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Sinopse

Madea e seus companheiros achavam que estavam indo para uma reunião de família como outra qualquer. Porém, tudo se transforma em um pesadelo quando, de repente, precisam planejar um funeral no meio de sua viagem para o estado da Georgia.

Crítica

É de se perguntar quais teriam sido os motivos para uma distribuidora brasileira se interessar por um lançamento nacional de Um Funeral em Família. Afinal, a despeito das (quase inexistentes) qualidades do filme, este é o décimo primeiro título de uma saga que, apenas nos Estados Unidos, já faturou mais de meio milhão de dólares. O curioso, no entanto, é que esse tipo de humor que o diretor, roteirista e intérprete da personagem Madea, Tyler Perry, insiste em exercer, parece funcionar única e exclusivamente entre os norte-americanos. No resto do mundo, sua repercussão é próxima ao zero. Tanto é que este, após dez longas anteriores, será o primeiro a ser exibido comercialmente nos cinemas daqui. E se a espera de forma alguma se justifica, também é aconselhável manter as expectativas lá embaixo: o que se encontra é uma mera comédia de costumes, recheada de clichês desgastados e velhos estereótipos, que não serve nem ao menos como porta de entrada para os neófitos quanto à personagem.

Vianne (Jen Harper, de Felicidade por um Fio, 2018) e Anthony (Derek Morgan, de Nunca Fui Beijada, 1999) estão para comemorar mais um aniversário de casamento. A casa está cheia, e enquanto os filhos preparam a festa, os dois são mandados para a rua – ele vai se encontrar com colegas num bar, ela vai fazer compras no shopping. O caçula, Jessie (Rome Flynn, de Lições de um Crime, 2018-2019), espera pela noiva, Gia (Aeriél Miranda, de Straight Outta Compton: A História do N.W.A., 2015), enquanto que o irmão mais velho, A. J. (Courtney Burrell, de Blackhats, 2015), também está atrasado para o encontro. A esposa desse, Carol (Kj Smith, vista em Ozark, 2017), chegou antes, e está ajudando a cunhada, Sylvia (Ciera Payton, de Oldboy: Dias de Vingança, 2013), e uma amiga da família, Renee (Quin Walters, de Um Salão do Barulho 2, 2004), que veio mais cedo, com os ajustes finais.

A reunião, que tinha tudo para ter motivos festivos, se transforma no tal funeral do título quando o patriarca morre. Mas ele não dá seu último suspiro bebendo uma cerveja, caminhando pela calçada ou à espera da esposa: ele estava numa cama de hotel com a amante. Que, por acaso, vem a ser Renee – aquela que estava sempre por perto, mesmo sem motivo aparente. E quem o descobre também não está livre de culpas: é A.J., que por acaso estava no quarto ao lado, justamente com quem? Acompanhado por Gia, a namorada do irmão. Uma vez que não há mistério algum sobre o que aconteceu e o que cada um faz por baixo dos panos, a trama de Um Funeral em Família se arrasta por quase duas horas sustentada basicamente nestes dois segredos: como um morreu e quem está traindo quem. Apenas para tudo ser elucidado nos últimos instantes, e da forma mais previsível possível.

Mas onde fica Madea nesse imbróglio todo? Assim como os demais personagens igualmente interpretados por Perry – o tio desbocado, o cadeirante depravado – ela e suas colegas, Hattie e Tia Bam (Patrice Lovely e Cassi Davis, respectivamente, ambas vistas também em Boo 2! O Halloween de Madea, 2017), surgem com maquiagens malfeitas, nitidamente improvisadas, como um coro grego, apenas comentando os acontecimentos que se desenrolam diante delas. Como se percebe pela sinopse acima, nenhuma dessas figuras chega a ter a menor relevância no enredo, nem mesmo contribuindo para os acontecimentos que se desenrolam. Tudo o que Madea, Heathrow, Joe e Brian (todas versões do mesmo Tyler Perry) ou Tia Bam e Hattie fazem é desfilar preconceitos envelhecidos, ideias ultrapassadas e um conceito de humor que simplesmente não parece se encaixar em qualquer pensamento mais contemporâneo.

Em mais de uma entrevista Tyler Perry chegou a afirmar que seus filmes não devem ser levados à sério, pois tudo o que pretende, ainda segundo ele próprio, é divertir e entreter. O que ele não parece levar em consideração é que, ainda assim, há uma mensagem sendo transmitida. E essa se revela em absurda falta de sintonia com os tempos atuais. Um bom exemplo é a sequência em que a família de Madea é parada por um policial de trânsito. Há a intenção de uma crítica na cena, porém tudo é tão exagerado e desproporcional que termina por se desconectar da realidade, resignando-se à vala comum dos tantos impropérios proferidos, a grande maioria sem nenhum significado válido. E quando, no meio de todo esse ruído, decide-se prestar atenção ao que se passa com os parentes do falecido, o espectador é convidado a se deparar com atuações frágeis, mistérios infantis e um desenlace que provoca mais bocejos do que espanto. Um Funeral em Família, dessa forma, pode ser o adeus de uma personagem relativamente popular em determinados nichos, mas ninguém poderá acusá-la de partir cedo demais. Pelo contrário, aliás.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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