Crítica
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Sinopse
Joseph é um garoto de 13 anos que está vendendo alguns bens de sua casa para financiar um projeto ecológico na África. Seus pais, Abel e Marianne, logo descobrem que Joseph faz parte de uma coalisão de crianças como ele.
Crítica
Há um tom levemente tragicômico em Um Pequeno Grande Plano. Nele, Abel (Louis Garrel) e Marianne (Laetitia Casta) descobrem que seu filho está fazendo parte de um plano internacional para salvar o planeta. A partir disso se instaura uma atmosfera em que o alarmante ganha tintas doces e melancólicas. O que torna esse molho ainda mais saboroso é a pitada de esperança depositada na perspicácia das crianças. O filme dá um abraço assumido e despudorado no idealismo adolescente que resulta de uma visão mais propositiva e menos estagnada. Estamos diante, praticamente, de uma fábula familiar em que a mobilização pela garantia do futuro surge dos mais novos. E eles são capazes de conscientizar a geração anterior que, aparentemente, está em estado de letargia diante dos desastres climáticos. Joseph (Joseph Engel) confessa aos pais que andou pegando itens em casa para vender. A ideia era ajudar a custear um programa global, formado por jovens do mundo inteiro, que visa oferecer uma solução sustentável para a continuidade da vida na Terra. Enquanto diretor, Louis Garrel enfatiza com ternura uma virada de jogo quanto aos discursos de responsabilidade, vide a parcela mais infantil da sociedade assumindo precocemente as missões que seus pais negligenciaram. Logo depois de ser repreendido por vender itens como vinhos, joias e roupas, o menino deixa bastante claro que apenas se desfez do excedente: “vendi tudo há quatro meses e vocês nem notaram”. E, olha, eram inúmeras coisas.
Esse confronto geracional é o que de melhor Um Pequeno Grande Plano tem a oferecer. Enquanto os pais parecem subitamente atordoados com a consciência e capacidade de organização do filho, Joseph aproveita para desmontar a retórica pequeno-burguesa calcada na acumulação. E se desfazer dos excedentes é o mais relevante como ponto de partida dessa mensagem que o filme carrega como uma missão. Sim, pois estamos diante de uma produção assumidamente daquelas que transportam uma mensagem, no que isso tem de bom e de ruim, cinematograficamente falando. De bom, porque a mensagem projetada é interessante e urgente. De ruim, pois o roteiro não desenvolve como poderia as camadas do que ela nos propõe. Se contenta com o necessário para reforçar o alerta climático fundamental. Por exemplo, Garrel (que assina o roteiro ao lado do grande Jean-Claude Carrière) poderia enfatizar mais essa boa sacada de um projeto revolucionário anticapitalista sendo custeado com a negação da lógica acumulativa do capitalismo. Por que não bancar algo que pode ser benéfico para o mundo inteiro se desfazendo individualmente do supérfluo? A todo o momento o longa coloca os adultos (e, por conseguinte, suas lógicas) em xeque diante da revolução defendida por crianças, pré-adolescentes e adolescentes. O principal ali é a situação, não as singularidades dos personagens.
Enquanto se ambientam com a revelação de que o filho é mais do que um menino comum em fase de crescimento, os pais começam a sentir os efeitos das fissuras que podem provocar uma separação. Novamente, Um Pequeno Grande Plano não se demora no desenvolvimento dessas turbulências pessoais e matrimoniais. Passa por elas como quem adiciona mais um tijolo no conto idealista sobre um mundo que precisa ser colocado em crise para então sobreviver. Louis Garrel também deixa de sublinhar algo que poderia dar espessura dramática ao seu conto agridoce: o fato de que o novo mundo capaz de substituir o velho amedronta bem mais os homens dos que necessariamente as mulheres. Isso está ali posto, mas não é trabalhado como poderia. Abel se sente incomodado com a autonomia do garoto, resiste às teorias dos jovens sobre a possibilidade de retomar a vida no deserto e ainda parece afetado psicologicamente pela ciência do amadurecimento repentino do menino. “Você está com inveja dele?”, pergunta retoricamente a esposa que nota a reação voluntária com um quê de arrependimento pessoal. Mas, isso não é estudado. Apenas vemos o adulto enciumado por ter um filho que demonstra mais preocupação com o todo do que ele. Adiante, Abel é criticado pela falta de empatia. E, seguramente, isso poderia ser analisado como algo atrelado ao gênero.
Não há muitas particularizações em Um Pequeno Grande Plano. Especialmente por conta da primazia da mensagem, ao filme o que importa são os comportamentos dos arquétipos: o pai de família burguês, a esposa mais aberta ao novo e o filho charmoso que não está disposto a repetir os erros da geração imediatamente anterior à sua. Às vezes, Louis Garrel parece um pouco indeciso entre sustentar a ruptura do discurso paterno pelas ideias juvenis e continuar observando as demais demandas cotidianas de todos os personagens. O grande destaque do elenco é, sem dúvida, Joseph Engel. O promissor ator dá uma aura, ao mesmo tempo, carismática e firme ao garoto que está crescendo com valores ecológicos e coletivos muito mais consistentes. Mesmo que seja o portador de uma nova possibilidade de viver, ele não cabe no modelo de “adulto precoce”, tendo espaço para exibir imaturidades, sobretudo quanto à dificuldade ao ter de lidar com o amor. Selecionada para o 13º Festival Varilux de Cinema Francês, a mais nova empreitada de Louis Garrel como realizador se equilibra relativamente bem entre o alarmante e o esperançoso, celebrando a postura dos que endurecem sem perder a ternura. E ainda sobra para o Brasil, citado numa cena como exemplo negativo de práticas com a natureza: “Não vamos fazer como os brasileiros que queimam toda a Amazônia”. Nossos críticos não estão errados.
Filme assistido durante o 13ª Festival Varilux de Cinema Francês, em junho de 2022.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 6 |
Robledo Milani | 4 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
Alex Gonçalves | 5 |
MÉDIA | 5 |
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