Crítica
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Sinopse
Akeem agora é o rei de Zamunda. Mas, ao lado de seu fiel escudeiro e amigo Semmi ele vai precisar voltar aos Estados Unidos, mais precisamente ao Queens, bairro de Nova Iorque onde parte de suas aventuras começou, pois há a suspeita de que seu filho more por lá.
Crítica
Quando divulgada a primeira notícia a respeito da produção de Um Príncipe em Nova York 2, continuação tardia de Um Príncipe em Nova York (1988) – feito no auge da popularidade de Eddie Murphy – a piada comum era de que um título nacional mais apropriado para a nova história seria Um Rei em Nova York, afinal, passados mais de trinta anos, o antigo príncipe Akeem (Murphy) agora já deveria estar sentado no trono. Pois bem, ao se assistir ao longa assinado por Craig Brewer, o que se percebe é que talvez o correto fosse Um Príncipe em Zamunda. Dessa vez, Akeem se torna quase coadjuvante da sua própria história, e quem assume o protagonismo é o filho ilegítimo dele, LaVelle Junson (Jermaine Fowler, de Desculpe Te Incomodar, 2018), que faz o trajeto inverso ao que o pai fez três décadas antes: é ele que deixa a América para trás e se vê na África tendo que se adaptar aos costumes de um lugar que desconhece. A mudança soa radical, mas um olhar atento logo chegará a conclusão de que, mais do que uma sequência, essa é basicamente uma refilmagem do antigo sucesso. O que se por um lado é bom, ao mesmo tempo deixa de acertar em tantos outros.
O que não se coloca em discussão é que Um Príncipe em Nova York 2 é feito para os fãs da primeira aventura de Akeem. Estão basicamente todos do elenco de volta – com exceção de Madge Sinclair, que interpretava a rainha Aoleon, falecida em 1995. Até o premiado Louie Anderson (Maurice, o atendente da lanchonete), John Amos (Cleo, sogro de Akeem) e Paul Bates (Oha, responsável por fazer os anúncios do reino, desde acordar o herdeiro real até entoar uma corajosa canção de noivado) estão mais uma vez presentes – sem esquecer do imponente James Earl Jones (rei Jaffe), em participação pontual. Há piadas para todos os lados, e aqueles que estiverem com o outro longa vivo na memória serão os que melhor irão aproveitar. Desde os barbeiros desbocados (interpretados pelos próprios Murphy e Arsenio Hall, também em cena como Semmi, o conselheiro do rei) até o pastor sexista e misógino (Hall também), passando pelo cantor que ninguém aguenta (Murphy outra vez) ou referências aos irmãos Duke (esses presentes desde Trocando as Bolas, 1983) e mesmo ao gel para cabelos Soul Glo (visto em anúncios nas paredes da barbearia), tudo está no devido lugar. É de iluminar o espírito saudosista de qualquer um.
Mas isso não quer dizer que não se tenham novidades suficientes – ainda que nem todas surtam o efeito esperado. Wesley Snipes é um dos principais nomes, como o General Izzi. Indeciso entre o exagero cômico e a ameaça concreta, oferece um registro equivocado, que por pouco não prejudica o conjunto. Líder que uma nação vizinha e irmão da esposa prometida que fora rejeitada por Akeem tantos anos antes. Para que uma guerra não comece, exige que Zamunda cumpra a antiga promessa, aquela que o príncipe evitou. Pois se não foi com ele, que sejam com seus filhos – ou filhas, no caso. Akeem e Lisa (Shari Headley) tiveram três meninas, sendo a mais velha Meeka (Kiki Layne). Izzi quer vê-la desposada pelo filho dele. Mas como a garota se recusa – tem a quem puxar, afinal – a solução surge com a revelação de que, logo ao chegar em Nova York, em 1988, durante a noite em que Akeem e Sammi teriam ido à várias boates em busca da garota perfeita – uma das sequências mais engraçadas de Um Príncipe em Nova York – o príncipe teria sido drogado por uma prostituta e feito sexo com ela. Algo que o próprio não o lembra, mas acaba confirmado pelo amigo.
A inserção desse encontro com a garota de programa abre espaço para cenas de rejuvenescimento digital dos atores – bastante convincentes, aliás – e a chegada da ótima Leslie Jones, que se mostra uma das melhores surpresas. É o filho dela, portanto, o herdeiro ilegítimo de Zamunda. Akeem vê no rapaz a resposta para seus problemas, pois teria alguém para sucedê-lo, sem se obrigar a ceder às pressões dos inimigos. Mas é claro que não será tão fácil. A despeito dos pormenores da chegada de LaVelle ao continente africano e os ajustes de comportamento necessários aos dois lados, o que incomoda nesse aspecto é a falta de conexão entre Murphy e Fowler. Não há química entre os dois, um não parece ser pai do outro – ou vice-versa – e o que se estabelece entre eles é tão forçado quanto automático. Ao mesmo tempo, a conclusão esperada – ou seja, a modernização do reino e o reconhecimento dos valores femininos nos mais variados aspectos, inclusive no direito à coroa – e, com isso, a confirmação de Meeka como a futura herdeira, nem chega a gerar suspense, pois quando se anuncia é apenas a ênfase do esperado. Como se vê, a graça está mais na jornada do que no destino.
Com o imenso impacto gerado por Pantera Negra (2018) não só nas bilheterias, mas também nos costumes sociais e para a representatividade negra, Eddie Murphy deve ter pensado: muito antes de Wakanda, quem senão ele próprio havia aparecido como o líder de uma África forte e real, rica e repleta de história, como a vista por todos os lados em Zamunda? Nada mais natural, portanto, que esse gancho fosse retomado – o que aqui se dá com efeito. Ao retomar a parceria com Brewer (com quem havia trabalhado no superior Meu Nome é Dolemite, 2019), o astro soa engessado, sem a liberdade de outrora. Porém cumpre o prometido, enquanto abre espaço para uma nova geração – Fowler se sai melhor ao aparecer sozinho em cena, enquanto que Layne confirma apostas feitas em seu nome nos últimos anos, colocando-se à altura das expectativas. Por fim, qualquer filme que ouse trazer Morgan Freeman apenas para servir de narrador – ainda que de forma presencial – ou resgatar cantoras negras como En Vogue e Salt’N’Pepa para participações relâmpagos, ao mesmo tempo em que coloca o oscarizado John Legend entoando uma canção capaz de deixar qualquer artista menos descolado ruborizado (fiquem atentos às cenas pós-créditos), já merece atenção. Não da forma revolucionária como foi a obra dirigida por John Landis, mas, ainda assim, sem fazer feio diante tamanha sombra.
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