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Sinopse

A fim de ajudar a família a sair de um sufoco financeiro e também de proporcionar à sua mãe a tão sonhada viagem a Buenos Aires, Pedro Paulo utiliza o seu amado Opala 1970 para começar a trabalhar como motorista de aplicativo.  

Crítica

Responsável por lançar diversas novas estrelas no cinema nacional, como Paulo Gustavo e Fábio Porchat, o stand up comedy é uma arte individual. Essa manifestação artística é bem distinta do cinema que, habitualmente, é feito por várias mãos. Esse choque está presente em Um Dia Cinco Estrelas, filme com o cômico Estevam Nabote. Debutando como protagonista de longas, o ator parece ainda estar se adaptando à roteirização de terceiros.

No enredo, comandado pelo incansável Hsu Chien, Nabote é Pedro Paulo, um cara despreocupado que ama a família tanto quanto seu carro: um Opala dos anos 1970 apelidado de "Mozão", única recordação do pai falecido. Sustentado pela mãe, Dona Nilda (Nany People), e pela esposa, Manuela (Aline Campos), o “dono de casa” não é o melhor exemplo de perseverança para a filha, ainda criança. A situação que o tira da zona de conforto é uma reforma inesperada que o lar necessita. Para tanto, Nilda precisa sacrificar uma poupança destinada à viagem dos sonhos para Buenos Aires, onde pretendia curtir tudo que a capital portenha fosse capaz de lhe oferecer, como dançar tango. Compassivo com o aborrecimento da genitora, Pedro começa a atuar como motorista de aplicativo com o "Mozão", mesmo que isso signifique transportar desconhecidos que podem estragar o automóvel.

E assim, sem muitos rodeios, a trama começa a construir uma espécie de road movie intra-urbano. Serão diversos os personagens que passarão pelo banco do veículo-estrela, promovendo situações inusitadas. O objetivo é claro: encaixar oportunidades para que Nabote use frases de efeito e incorpore gags (humor transmitido, na maioria das vezes, sem uso de palavras) ao longo da jornada. E, como de costume em apostas humorísticas regulares, algumas funcionam, mas outros não. De todo modo, é um caminho a percorrer, mesmo que isso signifique assentar espaços de respiro descompassados e arriscar alto em sequências engraçadas. Esse desalinho pode estar na relação entre Estevam e Hsu, que não encontraram a melhor forma de combinar improviso e ensaio, a partir do trabalho dos roteiristas Ricky Hiraoka (Os Parças, 2017) e Cris Wersom, escritora estreante - que chega a realizar uma ponta no elenco. Embora, é preciso dizer, alguns outros projetos do realizador, como Quem Vai Ficar com Mário? (2021) e Me Tira da Mira (2022), apresentem inconstâncias semelhantes.

A premissa inicial, do homem descompromissado e de bom coração, é o que provavelmente mais prejudica a narrativa. O texto, invariavelmente, é anacrônico. Não há problema em Pedro Paulo estar na casa dos 30 e tantos, ser irresponsável e infantil. O inconveniente está no filme o encarar como um vencedor no decorrer das aventuras. Na conclusão, inclusive, mãos são passadas pela cabeça e o passado - que já deveria ter sido visto e revisto por ele mesmo - é ignorado, no mesmo ritmo em que vontades são feitas e trapalhadas desculpadas. Vale relacionar a história com o hollywoodiano O Paizão (1999), por exemplo, produção que também força bajulação com alguém que procurou deveres que não estava apto para conduzir. A título de estudo, o contrário é capaz de ser conferido de forma menos confusa no também norte-americano Juntos pelo Acaso (2010) e no brasileiro Um Tio Quase Perfeito (2017), que possuem adultos angariando funções que não buscaram e acumulando cenários adversos mais verossímeis.

Contudo, há coadjuvantes destacados na obra. Para além de Nany People, sempre arrojada na feitura da comédia instintiva, Ed Gama incorpora um divertido músico que promove algumas das melhores cenas. E falando em papéis de apoio, como muito já fez Nabote em outros trabalhos, como A Primeira Tentação de Cristo (2019) e No Gogó do Paulinho (2020), nos resta aguardar a próxima empreitada do artista como figura principal. Mas no futuro, dotado de atribuições mais arejadas e que possibilitem uma melhor exposição de suas qualidades. Talvez um amparo, pois como como diz o ditado norte-americano: “It takes two to tango” (“São precisos dois para dançar o tango”).

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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