Um Perfil para Dois

Crítica

Já faz parte da realidade de muitas pessoas buscar um relacionamento por meio da internet. Seja para durar uma noite ou uma década, a rede mundial de computadores permitiu que pessoas das mais diversas idades, origens e costumes encontrassem alguém com gostos parecidos e objetivos em comum. Mas e quando a paixão das conversas on-line esconde segredos? Se enganos já foram tema de muitas produções de suspense, chega a vez do bom humor francês dar a sua versão com o divertido Um Perfil para Dois, dirigido por Stéphane Robelin.

Assim como havia feito no ótimo E se Vivêssemos Todos Juntos? (2011), seu filme anterior, Robelin utiliza um protagonista idoso para falar de temas que permeiam todas as idades. Pierre, interpretado pelo veterano Pierre Richard, está com quase 80 anos e, desde a morte da esposa, não sai de casa. Seu contato com o mundo se resume às visitas da filha, sempre preocupada com coisas práticas, como alimentação e roupas, e sem tempo para escutar as questões do pai. Só que Um Perfil para Dois começa nos apresentando os antagonistas da história: Juliette, neta de Pierre, e Alex, um aspirante a escritor que irá se tornar seu namorado. E o romance que começa de maneira engraçadinha já passa na segunda cena para um cotidiano nada apaixonante.

Sustentado por Juliette, Alex mora com a sogra e acaba cedendo aos pedidos dela para que ensine seu pai a usar o computador. É o início da jornada na qual Pierre vai colocar em prática seu talento para a sedução. Ao conseguir um primeiro encontro, vem a complicação: Pierre usou a foto e a idade de Alex na hora de preencher seu perfil. Logo, Flora, sua pretendente, pensa que irá se encontrar com um homem da idade do rapaz. Incapaz de frustrar os sonhos da moça, ele faz a proposta para que o jovem se apresente em seu lugar. O que se segue é uma série de mentiras que acabam por fazer Alex se envolver com Flora no mundo real e Pierre seguir com os galanteios na web. Um Cyrano de Bergerac moderno, em que o nariz avantajado é substituído pela idade avançada.

Um Perfil para Dois tem a leveza das boas comédias românticas e não descamba para o piegas nem mesmo em seus monólogos repletos de lembranças de amores que já se foram. Seu roteiro é redondo, sem uma cena dispensável e sempre preocupado em colocar a piada no lugar certo. O elenco se mostra à vontade com seus personagens, em especial Pierre Richard, responsável pelas melhores tiradas dos diálogos, sempre equilibrando rabugice e poesia. Também não se pode esquecer de Fanny Valette, com seu carisma que remete a atrizes como Sophia Loren, combinando com o clima de “velhos tempos” de Pierre, sem abandonar o ar de mulher do seu tempo, deixando seu talento registrado numa das cenas finais, um desabafo filmado com criatividade. É impossível deixar a sessão sem sorrir diante das situações insólitas que passaram diante de nossos olhos. Todas feitas em nome da paixão e da vontade de manter o frio na barriga dos primeiros encontros sempre presente. Seja qual for a sua idade.

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Bianca Zasso

é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.

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