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Crítica


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Sinopse

Um conhecido criminoso de guerra passa sua vida fugindo das autoridades internacionais. Quando ele é deslocado para um novo esconderijo, ele começa a se relacionar com sua empregada, Tanja, e descobre que ela é, na verdade, uma agente contratada para protegê-lo. À medida em que a busca por ele é intensificada, o General percebe que ela é a única pessoa em quem pode confiar.

Crítica

Dá pra imaginar o responsável por um massacre de milhares de inocentes como alguém simpático? Em tempos de polarização, a resposta mais fácil seria um NÃO com imensas letras garrafais, mas o diretor e roteirista Brad Silberling mexe com os brios de todos ao tomar como protagonista justamente um homem capaz de cometer atrocidades e, num estudo de personagem, tentar humanizá-lo. É uma tarefa que fica no meio do caminho de Um Homem Comum. Feito que teria ido totalmente por água abaixo se o papel principal não fosse dado a um ator do quilate de Ben Kingsley, mestre em personagens ambíguos.

Conhecido apenas como "O General", o protagonista é um homem que vive num pequeno apartamento isolado de Belgrado. O sérvio é um quase delirante criminoso de guerra que está fugido no país, ainda que conte com uma parcela de admiradores, como o chefe de proteção (Peter Serafinowicz). Um dia, uma mulher abre a porta do local onde ele mora e afirma que era empregada doméstica do antigo dono. Tanja (Hira Hilmar) sofre com a desconfiança inicial do general, que aponta uma arma para seu rosto e a manda se despir para ver se não esconde nada sob as roupas. Porém, o isolamento e, talvez, a falta de perspectivas, faz com que o próprio a convide para ser sua nova cuidadora, iniciando um relacionamento fraternal de mestre e aluna.

É um pouco difícil entender para que lado o roteiro de Silberling quer chegar. Filmado boa parte do tempo dentro do apartamento onde o protagonista mora, há um certo desperdício ter como locação a Belgrado real, pois pouco da cidade e o país que representa (assim como seus problemas geopolíticos) chegam a ser passados para o espectador. Ao menos, a quem não vive ou viveu por lá. Por isso mesmo, há um certo distanciamento da discussão moral e filosófica a que o cineasta se propõe tendo como base o relacionamento do general com Tanja. Centra-se demais na figura do personagem principal, querendo até forçar uma simpatia, quando a impressão que se tem é que, se fosse fora de quatro paredes e víssemos o que ele realmente fez, nossa impressão sobre sua persona seria completamente oposta. Ou não. Mas a falta de outras camadas deixa o argumento um tanto quanto insosso.

Por isso mesmo é tão importante o carisma e o talento de Ben Kingsley no projeto. Ainda que a performance beire oover the topem diversos momentos, compreende-se que isso faz parte da alma do personagem. Como militar e provável ex-político, o general sabe como ninguém o que fazer para garantir seus interesses. Portanto, é natural que sua soberba e o ego infladíssimo tomem conta da personalidade. Dentro desta competência em entender seu papel, Kingsley acerta quando o general é confrontado com seus dramas internos que o deixaram sozinho nos caminhos que seguiram. E eis que entra em cena o talento, também, de Hira Hilmar, atriz irlandesa que ainda não é conhecida mundo afora, mas tem presença magnética impossível de ser ignorada. Se sua performance discreta é motivo de desconfiança no início do filme (tanto para o protagonista quanto para o público), e à medida em que a personalidade é desnudada, Tanja se torna tão interessante ou até mais que o próprio general.

Uma pena é que o roteiro não consiga chegar ao ponto crucial que almeja, ainda que tenha um final chocante e, porque não dizer, realmente interessante, a ponto de abalar as expectativas. Porém, Um Homem Comum brinca com o texto no próprio título, já que de "ordinary", o general tem muito pouco. A empatia criada pelo seu personagem parece intencional demais, o que torna o filme um tanto quanto artificial. Afinal, o protagonista não é nenhum injustiçado pela sociedade, pelo contrário. Ele tem autoconsciência e até arrependimento das atrocidades que cometeu, mas não adianta fazer algo ruim inúmeras vezes e pedir desculpas em seguida para ser perdoado. Ainda assim, o longa tem seus méritos nas boas performances e na trilha sonora de Christophe Beck e Chilly Gonzalez, que mantém a tensão nos momentos mais impactantes da história.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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