Crítica
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Sinopse
Olivia é levada pelos amigos para um retiro na floresta depois de quase morrer. Deprimida pela morte do noivo num acidente de carro, ela teria tentado suicídio, embora afirme que na verdade foi atacada por alguém. Mas no lugar do idílio campestre mora um homem estranho.
Crítica
No cinema, são relativamente comuns as histórias de personagens traumatizados procurando algum tipo de recuperação emocional longe das metrópoles, sobretudo ao se embrenharem em florestas. Um deles é Anticristo (2009), no qual o casal enlutado se isola numa cabana distante do lar manchado pela morte precoce do filho. Mas os exemplos são inúmeros, o que torna esse tipo de situação um tropo narrativo frequente e comum. Nesse tipo de trama, geralmente o idílio campestre não passa de uma promessa vazia de tranquilidade que, na verdade, se mostra uma reentrada no inferno a partir de outra porta. É como se a “cura” viesse apenas depois de mais sofrimento. Em Um Estranho no Bosque, a protagonista é Olivia (Holly Kenney), mulher atormentada pela recente morte do noivo em um acidente de carro. Para tentar afastá-la dos pensamentos negativos que há pouco a levaram à possível tentativa de suicídio, quatro amigos a arrastam ao retiro curativo no bosque. Quando toda a galera, incluindo a colega de quarto e seu namorado, o pretendente esperançoso e seu melhor amigo desde a infância, chega ao local, se depara com o anfitrião locador para lá de estranho. Diante de Clayton (Teddy Spencer) parece que pisca em letras garrafais a palavra “PERIGO”. Das duas uma: ou o cineasta Adam Newacheck está deixando claro com quem os forasteiros devem se preocupar ou está desviando a atenção.
Um Estranho no Bosque vai se mostrando aquém da tensão que a sua premissa sugere. Isso porque falta a ele desenvolver melhor os personagens, as ressalvas, as relações que mediam previamente as convivências, bem como a elaboração da atmosfera de apreensão, que nunca se consolida como deveria. Olivia está evidentemente entorpecida pela tristeza, mas o filme não sabe se atribui isso diretamente à morte do noivo em circunstâncias trágicas ou ao ataque que afirma ter sofrido em casa. Vemos em flashback que antes de tirar essa folga entre amigos na floresta ela foi encontrada com os pulsos cortados, deitada numa banheira se esvaindo em sangue ao lado de um bilhete de suicídio. No entanto, Olivia alega que não escreveu a despedida e tampouco atentou contra a própria vida, o que deveria criar uma tensão entre a sua percepção e a dos demais. Porém, o roteiro assinado por Holly Kenney, primeiro, não atribui pesos distintos ao luto e a angústia da protagonista por não ser ouvida e acreditada, e, segundo, desperdiça as oportunidades para colocar em xeque a capacidade de Olivia de discernir entre a realidade e a fuga psíquica. Em nenhum momento da trama ficamos realmente em dúvida sobre o fato de Olivia estar ou não delirando por conta do sofrimento ou algo semelhante. Então, diálogos superficiais sobre isso, como os dela com a colega de quarto, nem chegam a fazer muito sentido.
Agora, é preciso falar do vilão anunciado. Clayton é excessivamente tipificado como hillbilly – termo pejorativo que se refere aos nativos de regiões rurais/montanhosas dos Estados Unidos. Com claras dificuldades de sociabilidade, ele fala barbaridades como se estivesse proferindo opiniões casuais, mora numa cabana repleta de animais empalhados, logo tendo um jeitão de interiorano fundamentalista capaz de trucidar forasteiros. Adam Newacheck faz questão de escancarar esse suposto perigo, inclusive ao colocar na boca do personagem falas como “adoro matar” ou ainda “essa floresta é perigosa a animais domésticos”, olhando para Olivia enquanto pretensamente fala do cachorro que ela trouxe da cidade. Voltamos às alternativas: esse vilão é caricatural ou serve como distração. De todo modo, Um Estranho no Bosque não consegue trabalhar bem como essa dúvida, atropelando acontecimentos e enfileirando indícios sem um senso consistente de construção dramática. O descontrole emocional da protagonista é mal formulado, sendo feito de atitudes pontuais e pouco comuns atreladas a um semblante sempre carregado do sofrimento insuficientemente expressado pela atriz. Os amigos coadjuvantes vão perdendo (a pouca) importância ao longo do enredo que tenta imprimir uma noção permanente de perigo, mas acaba falhando como suspense e não indo melhor quando envereda pelo terror.
Com frequência, à palavra “surpreendente” é atribuída uma noção necessariamente positiva. Como se qualquer surpresa fosse algo boa – um carro de telemensagens constrangedoras pode ser um imprevisto muito desconfortável, por exemplo. Então, dizer que o terço final de Um Estranho no Bosque é surpreendente não significa qualquer elogio. Isso porque ao fazer uma enxurrada de revelações inusitadas, Adam Newacheck está praticamente se desfazendo das informações escondidas como se descartasse uma bagagem indesejada, atirando tudo abruptamente pela janela e contando com a estupefação do espectador. O cineasta não se preocupa em correlacionar as novidades à reação estarrecida de Olivia, apenas em jogar tudo na cara da protagonista angustiada e ver o que sobra depois de um ataque brusco. Enquanto é novamente desacreditada (sem haver nenhum reforço dramático nisso), ela se vê praticamente sozinha lutando contra um inimigo improvável, restrita ao papel de alvo inocente que precisa escapar do imponderável para sobreviver. Nesse desfecho tão imprevisível quanto anticlimático, o culpado vai andando e explicando motivações, iluminando as obscuridades da trama, atuando como agente esclarecedor. Como os personagens são mal formulados, o realizador dificulta bastante a missão do espectador de se conectar emocionalmente com os sofredores da floresta.
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