Crítica
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Sinopse
Crítica
Uma Doce Vingança faz parte de um filão bem conhecido, o dos filmes de superação. Neste caso, a barreira a ser rompida é a da vergonha por não possuir um corpo fisicamente alinhado com os padrões estéticos que pregam magreza como sinônimo de beleza. Mariagrazia (Giulia Barbuto), Chiara (Margherita De Francisco) e Letizia (Giulia Fiorellino) são felizes juntas, comendo e exercendo sua liberdade, mas não se enquadram no microcosmo da escola exatamente por serem rechonchudas. Elas são ridicularizadas por colegas após transitarem de maiô por uma piscina. Todavia, inclusive porque o cineasta Francesco Ghiaccio está somente interessado na mensagem a ser desenhada, nem mesmo essa hostilidade é delineada com consistência. Apenas vemos as protagonistas sendo ridicularizadas por meio das várias mensagens que chegam aos seus celulares num momento de tranquilidade e união. No dia seguinte, e nos outros, ninguém implica tanto com elas no ambiente pretensamente desagradável. Quando muito surge uma risadinha quase inaudível ao fundo.
Essa negligência na construção do entorno é uma constante em Uma Doce Vingança. Também por perseguir desajeitadamente lições de moral, o realizador passa batido pela leitura das discriminações. E assim como boa parte dos congêneres, este filme aposta na aproximação inesperada entre vítimas e algozes. Esse movimento, por si, se encarregaria de dirimir diferenças e mostrar a necessidade de irmanar-se, porque, de um jeito ou outro, todos sofrem pressões da sociedade. Em stricto sensu é uma observação bastante válida, mas não do modo célere e superficial como apresentado aqui. O roteiro encara apressadamente possíveis complexidades atreladas, por exemplo, à relação de Mariagrazia com a mãe atleta que transfere à sua protegida a atenção devida à filha. Elas têm uma conversa aos berros sobre quem sofre mais – se a filha negligenciada ou a mãe que precisou abandonar o esporte – e uma conciliação esquemática no clímax. É pouco para esse vínculo.
Ainda que aborde questões importantes relativas ao preconceito baseado no fenótipo, Uma Doce Vingança se limita a causas e consequências epidérmicas, sem entrelaçamentos profundos. Nada no raso, com o perdão do trocadilho. Outra armadilha frequente em filmes de superação na qual Francesco Ghiaccio cai deliberadamente é postular que basta autoestima para os demais simplesmente perderem seus preconceitos. De certa maneira, com isso ele se transfere às vítimas a culpa por não cintilar num ambiente altamente segregador e potencialmente agressivo como o da escola secundarista. Novamente por perseguir quase de olhos fechados a apresentação de uma mensagem positiva, o cineasta praticamente se esquece de expandir o olhar a essa pequena comunidade, restringindo-a às meninas que precisam vencer desafios para sobressair e à Alice (Alice Manfredi), antiga desafeto que se transforma numa poderosa e empática aliada. Outra lógica infelizmente mal formulada é a da agressividade como uma densa cortina de fumaça para encobrir fragilidade.
O vínculo entre Mariagrazia, Chiara, Letizia chega a ser tratado com sensibilidade em alguns instantes esparsos. As atrizes são carismáticas e suscitam simpatia. Todavia, Uma Doce Vingança não consegue transcender sua vulnerabilidade enquanto cinema, sobretudo pela dificuldade para criar dinâmicas espessas o suficiente. Falta desenvolvimento às conjunturas, como quando as protagonistas decidem rapidamente responder aos detratores com a prova de seu esforço na piscina. Francesco Ghiaccio encena com displicência passagens capitais, tais como o episódio supostamente vergonhoso que leva Alice a ser chantageada pelas jovens anteriormente humilhadas por sua vilania. É algo revelado apenas adiante, mas evidente de cara pela soma de gestos entendidos erroneamente. A devolução da chave surrupiada para garantir o local de treino em nado sincronizado igualmente aponta à presença de circunstâncias postiças. São várias as conveniências encaixadas a fórceps nessa trama que segue à risca uma cartilha cheia de preleções e aprendizados.
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