Crítica
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Sinopse
Fred Rogers foi o criador de Mister Rogers' Neighborhood, um programa infantil de TV muito popular na década de 1960 nos EUA. Em 1998, Tom Junod, até então um cínico jornalista, aceitou escrever o perfil de Rogers para a revista Esquire. Durante as entrevistas para a matéria, Junod mudou não só sua visão em relação ao seu entrevistado como também o que pensava sobre o mundo, iniciando uma inspiradora amizade com o apresentador.
Crítica
Se comparar Tom Hanks ao saudoso James Stewart há tempos não é uma insensatez, vide a postura e os personagens escolhidos por ambos no decorrer de suas carreiras, é inevitável mais uma vez associá-los após assistir a Um Lindo Dia na Vizinhança. Afinal de contas, o Fred Rogers visto em cena é daqueles personagens simples e tocantes, cuja pureza de espírito se reflete em pequenos atos do dia a dia, como chamar as pessoas pelo primeiro nome, olhá-las nos olhos, ouvir o que têm a dizer. Rogers é um modelo de humanidade no que ela tem de melhor, no sentido de respeito ao próximo, encampando uma humildade admirável que, é claro, jamais é admitida. Quem, na Hollywood atual, seria capaz de convencer em um personagem deste tipo? Apenas Hanks, assim como seria Stewart caso este filme fosse produzido algumas décadas atrás.
Extremamente dependente de seu personagem principal, no sentido de estabelecer as nuances necessárias não só para apresentá-lo de forma verossímil mas também para contrastá-lo com a visão cética de seu coprotagonista, o jornalista Lloyd Vogel (Matthew Rhys, carregando um pouco no mau humor), Um Lindo Dia na Vizinhança é também um filme de época habilmente conduzido por sua diretora, Marielle Heller. Já na seqüência de abertura é possível notar o capricho em estabelecer tal mundo idílico, retratado através da televisão com sua estética típica dos anos 60: tela em fullscreen, figurino um tanto quanto gasto em cores neutras, inserindo o lúdico como se fosse algo absolutamente trivial na vida daquele senhor tão simpático e de fala pausada, que convida todos a adentrar sua casa. Tamanho impacto não é por acaso.
Não é por acaso porque Heller deseja indiretamente dialogar com o cinismo existente no cotidiano, de forma que o espectador estranhe e até renegue tal personagem por vezes afável até demais, para depois (re)conquistá-lo a partir de suas miudezas. Se esteticamente o longa-metragem demonstra apuro nesta divisão entre o que está diante e detrás das câmeras, alternando fotografia e também formato de tela para ressaltar tais diferenças, é na figura de Fred Rogers que tudo se sustenta, para o bem e para o mal. Se Hanks está adorável como Rogers, todo o resto ao seu redor é opaco até demais, ao ponto de se tornar irrelevante.
Com isso, pouco importam as subtramas em torno do jornalista que conduz a narrativa e sim como Rogers adentra sua vida ao ponto de inspirá-lo a escrever uma matéria jornalística sobre o que é ser heroi: saem os superpoderes, entra a humanidade. Mas, no fim das contas, Rogers é tão exaltado por seus méritos ou pelo mundo ao seu redor ser tão distante do que prega o convívio sadio entre semelhantes? Tal questionamento, o filme não aborda. O roteiro escrito por Noah Harpster e Micah Fitzerman-Blue prefere se ater à criação do ícone ao invés de questionar o porquê de tal glorificação, o que inevitavelmente traria ao filme uma maior profundidade - até mesmo filosófica, dependendo da abordagem.
Ainda assim, há no filme méritos incontestes, seja na bela composição de personagem entregue por Hanks, também pela postura corporal adotada, ou pela delicada recriação de época capitaneada por Heller, seja na direção de arte, figurino ou fotografia. Didático, intencionalmente ingênuo e repleto de valores positivos, Um Lindo Dia na Vizinhança é um clássico feel good movie, até agradável mas sem ir muito além de suas boas intenções.
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Francisco escreveu a crítica com a mesma energia com a qual o jornalista se mostrou, no início do filme, diante de Rogers. Não aprendeu nada com o filme.