Crítica
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Crítica
Reconhecido como um dos principais realizadores gaúchos dos últimos anos, Gustavo Spolidoro – que assina, entre outros, os ótimos Morro do Céu (2009) e Ainda Orangotangos (2007) –, decidiu fazer um filme de Natal, incursionando inesperadamente pelo cinema infantil. Uma Carta para Papai Noel pode parecer uma produção atípica, tendo em vista os cinco longas-metragens anteriormente dirigidos pelo cineasta, alguns deles com experimentações de linguagem e uma bem-vinda disposição para correr riscos. Mas, quem disse que fazer um filme natalino também não significa correr riscos, não é mesmo? A trama mostra o Papai Noel (José Rubens Chachá) meio triste depois do Natal, afinal de contas provavelmente demorará mais um ano para alguém mandar a ele uma cartinha de novo. É algo do tipo “quem faz rir o palhaço?”, pois o Bom Velhinho sente falta de quem se importe com ele, justamente porque se importa com todo mundo. No entanto, a roteiro não dá tanta ênfase a esse drama, fazendo dele somente o motivo pelo qual é fundamental que alguma coisa mude. Longe do Polo Norte, crianças de uma casa de acolhimento do Rio Grande do Sul ficam ressentidas porque, mais uma vez, acordaram no Natal sem presentes. É então que Jonas (Caetano Rostro) resolve se comunicar com o Papai Noel em pessoa, fazendo perguntas corriqueiras em sua cartinha tardia. E isso junta esses dois mundos.
Uma Carta Para Papai Noel é um filme guiado pelo signo da inocência. Embora em sua trama caibam artefatos hipertecnológicos, eles não dizem respeito ao cotidiano das crianças. Então, não há meninos e meninas enfurnados em celulares, tablets e afins. Pelo contrário, já que as brincadeiras dos pequenos são mais analógicas e lúdicas. A parafernália hightech diz respeito à estrutura em torno desse Papai Noel desanimado, mais especificamente às traquitanas criadas e manejadas pela Mamãe Noel (Totia Meireles) – aliás, bem distante daquela figura dócil que serve apenas como apoio ao marido famoso, ela é fundamental para essa aventura criativa com tom de brincadeira de antigamente. E, como em qualquer filme natalino que se preze, há uma vilã disposta a tudo para estragar a experiência dessas crianças órfãs ávidas por presentes que nunca vêm. Léia (Elisa Volpatto) é essa tutora malvada, porém uma olhada mais de perto nos faz perceber que ela não é necessariamente uma encarnação do mal, apenas uma adulta que cresceu cheia de problemas e vai precisar se reconciliar com sua criança interior para recuperar o brilho nos olhos. Os dilemas e problemas estão ali para, inequivocamente, serem solucionados numa aventura infantil leve e de vocação positiva, a fim de que, no frigir dos ovos, lições sejam aprendidas e o bem prevaleça. O filme abraça a lógica otimista do filão e segue esse propósito.
É preciso avaliar os filmes por aquilo que eles são/pretendem. E Uma Carta Para Papai Noel claramente busca se comunicar com uma plateia mais jovem, para a qual, talvez, a excelência dos efeitos especiais ou a engenhosidade narrativa não estejam no topo da ordem de prioridades. Isso não significa condescendência, mas o entendimento de que toda produção tem objetivos e estratégias para atingir suas intenções. Dito isso, Gustavo Spolidoro prioriza os personagens carismáticos em detrimento da originalidade, saindo-se bem ao fazer alusão a uma enorme tradição de filmes natalinos que existem para afagar, principalmente, as plateias infantis, tendo o Papai Noel como a figura lúdica sempre à disposição para diminuir a dor dos oprimidos e recuperar aqueles corações obscurecidos pela sombra da tristeza. Nesse sentido, o elenco infantil é preponderante para a aventura ser crível e dinâmica, com destaque especial para o pequeno Caetano Rostro, que contracena muito bem com os membros experientes do elenco. Nesse sentido, a talentosa menina Lívia Borges Meinhardt (intérprete de Beca) é subaproveitada na trama, haja visto que rouba a cena todas as vezes em que aparece como a amiga de Jonas. É realmente uma pena que sua personagem nem chegue a se tornar uma parceria fundamental para o sucesso da jornada protagonista, sendo pouco mais do que uma figurante com destaque.
Intérprete da principal (e efusiva) ajudante do Papai Noel, Polly Marinho é outra que se destaca positivamente com uma atitude destrambelhada e carinhosa apropriada a esse tipo de produção – ainda que em determinados momentos o seu histrionismo passe um pouquinho do ponto. Longe de apresentar alguma renovação no panorama do filme natalino, Uma Carta Para Papai Noel ao menos segue à risca uma cartilha que tem muito mais tradição nos Estados Unidos (e que é um filão economicamente bastante lucrativo há décadas). Gustavo Spolidoro explora com gosto coisas como passagens secretas, esconderijos e outros locais consagrados ao imaginário infantil. Parece uma opção muito consciente essa idealização até mesmo da casa de acolhimento que deveria ser, em certa medida, um tanto opressora às crianças. É como se o mal quase não existisse e os contratempos fossem apenas uma forma de permitir amadurecimentos e transformações positivas. Nem mesma a morte de um ente querido ganha peso dramático, o que também pode ser encarado como um tipo de romantização. O realizador gaúcho está realmente disposto a fazer um conto de fadas em que os sentimentos negativos não têm terreno para germinar, no qual as frustrações e o sofrimento podem ser soprados para longe com um simples sorriso e meia dúzia de palavras motivacionais. Ele abraça a inocência para retratar um mundo menos cínico e mais lúdico, assumindo esse risco de soar ora anacrônico, ora saudosista.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Robledo Milani | 6 |
Celso Sabadin | 7 |
Francisco Carbone | 5 |
Monica Kanitz | 7 |
Alysson Oliveira | 5 |
MÉDIA | 6 |
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