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Sinopse

Bill Oakland é um bem sucedido romancista. Em um acidente de carro, acaba perdendo a visão e a esposa. Anos depois, a socialite Suzanne Dutchman é obrigada a ler para ele como pena de serviços comunitários após o marido, um homem de negócios, ser preso em um escândalo de corrupção. Os dois se estranham no começo, mas logo estarão apaixonados um pelo outro.

Crítica

Demi Moore e Alec Baldwin já foram dois dos maiores astros de Hollywood – isso não, ontem, nem um ano atrás, mas há mais ou menos umas duas ou três décadas! Ela foi uma das integrantes do ‘brat pack’ dos anos 1980, fez meio mundo chorar em Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990), estrelou sucessos polêmicos como Proposta Indecente (1993), Assédio Sexual (1994) e Striptease (1996), e foi casada com Bruce Willis e Ashton Kutcher. Ele, por sua vez, despontou como um dos turbulentos irmãos Baldwin (além dele, há ainda William, Stephen e Daniel), foi parar nos tabloides com seu casamento com Kim Basinger, viveu o Jack Ryan menos lembrado em A Caçada ao Outubro Vermelho (1990) e chegou a ser indicado ao Oscar por The Cooler: Quebrando a Banca (2003). No entanto, enquanto da virada dos anos 2000 pra cá ela praticamente desapareceu, ele conseguiu se reinventar na televisão. E se quando trabalharam juntos pela primeira vez, no thriller A Jurada (1996), quem ditava as cartas era ela, a situação parece ter se invertido tanto tempo depois. Não que isso pareça ter feito qualquer diferença diante do que é apresentado neste Um Novo Olhar.

Isso porque, mesmo que Baldwin tenha somado nos últimos anos três Globos de Ouro, três Emmys e trabalhado com nomes como Martin Scorsese, Spike Lee e Woody Allen, sua posição atual é a de sucesso em seriados ou coadjuvante de peso em filmes. E Um Novo Olhar, ainda que tenha se resignado com a telinha – no Brasil só foi lançado em streaming – é um longa pensado para a tela grande. Ou quase isso. Pois Michael Mailer, o diretor estreante, tem longa carreira como produtor de projetos obscuros, como Dinheiro Não é Meu Negócio (1989), com Sandra Bullock, ou A Tentação (2011), com Charlie Hunnam. Visto este histórico, é compreensível o esforço em oferecer um visual mais clássico ao projeto, seja pela escolha de protagonistas que um dia já foram astros, como também pela ambientação elitista, na qual todo mundo é rico ou famoso (ou as duas coisas), e o grande drama da vida pareça ser encontrar um ‘amor de verdade’.

O ponto de vista aqui é o da stepford wife Suzanne Dutchmann, vivida por Demi Moore. Esposa de um rico e agressivo homem de negócios (Dylan McDermott, caricato), quando ele é preso após ser denunciado por um sócio, ela se vê envolvida porque as contas movimentadas eram em nome do casal. Ao se declarar inocente, acaba sendo condenada a cumprir horas de serviço comunitário, e o trabalho que lhe compete será ler para o professor e escritor cego Bill Oakland (Baldwin). O problema é que este é uma figura difícil de lidar, que carrega seus próprios fantasmas – a cegueira foi causada pelo acidente de automóvel que acabou vitimando a esposa, culpa que leva consigo – e não parece ter vontade de se abrir com ninguém. Isto é, ao menos até que essa desconhecida entre em sua vida.

Não será preciso somar dois mais dois para imaginar o que acabará acontecendo em seguida. Entre um marido exageradamente ciumento, que mesmo dentro da cadeia passará a espionar cada passo da mulher, e uma série de flashbacks que servem apenas para reforçar o óbvio, o roteiro de John Buffalo Mailer – ele e o diretor, Michael, são irmãos, e filhos do consagrado Norman Mailer – tem seus momentos mais frágeis ao derrapar em diálogos risíveis, atuações superficiais e cenários tão falsos (a briga no refeitório do presídio é involuntariamente cômica) que, se conseguem atrair algum tipo de atenção, é devido mais ao espanto de como tal conjunto pode ter sido orquestrado de forma tão equivocada. Demi Moore parece mais preocupada em fazer caras e bocas, enquanto que Alec Baldwin demonstra acreditar que falar sussurrando é mais do que suficiente para criar um personagem. Seria apenas ruim, se não fosse constrangedor.

Incapaz de oferecer figuras convincentes ou ao menos um drama envolvente, Um Novo Olhar talvez funcione como peça voyeurística apenas para os interessados em imaginar uma relação entre os dois veteranos que encabeçam o elenco. Entre soluções que parecem terem sido pensadas para provocar o riso (com quem será que o marido está tendo um caso?) e elementos aleatórios que revelam ter utilidade zero para o avançar da história (a subtrama com o garoto que só mente, mas que, inexplicavelmente, consegue estimular o professor não apenas a retomar suas atividades, mas também a reconhecer no jovem um talento que mais ninguém conseguirá identificar, é tão gratuita quanto mal desenvolvida), tem-se aqui um drama que talvez até tivesse encontrado um público menos precavido – e mais ingênuo – algumas décadas atrás. Hoje, no entanto, se mostra deslocado no tempo, insistindo em extrair alguma luz de estrelas há muito apagadas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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