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Crítica


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Sinopse

Joinville, Santa Catarina. Frederico Bruestlein foi o braço-direito do príncipe François Ferdinand, dono da Colônia Dona Francisca, tendo sido essencial na história da cidade catarinense. Falecido em 1913, ele retorna nos dias atuais para passar 24 horas em Joinville, de forma a descrevê-la ao príncipe em uma carta. Para acompanhá-lo nesta jornada, ele conta com a ajuda do ingênuo Tonico.  

Crítica

Desde que descobriu as benesses do patrocínio, o Cinema brasileiro volta e meia derrapa em excessos, indo além da mera exposição rumo à interferência na narrativa. Em Uma Carta para Ferdinand, a situação é ainda mais grave: sob o pretexto de reverenciar a história da cidade de Joinville, a partir de ícones relevantes de seu passado, nasce um filme que nada mais é que publicidade disfarçada, e de má qualidade.

Para tanto, o longa dirigido pela dupla Fabio Cabral e Anderson Dresch explora o fantástico ao trazer à vida um personagem histórico de Joinville, falecido no século XIX: Frederico Bruestlein, essencial na formação da cidade. Sua missão neste retorno é, apenas, perambular pela Joinville do século XXI de forma a relatar ao príncipe François Ferdinand, seu antigo patrão, como andam as coisas por lá. O motivo não importa, apenas bateu vontade de escrever tal carta, e o roteiro convenientemente foge de tal questionamento. Para acompanhá-lo nesta jornada ele tem ao seu lado o ingênuo Tonico, alívio cômico sem grande função prática, inserido na narrativa com o mero objetivo de trazer algum frescor - o que até consegue, diga-se de passagem.

Ferrugem, por sinal, é o pouco que dá alguma graça a Uma Carta para Ferdinand. Seu Tonico é de uma simplicidade que remete ao eterno Didi de Renato Aragão, alguém de bom coração cuja idade em espírito é bem mais jovem que o aspecto físico. Seu humor simplório traz ao filme uma bem-vinda leveza, seja no estranhamento aos novos hábitos do mundo contemporâneo ou mesmo na dinâmica com Clemente Viscaíno, intérprete de Frederico, que assume um semblante bem mais sisudo. Como dupla eles até funcionam, pena que o roteiro não os ajuda nem um pouco. Mesmo quando entram em choque com as mudanças decorrentes de seu tempo, uma das bases narrativas desta jornada, há um punhado de fragilidades que atrapalham bastante. O melhor exemplo é a sequência na batalha de DJs, na qual Ferrugem até se sai bem ao subir no palco, mas o desenrolar do duelo é risível. É como se o filme até entregasse algumas (poucas) boas ideias, mas com uma preguiça enorme em desenvolvê-las.

Outro complicador que Uma Carta para Ferdinand enfrenta a todo instante é a ausência de um conflito real. Por ter como objetivo percorrer Joinville de forma a exaltá-la, buscando alternativas paliativas mesmo quando precisa citar problemas, como a poluição no rio local, o máximo que há são pequenas adversidades facilmente resolvidas. A amabilidade do povo local é sempre ressaltada neste intuito em, uma vez mais, enfeitar o cartão postal. Daí os motoqueiros que dão carona de imediato e mesmo Bastião, coadjuvante que inacreditavelmente ganha muito mais tempo de cena do que deveria. Concessões condescendentes, em nome do interesse existente além do fazer Cinema.

Com um quê nostálgico, decorrente da presença de dois personagens anacrônicos aos tempos atuais, Uma Carta para Ferdinand ainda apresenta uma trilha sonora que alterna volume sem justificativa, um punhado de cenas alongadas sem necessidade, diálogos súbitos que por vezes buscam o bordão e ainda a dispensável participação de Cristiana Oliveira, irrelevante para a trama como um todo. Pode até que ser que alcance seu objetivo ao ser exibido para grupos de turistas ou em escolas locais, mas como Cinema deixa muito a desejar.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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