Crítica
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Sinopse
Famosos realizadores e adoradores de cinema são abordados por Walter Carvalho com a pergunta: por que você faz cinema e para quê serve ele?
Crítica
Escolhido para a sessão de abertura do 48° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Um Filme de Cinema é uma consequência natural ao desenrolar da obra cinematográfica de Walter Carvalho, um dos profissionais mais conceituados do atual cinema brasileiro. Ele iniciou sua trajetória primeiro como diretor de fotografia, ainda no início dos anos 1970, em títulos como Boi de Prata (1973) e Antonio Conselheiro e a Guerra dos Pelados (1977). Começou a chamar atenção ao se envolver em obras de renome, como Sargento Getúlio (1983) e Com Licença Eu Vou à Luta (186), até a consagração em títulos como Central do Brasil (1998) e Lavoura Arcaica (2001). Ainda que tenha se aventurado como roteirista e até como ator, foi pela proximidade com estes realizadores que decidiu também ele dirigir seus próprios trabalhos, estabelecendo parcerias com João Jardim (Janela da Alma, 2001) e Sandra Werneck (Cazuza: O Tempo não Para, 2004), para depois se arriscar sozinho em longas como Budapeste (2009). Tudo que ouviu, aprendeu e exercitou durante essa jornada está agora exposto na tela deste curioso e pertinente documentário.
A decisão de fazer Um Filme de Cinema começou muito tempo atrás, em uma trajetória que levou mais de uma década. Durante as quase duas horas de projeção, vemos Walter Carvalho se aproximar não apenas de diretores com quem dividiu o mesmo set – um como realizador, e ele como fotógrafo – mas também daqueles a quem admira o estilo e técnica de filmar. Seu interesse? Saber o que significa o cinema para estes profissionais. Mas não apenas em termos gerais, como se dá no início de cada conversa, mas também indo além, passando por questões extremamente técnicas – qual a função de um plano? como se decide o momento da edição? – mas também por outras mais empíricas, como de onde vem suas motivações e a quem procuram atingir a cada novo trabalho finalizado.
Dessa forma, acompanhamos longas entrevistas com nomes como Hector Babenco (nos sets de Carandiru, 2003), Ruy Guerra (durante as filmagens de O Veneno da Madrugada, 2005), Julio Bressane (com quem trabalhou em Filme de Amor, 2003, Cleópatra, 2007, A Erva do Rato, 2008, e Educação Sentimental, 2013) e Karim Ainouz (parceiro em Madame Satã, 2002, e O Céu de Suely, 2006). Mas há outros, como o húngaro Béla Tarr, o norte-americano Gus Van Sant, a argentina Lucrecia Martel, o chinês Jia Zhang-ke, o irlandês Ken Loach, o polonês Andrzej Wajda e o iraniano Asghar Farhadi. O cenário formado é amplo, porém pouco diverso. Como se percebe, com exceção de Van Sant, a grande maioria dos nomes são de realizadores imensamente respeitados, porém pouco populares. Outro que destoa neste sentido é o brasileiro José Padilha, que após o sucesso de Tropa de Elite (2007) e de Tropa de Elite 2 (2010) decidiu investir em Hollywood com a refilmagem de RoboCop (2014). Mas em comum, todos estão preocupados em passar suas visões pessoais a respeito da sétima arte, com declarações e ensinamentos reveladores e surpreendentes em mais de um sentido. Mas, ainda assim, um conjunto um tanto homogêneo.
Fugindo deste padrão, Carvalho se permite dois momentos de descontração em meio a tanto didatismo. Primeiro, ao se aproximar do escritor Ariano Suassuna, um nome fundamental na cultura brasileira, mas de pouca relação com o fazer cinematográfico. Ele relembra alguns ‘causos’ curiosos a respeito da sua própria relação com o cinema, mas nada que vá além do pitoresco. Mais equivocado parece ser a decisão de ir atrás do jovem Salvatore Cascio, que interpretou o menino Totó no oscarizado Cinema Paradiso (1988). A criança carismática do filme cresceu e não seguiu carreira artística, talvez por imaginar que talvez nunca fosse repetir o mesmo impacto de sua estreia. Aqui, no entanto, ele marca presença relembrando momentos das filmagens e da construção deste clássico do cinema italiano, obviamente uma obra muito apreciada por Walter Carvalho. É uma nostalgia um tanto deslocada que se faz presente, imposta de forma um tanto desajeitada, que mais destoa do resto da narrativa do que acrescenta algo na prática.
É perceptível a vontade do diretor em não fazer de Um Filme de Cinema uma sala de aula. Este resultado, no entanto, é inevitável. Ao congregar tantos mestres com um mesmo objetivo, e tomados pelo intuito de revelarem suas visões a respeito da arte que os une, se obtém depoimentos preciosos, que Carvalho aproveita com prazer e divide com gosto com o espectador. Tem-se, então, uma obra para iniciados, para quem tem afinidade com o assunto, e que por isso mesmo pode soar um pouco específica demais diante os mais leigos. Talvez pudesse ser um pouco mais redonda – sem os excessos apontados – mas ainda que assim consegue se fazer universal. E o melhor, a qual se assiste com crescente aprendizado e deleite, despertando nos interessados pelo tema uma crescente vontade de quero mais.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Leonardo Ribeiro | 8 |
Matheus Bonez | 7 |
MÉDIA | 7.3 |
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