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Crítica


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13 votos 7.2

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Sinopse

Numa fazenda do meio-oeste dos Estados Unidos, uma família é perseguida por estranhas criaturas. Para a própria proteção, os membros dela devem permanecer em silêncio absoluto, a qualquer custo, pois o perigo é ativado pela percepção do som.

Crítica

Os letreiros com "dias após" marcam as fatias consideráveis de tempo entre o presente e o ataque inaugural de criaturas que rapidamente devastaram o planeta, dizimando boa parte da população. Em Um Lugar Silencioso, os primeiros momentos são dedicados completamente à construção de uma ambiência, além da exposição das regras que definem quem permanece vivo nessa mudez caótica. Em seu terceiro longa-metragem como diretor, John Krasinski demonstra afinação com os cânones do horror, partindo da solidificação de um clima aterrorizante, cujo gatilho à selvageria e às consequentes mortes é todo e qualquer barulho. E a melhor maneira de valorizar expressivamente o silêncio é um desenho sonoro como o daqui, bastante criativo que, inclusive, se encarrega de denotar o perigo a partir de determinadas quebras pontuais da quietude necessária à sobrevivência. Há, portanto, ourivesaria em prática, o que torna bem resolvida a estrita sensorialidade do filme, mas somente na metade inicial.

Todavia, o ponto mais falho de Um Lugar Silencioso está na sucessão de inverossimilhanças da trama, algo que gradativamente sobressai, justamente porque as cartas, formalmente falando, já estão postas de certo ponto em diante. Resta, então, o desenvolvimento dos personagens e das circunstâncias. A fragilidade dessas instâncias nos pede boas doses de condescendência para uma fruição menos aborrecida. Lee (Krasinski) e Evelyn (Emily Blunt) cuidam dos filhos, evitando que os monstros os capturem. Uma tragédia proporcionada por negligências pouco prováveis, precisamente em virtude de tanger ao caçula, de quem dificilmente pais descuidariam naquela circunstância, altera o estado de espírito da família, instaurando a melancolia que supostamente adensaria tudo. O problema maior é que, tendo apresentado o contexto, com a comunicação por sinais e as luzes que indicam ameaça próxima, sintomas de singularidade, o filme apela a situações frágeis, algumas até bobas.

Como cineasta, Krasinski demonstra vários méritos, a maioria deles com respeito à construção de uma atmosfera de tensão frequente. Contudo, não apresenta a mesma qualidade quando o assunto é contextualizar a humanidade inserida e/ou transformada na conjuntura praticamente pós-apocalíptica. A personagem de Emily Blunt se restringe a sofrer e aguardar o salvamento do marido, no mais das vezes sendo tratada pelo roteiro como uma presa fácil e fragilizada, também por conta da espera de um novo rebento. Aliás, a gravidez é extremamente mal aproveitada em Um Lugar Silencioso. Levando em consideração que não se pode fazer o menor ruído para evitar a investida dos monstros, o estado de Evelyn representa uma bomba relógio prestes a explodir. A espera alimenta a angústia, mas esta se esvai tão logo o nascimento ocorra, longe dos nossos olhos para que não questionemos a ausência de um (óbvio) estridente e fatal choro infantil. Temos de engolir isso.

Um Lugar Silencioso, mesmo apresentando um bom uso dos jump scares, combinando imagens e sons com habilidade, gerando sustos eficientes, não consegue ultrapassar suas insuficiências e certas inclinações do realizador a convenções. Para efeito de comparação, dá para dizer que esta nova produção de John Krasinski é um Ao Cair da Noite (2017) bem menos consistente. Além disso, ela “chupa” um expediente de Marte Ataca! (1996) que, deslocado do contexto satírico proposto por Tim Burton, soa como preguiça dos roteiristas. Toda subtrama da filha surda, a ótima Millicent Simmonds, existe apenas para injetar drama num desenlace piegas que ocorre próximo ao fim. Os vilões passam a atacar a casa sem a ocorrência de barulhos significativos, apenas um dos sintomas da desvirtuação das balizas antes postas, às quais Krasinski se dedica com tanto afinco no começo. Pena que, ao lidar com gente e veracidade, não atinja resultado similar, oferecendo um espetáculo ordinário e inconstante.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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