Crítica
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Sinopse
Em um planeta dominado por uma raça alienígena cega, porém com audição altamente apurada, a família Abbott precisa deixar seu abrigo e encarar o terror mundo afora. Ao se depararem com um velho conhecido, acabam se dividindo: enquanto uns buscam curar suas feridas, outros partem em busca de uma solução definitiva para o problema que o mundo enfrenta.
Crítica
O primeiro Um Lugar Silencioso (2018) era um filme que jogava seu espectador no meio da ação, sem perder tempo com explicações sobre as origens da tensão presenciada na tela, os motivos que levaram os personagens a se comportar de tal maneira e as consequências no caso de infringirem essas regras implícitas. Tais entendimentos, no entanto, não eram ausentes: surgiam no decorrer da narrativa, não de forma didática, mas inseridos no contexto. Se haviam problemas – e o conjunto não era isento deles – estava em contar demais com a suspensão da descrença por parte da audiência. Em mais de um momento se exigia por parte do público um acordo tácito para ignorar certas liberdades em nome de um resultado adiante. Pois não deixa de ser uma ótima surpresa perceber que Um Lugar Silencioso: Parte II não apenas reprisa os mesmos acertos anteriores, como consegue superar os deslizes verificados, entregando um conjunto mais incisivo em sua proposta e assertivo nos acertos que vai angariando pelo caminho.
Ainda antes dos créditos, um prólogo de pouco mais de 10 ou 15 minutos remete à origem do caos no qual a família Abbott se encontra. Em um dia ensolarado, a cidade está vazia. É o começo de tudo. Durante uma manhã de folga, a maioria dos amigos e moradores da região se encontra num parque, longe das ruas, lojas e oficinas, para acompanhar um jogo de baseball infantil. Porém, antes mesmo do término da partida, o céu se ilumina, e o perigo se manifesta. Nem bem chegam aos seus carros, na tentativa de voltarem para casa, passam a ser vítimas de ataques selvagens de monstruosos extraterrestres. O que se sabe – aqueles que os assistem, não as figuras ficcionais – é que tais seres são cegos, e se guiam apenas pelo barulho. Ou seja, a melhor maneira para evitá-los – e, assim, se proteger – é manter o mais profundo e absoluto silêncio. Qualquer barulho pode representar o fim. É preciso ficar quieto. Independente do que possa acontecer.
Depois desse início angustiante, suficiente para elevar a adrenalina de qualquer um na plateia, o diretor John Krasinski – agora ocupando-se apenas com suas responsabilidades por trás das câmeras, pois seu personagem (o patriarca) foi morto no final do longa anterior – revela um amadurecimento impressionante nessa função, não apenas por um domínio de enquadramento e composição de cena digno de um veterano, mas também por ser capaz de usar dos elementos ao seu dispor de modo tal que, a despeito de qualquer limitação, o mergulho no drama em evolução se mostra irreversível. Evelyn (Emily Blunt) e seus três filhos, Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) e o bebê recém-nascido, deixam o lar em busca de um abrigo mais seguro. Quando encontram Emmett (Cillian Murphy), um ex-vizinho, pensam ter encontrado um lugar para se esconderem. Mas não podem fugir para sempre. É preciso contra-atacar. E quem tem um plano é Regan. Por isso parte na primeira oportunidade, pensando no que o pai faria, para defender a si e sua família.
A partir desse ponto, o enredo se divide em duas linhas narrativas. De um lado, tem-se a menina deficiente auditiva em sua jornada solitária, logo ganhando a companhia de Emmett, que parte em seu auxílio. No outro extremo, Evelyn fica com os filhos menores, um necessitando de cuidados especiais devido a pouca idade, e o outro precisando de ajuda após sofrer um acidente. Em mais de uma ocasião – inclusive no clímax acelerado – Krasinski sobrepõe essas duas situações, deixando em evidência o quão próximas, ainda que geograficamente afastadas, elas se parecem. A garota e o adulto estão em busca de uma ilha, um porto seguro não infestado pelos invasores, e uma estação de rádio que poderá propagar uma solução para tanto terror. Da mesma forma, a mulher parte em busca de um efeito prático para dores mais imediatas, servindo tanto de salvação, como de lembrança pelo qual todos devem seguir lutando. É por eles, mas acima de tudo, pelo que representam uns aos outros.
A partir de uma abordagem absolutamente econômica e direta, Um Lugar Silencioso: Parte II vai ao cerne de seu discurso sem perder tempo com distrações ou rotas alternativas. É como um quebra-cabeças, no qual cada peça faz diferença. Assim, alinha-se a uma tradição bastante rara, ao lado de títulos como O Poderoso Chefão II (1974), O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991) e Homem-Aranha 2 (2004), mostrando-se com folga superior ao seu antecessor. E o melhor é que faz isso a partir de uma história que sabe o que precisa ser dito, sem excessos, nem concessões (acréscimos ao elenco, como Djimon Hounsou, ator duas vezes indicado ao Oscar, tem uma participação de não mais do que alguns minutos, por exemplo), colocando em evidência uma energia presente naqueles que irão herdar essa realidade. Afinal, por melhor que Blunt e Murphy – ambos ótimos, precisos em suas construções – estejam, os verdadeiros protagonistas são Simmonds e Jupe. Ela na determinação e ciência de sua obrigação (o filme eleva seu alcance quando assume o ponto de vista da jovem), ele no temor e desespero motivado por uma dor maior do que a física que sente, oferecem interpretações maduras e absolutamente convincentes. Sem esquecer, é claro, do último respiro de cada um. Pois esse representa tanto alívio, como retomada de forças. Afinal, há ainda muito por vir.
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