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Sinopse

O protagonista de Um Lobo Entre os Cisnes é Thiago, um garoto do subúrbio carioca, deixa para trás o hip hop e embarca no mundo do balé clássico. Sua história ganha rumos inesperados através da conturbada relação com seu mentor, o cubano Dino Carrera, que aprimora o talento de Thiago. Selecionado para o 34º Cine Ceará: Festival Ibero-americano de Cinema (2024).

Crítica

A ideia de desenvolver Um Lobo Entre os Cisnes, cinebiografia sobre Thiago Soares, é de evidente potencial. O adolescente carioca de classe baixa, amante do Hip Hop, descobriu o balé clássico tardiamente, aos 15 anos. Orientado por quem viu no garoto um talento único, ele acabou se tornando uma estrela internacional, chegando a integrar as maiores companhias de dança do planeta. No entanto, apesar da rica ambientação, acaba não explorando por completo o calibre dos envolvidos. A obra, com ares de épico de superação, deixa a sensação de que poderia ter além, revelando camadas mais profundas do que a superfície permite. Como um lobo solitário diante de um lago de cisnes, o projeto parece flertar com a complexidade, mas se contenta com a beleza efêmera da imagem, sem atacar. 

O enredo em si já possui todos os elementos de uma história cinematográfica interessante. Nascido em um ambiente hostil e com um futuro incerto, Soares superou obstáculos para se tornar uma inspiração para jovens de diferentes origens. A jornada de descoberta e superação é bem representada na figura de Matheus Abreu, que encarna o ator principal em sua juventude. Ao seu lado, o mentor cubano Dino, interpretado pelo renomado Darío Grandinetti, é uma presença constante e necessária na busca por redenção e sucesso. A aposta, assim, constrói-se sobre a premissa de que a união de forças opostas – o talento bruto de Thiago e a experiência de Dino – seria o ponto de partida para uma história emocionante. 

Matheus Abreu se apresenta como um talento promissor, mas ainda em fase de amadurecimento. O ator, que integrou títulos como Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014) e O Segredo dos Diamantes (2014), parece estar dividindo seu foco entre ser galã e intérprete dramático, o que resulta em alguns momentos de exagero. Seu Thiago é movido por um ego evidente, e embora essa característica seja essencial para a construção do personagem, o artista acaba tropeçando no excesso de gestos e olhares excessivamente cínicos. Essa escolha, mais próxima da energia de suas atuações televisivas, como Malhação (2017-2018), soa artificial. 

Grandinetti é sempre imponente. Porém, sua presença como Dino está distante dos consagrados Fale com Ela (2002) e Relatos Selvagens (2014). Seu esforço em incorporar um cubano nunca se desvincula de sua identidade argentina, o que diminui a imersão no papel. A interação entre ele e Abreu, embora interessante em momentos, por vezes parece exageradamente melodramática, o que pode afastar o público mais atento. Tais escolhas, aliás, podem ser detectadas no comando, já que os diretores são oriundos da teledramaturgia, tendo créditos nas populares novelas Celebridade (2003-2004), América (2005), Caminhos do Coração (2007) e Caminho das Índias (2009).   

Outro ponto que pesa contra Um Lobo Entre os Cisnes é a insistência na reafirmação da heterossexualidade do protagonista, um recurso que soa desnecessário e redundante. O longa traz não uma, mas três cenas de sexo que não acrescentam substancialmente à narrativa, mais parecendo uma tentativa de justificar a figura de Thiago como um símbolo de virilidade. Em um dos momentos, há até conflito de egos entre as mulheres que se encantam por ele, o que contribui para a superficialidade de algumas passagens. Esses momentos parecem um eco de clichês que se arrastam sem um propósito claro, desvirtuando a história e fazendo com que o enredo perca o foco na complexidade.

Um Lobo Entre os Cisnes funciona como um registro valioso na carreira de Thiago Soares, que tem ali um passo importante em sua trajetória artística. Contudo, para astros como Grandinetti, o filme não entrega a mesma força dramática. Embora o resultado final não seja o melhor do que poderíamos esperar, a produção tem seu valor como testemunho de talento incomum, e talvez seja isso que, no futuro, inspire outros jovens a buscar a dança e a arte como uma forma de transcendência.

Filme visto durante o 34º Cine Ceará: Festival Ibero-americano de Cinema (2024)

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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