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Sinopse

Casados há 30 anos, Kay e Arnold decidem fazer uma semana de terapia intensiva com um especialista em casais. Enquanto tentam reaquecer a paixão, acabam se redescobrindo.

Crítica

Um Divã para Dois conta uma história não muito diferente de muitos casamentos que já vimos por aí. Kay (Meryl Streep) tem andado triste por perceber que seu matrimônio de mais de 30 anos com Arnold (Tommy Lee Jones) chegou a um ponto insuportável. Não são brigas ou infidelidade que fazem a mulher chegar a esta conclusão. É a falta de intimidade. A ausência de comunicação. O sumiço do companheirismo. Para resolver a questão, Kay decide por colocar seu relacionamento em um tratamento de choque. Ou seja, contratar os serviços do terapeuta de casais Dr. Feld (Steve Carell) para ajuda-los neste difícil momento. Mas será fácil convencer Arnold de que ambos precisam de auxílio?

Com roteiro de Vanessa Taylor e direção de David Frankel, que já havia trabalhado com Streep em O Diabo Veste Prada (2006), Um Divã para Dois é um terno e sensível longa-metragem sobre o afastamento de um casal que, a partir de dado momento, desaprendeu a se amar. Dormindo em quartos separados e se comunicando de forma econômica, Kay e Arnold são o retrato de muitos casais de longa data, que são soterrados pela rotina, pela acomodação, pela falta da novidade. Com um elenco com dois nomes fortes como Meryl Streep e Tommy Lee Jones o encabeçando, é um tanto óbvio afirmar que as atuações são o principal chamariz de Um Divã para Dois. Streep é uma atriz que errou muito pouco em sua carreira e, aqui, mostra mais uma vez não temer envelhecer em frente aos nossos olhos. A atriz, inclusive, está se especializando em amaciar homens durões. Em 1995, estrelou o elogiado romance As Pontes de Madison (1995), fazendo par com Clint Eastwood em um raro momento suave da carreira do eterno Dirty Harry. Agora, Streep tem um desafio tão grande quanto ao contracenar com Tommy Lee Jones, um ator conhecido por sua rabugice e pelos papeis que exigem sua indefectível expressão cansada e fechada.

Não chega a ser surpresa uma boa performance de Tommy Lee Jones. O que pode deixar o espectador pasmo é o personagem diferente que o ator defende. Ainda que seja rabugento e nada polido, características normais em papeis de Jones, Arnold quer realmente fazer com que seu casamento funcione, mostrando um lado mais emotivo e sensível. Completamente avesso à ideia do aconselhamento de início, logo percebe que se não fizer algo a respeito poderá perder sua esposa para sempre. Suas tentativas podem não surtir efeito de início, mas são levadas em consideração por Kay que, obviamente, fica feliz em notar algumas mudanças no comportamento do marido. São de Jones as melhores piadas do filme, mesmo que tenhamos a presença de Steve Carell no elenco, aqui bastante contido, trabalhando na mesma levada de seus papéis em Amor a Toda Prova (2011), Pequena Miss Sunshine (2008) e Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada (2008). David Frankel é bastante óbvio ao mostrar o afastamento de Kay e Arnold, seja pelo grande espaço vago entre os dois no sofá onde sentam, seja pela distância com a qual os dois caminham lado a lado, seja pelo fato de dormirem em quartos separados. Ainda que mostre-se flagrante a necessidade de transmitir esta separação, o cineasta é hábil em manter o interesse do espectador pela história do casal. Sabendo incluir uma piada aqui e outra acolá, sem nunca perder o foco do drama de ambos, Frankel faz um filme bastante humano, apresentando um relacionamento que poderia ser observado em qualquer lugar.

Não fazendo com que Kay e Arnold resolvam seu problema de forma artificial ou rápida, o cineasta dá tempo ao tempo para os personagens tomarem forma e encontrarem saídas para sua situação. Dito isso, Um Divã para Dois pode ser um bom título para recomendar a casais com os mesmos sintomas de incomunicabilidade. Se não for tarde demais para ambos, o filme pode servir como espelho, apontando o problema e sugerindo uma solução a dois. Não existem soluções milagrosas, mas ver sua situação na telona pode ser um bem-vindo despertador.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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