Crítica
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Sinopse
Lilly e Jack precisam ficar separados após sofrer uma perda enorme. Cada um tenta lidar de uma forma diferente com o luto. Mais adiante, buscam equacionar uma forma de manter acesa a chama da paixão e da cumplicidade. Ela fica em casa lutando contra um passarinho agressivo. Ele prmanece internado tentando melhorar seu estado mental.
Crítica
Há filmes que trabalham o luto materno/paterno perto das extremidades. Tomemos como exemplo disso Anticristo (2009), história que adquire tons grotescos e brutais ao mostrar um homem e uma mulher lidando de modos completamente diferentes com a morte do seu filho pequeno. Já em Um Ninho Para Dois o tom é quase oposto, mesmo que o conflito principal seja basicamente o mesmo. Estamos num terreno menos pantanoso, próximo do agridoce. E, felizmente, isso não significa banalização ou uma simplificação exagerada de dores e impossibilidades. Lilly (Melissa McCarthy) e Jack (Chris O'Dowd) são apresentados ao espectador numa típica cena de harmonia e felicidade em torno da chegada da primeira filha. O casal está pintando uma árvore na parede, ornamentando o quarto que servirá de recanto à pequena Katie. Uma elipse nos joga para não muito tempo à frente. A mulher tem dificuldades de concentração no trabalho e o homem está internado numa instituição psiquiátrica. Não demora para sabermos que a criança teve morte súbita e que os dois estão lidando de jeitos distintos com a dor incomensurável motivada pela tragédia. O cineasta Theodore Melfi cria um ambiente bastante reconhecível aos protagonistas, cercando-os de coadjuvantes ligeiramente excêntricos que dão um ar de singularidade àquele contexto todo. Figuras, músicas e resoluções, tudo isso é familiar.
Familiar, pois o cinema norte-americano – especialmente o da segunda metade dos anos 1990 e do começo dos anos 2000 – foi pródigo no que se convencionou chamar de dramédia. Esses filmes são caracterizados por abordar situações potencialmente dramáticas, mas envernizar a melancolia e os problemas com singelas camadas de graça e esperança. Portanto, dentro dessa perspectiva faz sentido a escalação de alguém como Melissa McCarthy, reconhecida por personagens cômicos, mas que também é capaz de transitar confortavelmente em propostas híbridas como essa. Sua Lilly está sofrendo ininterruptamente desde a fatalidade, inclusive por ter de lidar com o colapso nervoso do marido. E a atriz norte-americana se sai bem nos momentos sentimentais, mas particularmente quando é encarregada de expressar a vulnerabilidade e o medo como efeitos colaterais da fragilidade humana. Chris O'Dowd não fica para trás no quesito adequação ao personagem, inclusive porque é uma figurinha carimbada nesse tipo de produção, ou seja, está transitando num chão confortável. Kevin Kline se destaca como o psicólogo que largou a vocação para se tornar veterinário. Já os também conhecidos Timothy Olyphant, Daveed Diggs e Skyler Gisondo aparecem pontualmente, apenas para confirmar que o espaço ao redor dos protagonistas está repleto de pessoas gentis, amáveis e peculiares.
O que de melhor Um Ninho para Dois oferece é uma mensagem respeitosa sobre subjetividades. Lilly tenta permanecer firme, pois continua a trabalhar e segue os protocolos de visita ao marido. Ela encara mais frontalmente o luto. Já Jack não tem essa capacidade, existindo numa instituição psiquiátrica enquanto parece arquitetar um plano de suicídio. Ambos conversam com especialistas. E nessas cenas o longa-metragem aproveita para traduzir sentimentos e dar interpretações. Por sorte, os “diagnósticos” expositivos não deixam de lado a obscuridade do estado mental do casal, ao menos citando comportamentos complexos, tais como afastar alguém amado para saber se essa pessoa retorna. Jack não é minimizado por carecer da resiliência de Lilly e tampouco ela é celebrada como uma supermulher por responder ao trauma do seu próprio jeito. A se lamentar apenas que o roteiro insista em sempre pontuar as circunstâncias com leituras de estados que poderiam muito bem ser deduzidos pelo espectador, principalmente quando entra na equação o passarinho agressivo. A batalha de Lilly contra o estorninho que a ataca no quintal é o elo frágil desse filme que, se não propõe um mergulho vertiginoso nos meandros da perda, ao menos trata a dor alheia com a devida atenção.
O roteiro de Matt Harris utiliza o estorninho como uma metáfora óbvia demais. O ninho é uma figura de linguagem frequentemente trabalhada para falar de famílias, sobretudo porque passa a ideia de aconchego e proteção. A guerra inglória de Lilly contra o pássaro que está brigando para afastar ameaças dos seus filhotes se esgota rapidamente como lógica bélica que promove uma identificação imediata. Não à toa, somente quando a mulher reconhece a legitimidade do seu adversário é que ela começa a conseguir colocar a própria casa em ordem. Theodore Melfi carrega o filme com outros simbolismos demasiadamente escancarados, como quando a protagonista tem dificuldades para limpar o terreno desleixado (igual a sua vida após a tragédia) e adiante ao ser confrontada pela persistência das ervas daninhas e pragas (semelhante à dor que também é teimosa). Uma vez que o filme sempre faz questão de sinalizar uma pontinha de esperança, somos convidados a imaginar que tudo terminará com uma bela lição sobre compreensão mútua e sobrevivência dos elos afetivos. Dois caminhos solitários convergindo para uma nova chance de viver em harmonia. Talvez o enredo mais interessante esteja no que aconteceria depois dessa tempestade abrandar, na retomada da convivência, nas pequenas negociações com os estados de ânimo e recaídas. Porém, para isso seria preciso uma sequência.
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Foi o melhor comentário sobre o filme que li, após uns 6. Descreveu bem o desenrolar da trama. Parabéns.
Muito bom o filme. ..a vida apresenta dificuldades com as quais vamos ter que aprender a conviver ...Sem desesperar e sem querer eliminar tudo que nos incomoda. Porque as vezes lidar é possível e eliminar nos faria mais mal do que conviver e contornar as dificuldades.