Crítica
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Sinopse
Maggie e seu filho Oliver se mudam para a casa ao lado da de Vincent, um veterano de guerra. O homem se voluntaria para cuidar do menino, inclusive como forma de arrecadar algum dinheiro para quitar a pilha de contas que se avoluma em sua casa. Vincent introduz Oliver em seu mundo nada ortodoxo para uma criança.
Crítica
Vincent (Bill Murray) é um homem de idade avançada, ranzinza, fumante, alcóolatra, viciado em apostas, está falido, ninguém parece gostar dele e, acima de tudo, é um solitário que só vive da companhia do gato de estimação. Ele representa o anti-sonho americano. O azar (ou seria sorte?) bate à sua porta, literalmente, quando um caminhão estraga a cerca de casa, seu carro e sua árvore “mais velha do que ele”, como o protagonista tanto adora afirmar. Pois o veículo traz a mudança de Maggie (Melissa McCarthy), que está no meio de um separação, e seu filho, Oliver (Jaeden Martell). Um dia o garoto volta sem a chave e o celular e vai parar na residência do resmungão, e o que começa como um serviço de babá vai se transformando numa bela amizade.
O tema do idoso amargurado que cria laços com uma criança espirituosa não é novo e já rendeu ótimos filmes, como a animação Up: Altas Aventuras (2009), para citar um exemplo mais recente. E o roteiro de Um Santo Vizinho pode ser um dos mais divertidos da última leva de filmes norte-americanos de 2014, mas ganha ainda mais contornos graças a um cativante Bill Murray, que há tempos não apresentava um personagem sem (muitas) de suas caretas. O ator personifica o ar blasé de eu alter ego de um modo irresistível que fica difícil não se identificar com Vincent. Ainda mais quando se descobre um pouco mais sobre os porquês de ele ser esta pessoa de difícil tato.
Ao lado do ótimo ator-mirim Jaeden Martell, Murray cria uma química gostosa de assistir que deve render um belo sorriso na plateia. A dupla rende situações hilárias e tocantes, como os ensinamentos de luta de Vincent que terão reflexo no comportamento antes pacifista de Oliver e a inteligência do garoto em apostas, assim como suas trocas de opiniões sinceras e até a participação do rapaz num lado comovente da história do protagonista.
Mais surpreendente é a inversão de papeis de Naomi Watts e Melissa McCarthy, tão acostumadas a bancarem a certinha dos dramas intimistas e a engraçada dos pastelões, respectivamente. Se McCarthy aqui demonstra sua versatilidade como a mãe recém separada que precisa dar duro para ficar ao lado do filho, Watts está impagável como a prostituta grávida de sotaque russo carregado que não leva desaforo para casa. Se alguém não havia entendido até então o porquê da atriz ter sido indicada como uma das melhores coadjuvantes do ano pelo Sindicato dos Atores, eis a prova: ela domina a cena toda vez que aparece. Suas falas são poucas, mas certeiras e engraçadíssimas. Algo que a intérprete incorpora sem nenhum traço da sua profunda Betty/Diane de Cidade dos Sonhos (2001) ou dos sofridos papeis em 21 Gramas (2003) e O Impossível (2012), que lhe valeram indicações ao Oscar.
A gente sabe que está assistindo uma boa comédia quando o humor inteligente domina o roteiro e o elenco está totalmente afinado com a proposta. Um Santo Vizinho é repleto de gags disparadas por personagens disfuncionais e losers na concepção mais pejorativa da palavra. Talvez por isso mesmo o filme encante tanto e ganhe o público, ainda que muitos possam não entender diretamente sobre o que se está falando. Afinal, referências à própria vida cotidiana não faltam.
O final até desanda um pouquinho e cai no clichê, por mais que emocione os corações mais sensíveis por um discurso que mistura santidade e ser humano, mas não há problema algum nisso. O segundo longa-metragem de Theodore Melfi ganha muitos pontos por não ser pretensioso. Pelo contrário. É um dos feel good movies da temporada que conquistam pela sua simplicidade e aproximação com a plateia ao apresentar pessoas de carne e osso que poderiam estar ao seu lado. Ou, como neste caso, serem suas vizinhas. Daquelas que ninguém aparentemente gosta, mas que dá vontade de conviver todo o dia.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Matheus Bonez | 7 |
Chico Fireman | 5 |
Edu Fernandes | 6 |
MÉDIA | 6 |
Matheus, parabéns! Cara, que texto maravilhoso de ler! Faz tempo que não via uma redação com essa fluidez e elegância.