float(48) float(15) float(3.2)

Crítica


3

Leitores


15 votos 6.4

Onde Assistir

Sinopse

Um ricaço tem ameaçado o seu estilo de vida. A fim de convencer uma fazendeira a lhe vender suas terras antes do Natal, ele se apresenta como um humilde ajudante de fazenda.

Crítica

Há muito poucos brindes, e menos ainda sobre Papai Noel, em Um Brinde ao Natal. Isso não impediu que o filme, ao ser lançado pela Netflix, se tornasse a produção mais assistida na plataforma em todo o mundo. Tamanho sucesso, portanto, pode ser explicado pela necessidade que muitas pessoas demonstram em transitarem por ambientes e cenários há muito conhecidos, o que pode lhes gerar uma sensação de tranquilidade e segurança. Ou seja, enquanto alguns querem se emocionar e experimentar sensações não conhecidas, uma imensa maioria expressa justamente o contrário, esse anseio por se manter em zonas de conforto bem estabelecidas. Exatamente o que se encontra por aqui.

Dirigido por Shaun Piccinino, profissional com longa carreira como dublê, intérprete e realizador de produções que nunca antes haviam alcançado tamanha dimensão, Um Brinde ao Natal também representa o encontro nas telas do casal Josh e Lauren Swickard – ela, aliás, aparece tanto na frente como atrás das câmeras, pois é responsável ainda pelo roteiro do longa. A fórmula, que em nenhum momento se arrisca além de horizontes estabelecidos, parece ter funcionado de acordo com o esperado. Tanto é que o trio já ‘cometeu’ mais um filme junto: Roped (2020), lançado quase que simultaneamente. Em ambos, os enredos se assemelham, pois tratam de histórias no interior, com a dupla central agindo como estranhos que, após se encontrarem, terminam por se apaixonar um pelo outro. O que não seria grande problema, não fosse um ‘pequeno’ detalhe: os dois até podem funcionar na vida real, mas, na ficção, a relação que estabelecem soa forçada e desprovida de uma química capaz de provocar reações também no lado de cá da telinha.

Isso porque Josh e Lauren são absurdamente lindos, mas praticamente desprovidos de talento dramático. A impressão que se tem na maior parte do tempo é de se estar diante de uma Barbie e um Ken que fingem atravessar dificuldades, situações essas que o espectador percebe de antemão serem apenas circunstanciais, uma vez que o final feliz é tão óbvio quanto esperado. Plasticamente deslumbrantes, são tão vazios que desfilam em cena fazendo uso das mesmas expressões para as mais diversas ocasiões, seja resultado de uma pressão externa ou um sentimento não conhecido. Independente do que lhes ocorre, tudo acaba sendo resolvido com um sorriso repleto de dentes brilhantes, um menear dos cabelos reluzentes ou um desfile de roupas apertadas – isso quando as estão vestindo. Como se envolver com algo tão artificial? Esse parece ser o maior mistério.

Josh Swickard, que já foi modelo internacional, ao menos se aventura diante de um personagem que lhe é familiar: um playboy que nunca trabalhou duro na vida. Quando a mãe milionária lhe dá a missão de convencer uma fazendeira (Lauren, a trabalhadora do campo que está sempre de maquiagem bem feita e figurinos impecáveis) repleta de dívidas a lhes vender as terras da família, ao invés de uma abordagem direta ele prefere fingir ser um ajudante recém-chegado para, assim que conquistar sua confiança, induzi-la a aceitar a proposta e, com o dinheiro que lhe está sendo oferecido, colocar a vida em ordem. Quantas vezes esse mesmo argumento já foi visto, alterando apenas um porém ou outro?

Um clichê só pode ser assim considerado porque, em algum momento, foi usado com sucesso. O problema, portanto, não está no recurso, mas quando se recorre a ele em excesso. Tal qual se observa durante as quase duas horas de Um Brinde ao Natal. Do disfarce que será desmascarado na hora certa à mudança de perspectiva justamente quando aquela por quem está apaixonado resolve lhe virar o rosto, ao vilão intrometido que irá se apressar em estragar o plano dos outros quando nada indica que isso poderá lhe representar qualquer ganho, chega-se até a solução de última hora – o vinhedo que mal é mencionado mas acaba servindo de salvação da lavoura – e uma mera questão temporal – todo esse imbróglio transcorre, afinal, dias antes do final do ano e das comemorações natalinas (que se darão depois do que é visto na trama, e não durante). Enfim, absolutamente nada surpreendente, a não ser o fato de ter conquistado uma audiência que deixa claro não ter altos níveis de exigência.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *