Crítica
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Sinopse
Manuela é uma pessoa de personalidade forte, mas que parece constantemente tensa. Léo é um pediatra carismático que cai de amores por ela repentinamente. Esses opostos se atraem e começam uma relação oscilante de amor.
Crítica
Um Casal Inseparável se insere no conhecido filão das comédias românticas sobre opostos/improváveis que se atraem. Léo (Marcos Veras) é um pediatra certinho e sensato, enquanto Manuela (Nathalia Dill) é a impulsiva que não mede palavras para demonstrar contrariedade. Eles teriam poucos motivos para ficar juntos, pois parecem habitar planetas incompatíveis. Porém, o chavão dita que é justamente por conta das diferenças que os dois funcionam como casal. No entanto, curiosamente, suas personalidades dissonantes pouco importam no andamento do longa dirigido por Sérgio Goldenberg. O fato do homem ser sereno e da mulher ser geniosa não é explorado, por exemplo, para defender a ideia de que a soma das diferenças é mais produtiva do que a multiplicação das semelhanças. Nem a rotina compartilhada é articulada tendo em vista os encaixes cotidianos de concepções divergentes. Tais oposições servem somente para desequilibrar o jogo do amor a partir de representações carregadas de estereótipos frequentemente atrelados ao feminino, principalmente o da irritação/nervosismo predominante quando as mulheres não estão num relacionamento. Muito do que acontece ou deixa de acontecer é resultado do comportamento de Manuela. Léo se restringe a reagir, no mais das vezes sendo visto como rapaz de ouro, daqueles que toda sogra deseja ter como genro.
Marcos Veras e Nathalia Dill desempenham com eficiência os papeis que lhe cabem. O ator transita entre a ternura – enfatizada na atenção aos pacientes – e algumas boas sacadas que fazem valer o seu talento cômico. Já a atriz incorpora a intensidade de sua personagem, conseguindo mantê-la crível e marcada por certas características. O grande calcanhar de Aquiles de Um Casal Inseparável é a concepção dessas figuras e, sobretudo, a forma como elas respondem a acontecimentos e oscilações amorosas. Os roteiristas Sérgio Goldenberg, George Moura e Laura Rissin colocam nas costas de Manuela um peso excessivo. Primeiro, a fazem ser o elo de temperamento forte, conhecida até entre os guardadores de carro como brava e de trato difícil. Segundo, a idealizam como alguém propensa a tomar atitudes impulsivas (do tipo decidir o futuro do namorado sem esperar que ele pondere o melhor para a sua carreira). Terceiro, a pintam como uma pessoa quase incapaz de compreender e escutar o namorado – a julgar pela reação depois da ausência no jantar da família e, adiante, pela decisão ocasionada por um ciúme que supostamente a “autoriza” a invadir privacidades. Já Léo apenas expressa interesse por uma colega, faz meia dúzia de comentários sobre isso, mas em nenhum momento sugere que colocaria o relacionamento em risco. Há uma assimetria entre esses dois.
Outro elemento que compromete a adesão e a identificação com Um Casal Inseparável é a praticamente onipresença da trilha sonora. Nas comédias brasileiras recentes, sobretudo nas orientadas por projeções de bons desempenhos comerciais, parece ter se transformado numa obrigatoriedade a ilustração incessante das cenas com canções conhecidas ou interlúdios genéricos. Mesmo nos instantes de transição, como quando alguém vai ao supermercado ou está se deslocando à praia, surge uma baladinha como moldura. Praticamente não há silêncios no filme. As cenas são quase completamente pontuadas por essa lógica repetitiva. Podemos supor que a fonte disso é uma preocupação com a atenção do espectador, especialmente quando não há falas. O cineasta Sérgio Goldenberg aparentemente não tem confiança de que a composição das imagens e a encenação sustentem o interesse da plateia. Por isso, insere vinhetas sonoras como estratégia para "manter o dinamismo", mesmo que a música seja dispensável para o desenvolvimento da trama ou à revelação de algum aspecto dos personagens. Em meio a esses ruídos que enfraquecem o filme, inclusive como inofensiva reprodução de convenções sobre desventuras amorosas, há figuras que emprestam seus talentos para tornar tudo menos genérico. Vide Stepan Nercessian e Totia Meireles, responsáveis por bons alívios cômicos.
Outro ponto curioso sobre Um Casal Inseparável é o cenário. De uns anos para cá, a produção audiovisual brasileira notadamente comercial acumulou retratos da classe média que frequenta as salas de cinema, estes ambientes vedados às classes populares. Os protagonistas do filme moram/trabalham/convivem numa área nobre zona sul do Rio de Janeiro. Não tendo problemas financeiros, eles são representações de um universo social habitado por quem ainda tem poder aquisitivo para pegar um cineminha de vez em quando. Dentro desse contexto, os impeditivos para o relacionamento de Léo e Manuela são simples e puramente íntimos. E, novamente, depende bem mais dela do que dele para as coisas voltarem aos eixos. Na seara do desequilíbrio em meio à reprodução de velhas convenções sobre os papeis/comportamentos masculinos e femininos – por mais que a comunicação entre as naturezas ativa dela e passiva dele sinalize justamente o contrário –, a sogra vivida por Totia Meireles chega a ser inconveniente e alheia às vontades dos outros, enquanto o marido vivido por Stepan Nercessian é um sujeito do tipo pacato/respeitador/reativo. E isso fica claro no mal súbito (uma finge doença para conseguir o que deseja, enquanto o outro realmente passa mal). O acúmulo dessas concepções desgastadas, num percurso cheio de cartas marcadas, é grande parte responsável pelo gosto de comida requentada que a comédia romântica oferece ao nosso paladar cansado dos mesmos temperos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 4 |
Alysson Oliveira | 4 |
Lucas Salgado | 3 |
Francisco Carbone | 4 |
Robledo Milani | 5 |
MÉDIA | 4 |
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