Crítica
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Sinopse
Mavie é uma garota de 27 anos, solitária, desajeitada e cheia de dúvidas. Em uma busca incisiva por descobrir que caminho seguir na vida, ela se muda para Paris e conhece George, um velho bibliotecário solitário e cínico, que não espera mais nada da vida e carrega um passado obscuro. O amor pode assumir diferentes formas e, no caso deles, um jeito não convencional de relacionamento surge e, definitivamente, mudará o caminho de Mavie e seu modo de ver a vida.
Crítica
Mavie (Lolita Chammah, de Barreiras, 2017) e Georges (Jean Sorel, de A Bela da Tarde, 1967) são dois ‘pássaros estranhos’, como se costuma dizer na França. São figuras curiosas, peculiares, não necessariamente engraçadas, mas diferentes da maioria. E é na relação que aos poucos começa a se desenvolver entre os dois, mesmo sendo ele cinquenta anos mais velho do que ela, em que se descobre o charme maior de Um Segredo em Paris, longa escrito e dirigido por Élise Girard. A realizadora não está particularmente interessada em contar uma grande história de amor, ou de perseguir caminhos mais óbvios, como aquele que poderia apontar como a sociedade pode acabar com um sentimento nascido no íntimo de duas pessoas. Muito pelo contrário, ela pouco se importa com aquilo que está ao redor. O foco é quase que único e exclusivo nos protagonistas. E isso é mais do que suficiente.
Viviane Dolmane, conhecida apenas por Mavie, como se apressa em explicar, veio do interior para o coração de Paris “porque precisava respirar”, justifica. Vai parar no sofá de uma amiga (Virginie Ledoyen, de A Praia, 2000) que, no entanto, pouco tempo tem para ela: praticamente não sai da cama com o namorado, de quem só ouvimos sons e gemidos constrangedores durante o sexo interminável dos dois. Sem muito o que fazer, a garota que sonha em ser escritora decide passar seus dias a caminhar pela cidade, parando vez que outra em cafés para colocar a leitura em dia. Cansada de fazer nada, passa a procurar emprego, até que encontra um anúncio de uma livraria. Lá encontra o proprietário, Georges, que parece não ter muita paciência para coisa alguma. Num primeiro momento, mal se falam, e ela vai embora. No instante seguinte, é tratada como funcionária, com cobranças e obrigações. Os tratos pormenores do dia a dia não possuem espaço na narrativa de Girard.
A atração que começa a se desenvolver entre os dois se dá antes num campo filosófico, intelectual. Muito se discute, pouco se age. Mavie se muda para o andar de cima da livraria, ela e o gato. Georges está cada vez mais presente, mas pouco parece realmente interessá-lo além da companhia da nova amiga. Num restaurante, a chamam de neta. Quando sozinhos, a inadequação aumenta. Ela decide arrumar prateleiras e escrivaninhas, ele parece achar graça na motivação dela. Quando um cliente inadvertidamente aparece, logo é posto para correr com xingamentos e impropérios. “Por que você fez isso, o conhece de onde?”, ela pergunta. “Nunca o vi antes”, responde ele, da forma mais natural do mundo. Mesmo assim, insiste em pagá-la, religiosamente, em quantias até maiores do que as merecidas. “Eu nem gastei o que você me deu na semana passada, por que mais?”, contesta ela, a única do mundo a tomar tal atitude diante de uma oferta como essa. E ele confirma: “você não é uma mulher como as outras”.
A pressão pelo que pode vir a acontecer é maior do que por aquilo que, de fato, se sucede. Um Segredo em Paris não possui grandes revelações, eventos ou surpresas. Tudo se dá à luz do dia. O mistério, se é que existe, está nos corações e nas mentes, naquilo que é inexplicável e, mesmo assim, acaba por ganhar espaço. Quando Georges, mesmo frente aos protestos dela, decide sair abruptamente de cena, não faz por completo, pois segue observando-a. Agora, porém, de uma distância segura. Ela ainda não sabe, mas o que ele fez foi abrir espaço para a ordem natural das coisas – ou, ao menos, o que acredita ser a ordem natural das coisas. É quando Roman (Pascal Cervo, de O Ignorante, 2016) entra no quadro. Não mais do que um desconhecido com quem troca duas palavras na rua, da aproximação termina por surgir a empatia, e essa abre caminho para o afeto. Georges está triste, ao mesmo tempo em que satisfeito. Afinal, conseguiu o controle da situação, ainda que esse domínio tenha servido apenas para adiantar um sofrimento que, inevitavelmente, se manifestaria.
Os dois protagonistas respondem pela alma de Um Segredo em Paris – o filme nasce e morre na empatia que a audiência sente por eles. Para isso, ainda mais do que a presença competente de Lolita Chammah – um veterana de pouco mais de trinta anos, pois seu primeiro filme, o clássico Um Assunto de Mulheres, de Claude Chabrol, data de 1988 – de olhos sempre arregalados e postura decidida, o feito de verdade aqui é o resgate do grande Jean Sorel, que depois de quase uma década afastado das telas, ressurge com toda a elegância e carisma do homem que no começo de carreira chegou a fazer concorrência ao galã Alain Delon. Ele está em cena tal como se porta em vida, defendendo frases rebuscadas sem se esquivar de galanteios tão gentis que hoje soam praticamente desapercebidos. São movimentos feitos para olhos treinados, em busca do pequeno detalhe, do pormenor que termina por fazer a diferença. Justamente o que se vê no longa de Élise Girard: muito, a partir de tão pouco.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
MÉDIA | 7 |
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