser tão sedutor: ele é bonitão, simples, sem neuroses e ainda tem jeito com as crianças. Talvez a composição, especialmente das personagens de Judy e Uma, caia um pouco no clichê das “mulheres carentes”, mas isto serve apenas como muleta do protagonista, e não como traço definidor de sua personalidade. Se elas estão tão carentes assim é por conta das situações em que se encontram: uma é recém separada e não tem com quem conversar; a outra é casada com um milionário (Dennis Quaid, divertido e irritante na mesma medida em sua caricatura) que é possessivo, mas vive lhe traindo. Unidimensionais? Pode ser, mas não tão fora da realidade.
O que move a história de verdade são os dramas mais íntimos do personagem principal e suas sucessivas tentativas de retomar a relação com o filho e com Stacie. A condução do roteiro e da direção neste aspecto é feita de forma lenta e gradual, deixando perceptível e crível o que vai acontecer até o final – previsivelmente, é claro, mas não de forma negativa. Com isso sobra espaço não apenas para Butler, porém também para Jessica Biel (injustamente indicada ao Framboesa de Ouro por esse papel) compor genuinamente sua personagem, uma mulher que ainda ama o ex-marido, mas por medo de se decepcionar novamente, está na dúvida em sair da zona de conforto que criou ao lado de outro homem. Uma personagem interessante e que tem sua personalidade desnudada durante o desenrolar do filme.
Sendo assim, com tantas comédias românticas e dramas sem profundidade sendo jogados a esmo nos cinemas a toda hora, este filme ainda consegue se sobressair por ter um elenco principal talentoso, um roteiro ok e a sempre segura direção de seu realizador. Muccino pode estar um pouco longe da qualidade de outros de seus trabalhos recentes como Beije-me Outra Vez (2010) ou das suas produções já citadas, mas mostra que sua sensibilidade na hora de contar histórias, clichês ou não, permanece intacta, sem cair no choro ou no riso fácil. Um Bom Partido não vai mudar a vida de ninguém e pode até ser esquecido no dia seguinte, mas deve, ao menos, deixar o público sair com um sorriso no final da sessão. E, às vezes, é só isso que o espectador quer.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Matheus Bonez | 6 |
Francisco Carbone | 3 |
Thomas Boeira | 3 |
MÉDIA | 4 |
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