Crítica
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Sinopse
Kate é diagnosticada com esclerose lateral amiotrófica. Bec é uma estudante e aspirante a cantora de rock que aceita uma tentativa desesperada de emprego para dar assistência a Kate. Enquanto o casamento de Kate e Evan se deteriora, ambas passam a se apoiar em algo que se torna um laço não convencional.
Crítica
A perfeição tipo “comercial de margarina” da vida conjugal de Kate (Hilary Swank) e Evan (Josh Duhamel) começa a desmoronar quando ela exibe os primeiro sintomas de uma doença degenerativa. À procura de cuidados especiais, o casal, antes popular na roda de amigos com lares tão simetricamente arrumados quanto o dele, contrata uma garota improvável para a tarefa. Bec (Emmy Rossum) é caótica, não sabe cozinhar, e a pouca experiência anterior como cuidadora se resume ao curto voluntariado num asilo. Contra a vontade do marido, Kate faz força para que a garota fique, quem sabe por ter visto além ou (mais provável) porque ela não a trata como inválida. Você já viu esse filme, mas certamente com desenvolvimentos bem mais interessantes do que os oferecidos por Um Momento Pode Mudar Tudo.
O exagero na caracterização é a primeira evidência de que não estamos num terreno propício a sutilezas, vide a cena em que Bec prepara uma vitamina, lidando com o liquidificador como se apresentada ao eletrodoméstico naquele instante. Há também uma simplificação contraproducente no que diz respeito às personalidades e ao crescimento pessoal dessas mulheres que protagonizam o filme. A certinha Kate vai aprender com a destrambelhada Bec a ser mais flexível, enquanto a jovem tomará algumas lições de como crescer e assumir responsabilidades. Nesse percurso, sobram outros clichês mal aproveitados, tais como o marido que se comporta como um canalha, a experiência recreativa com drogas da doente terminal e as dificuldades de alguém escaldado para criar vínculos. Um Momento Pode Mudar Tudo é um amontoado de situações que visam apenas transmitir mensagens edificantes.
O diretor George C. Wolfe mostra um trabalho burocrático, apoiado visualmente num cansativo campo/contracampo, sem contar a falta de habilidade para tirar do elenco mais que interpretações modo piloto automático. Emmy Rossum é a única que se sobressai ligeiramente entre os atores, por tentar expressar as contradições de sua personagem. Enquanto isso, Hilary Swank faz só o básico, não comprometendo na construção, sobretudo física, de alguém que pouco a pouco está perdendo até mesmo a capacidade de respirar por conta própria. Já Josh Duhamel atua mecanicamente, o que contribui para relegar Evan à figura terciária no drama em voga. Mais uma fragilidade, a trilha sonora de Um Momento Pode Mudar Tudo é feita de acordes inseridos pontualmente para induzir a nossa emoção, geralmente um piano carregado e lamurioso.
É delicado abordar a rápida decadência do corpo provocada por doenças degenerativas. Errar a mão e resvalar no piegas é muito fácil quando se fala a respeito de algo tão trágico por si. Um Momento Pode Mudar Tudo toma a enfermidade de Kate como desculpa para refletir sobre a natureza dessa mulher que se vê de uma hora para outra em declínio irreversível, bem como a da menina que andava por aí, sem eira nem beira, e que precisa crescer rápido para fazer finalmente algo de bom na vida. Entre o preto e o branco existem diversas áreas cinzentas, responsáveis por mostrar que as coisas vão além de respostas óbvias a questionamentos comuns. O filme de George C. Wolfe, porém, trata de simplificar artificialmente tudo, enfileirando lições de moral, traçando roteiros específicos por caminhos que, a despeito de alguns acidentes, acabam levando à felicidade.
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