Crítica
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Crítica
Transformada num ícone midiático por seu sucesso televisivo, Xuxa Meneghel também teve diversos êxitos comerciais nas telonas. Qualidades cinematográficas à parte, os “filmes da Xuxa” podem ser vistos como peças fundamentais dentro do panorama das obras voltadas às crianças e jovens, pois ajudaram efetivamente na formação de um público então acostumado a ir aos cinemas para assistir a histórias contadas em português (não dubladas em) e com aspectos culturais nossos. Quatorze anos depois de seu último longa, em Xuxa e o Mistério de Feiurinha (2009), ela volta à cena com Uma Fada Veio me Visitar, na condição de coadjuvante (embora possamos considera-la coestrela). A personagem principal dessa aventura teen mágica é Luna (Tontom Périssé), típica adolescente que tem atritos diários com seus pais e se ressente de não ser a garota mais popular do colégio. Dentro de um modelo de trama bastante conhecido, é interessante o desvio de alguns clichês. Por exemplo, Luna não é a inteligente invisível diante de uma antagonista com notas baixas que mesmo assim é a maior superstar da escola. Lara (Vitória Valentin), sua nêmeses, é uma aluna com notas bem superiores às suas e ainda assim sobressai no circuito social do colégio, além de ter o namorado dos sonhos. Mas Lara é bastante arrogante.
E onde entra Xuxa Meneghel nessa parada? Como Tatu, fada atrapalhada que ficou 35 anos adormecida. Ela recebe a missão de fazer Lara e Luna se tornarem amigas. Esse ser mágico tem como característica principal ainda estar presa aos anos 1980 quanto às referências culturais e de figurino. O roteiro baseado no livro homônimo de Thalita Rebouças (assinado pela autora, por Patrícia Andrade e Vivianne Jundi) pretende criar tensões geracionais na interação entre Luna e Tatu. Sempre que aparece em cena, a fada está vestida como personagem ou personalidade facilmente reconhecível para quem teve a sua infância lá nos anos 1980. Xuxa surge trajada de She-Ra, Boy George, Madonna, Cindy Lauper, entre outras figuras que povoaram a cultura pop de uma década. Boa parte do público identificará a homenagem de cara, mas como Luna faz parte de outra geração, ela geralmente fica “boiando”. E o filme não sabe lidar de modo diverso com essa diferença de percepções. No geral, Luna não demonstra interesse por saber a respeito daquilo tudo, já que está focada em suas demandas adolescentes. Então, sempre que Tatu aparece é, basicamente, uma piscada calorosa a uma fatia do público, àquela que formou os baixinhos da Xuxa. No entanto, como combustível da tensão geracional, as trocas constantes de figurino são um modo pouco eficaz de tentar variar essas interações.
Uma Fada Veio Me Visitar é feito para dois públicos. Xuxa e suas aparições referenciais visam atingir os mais velhos, enquanto a trajetória de Luna tem elementos que podem atender diretamente à plateia mais jovem – ainda que coisas como amores e expectativas frustrados sejam componentes praticamente universais. Luna precisa lutar contra o próprio ranço e tentar se aproximar na menina mais chata e prepotente da escola. Para equilibrar essa missão com as aparições divertidas de Tatu, a diretora Vivianne Jundi acaba sacrificando alguns pontos, como a antiga melhor amiga da protagonista, que vira praticamente uma aparição esporádica, e mesmo os pais da adolescente, que se tornam figuras meramente decorativas em cena. E, em determinado ponto do longa-metragem, a fada simplesmente desaparece para dar lugar às demandas humanas. O efeito disso é que toda a dimensão mágica é escanteada, ou seja, não vemos muito da instituição das fadas na qual se destacam as participações especiais de Zezeh Barbosa, Dani Calabresa e Livia Inhudes. Aliás, pena que o roteiro não tenha contemplado mais dessas fadas atrapalhadas, logo transformando-as somente em comentadoras das regras às quais Tatu está submetida. Aliás, a própria missão da personagem de Xuxa pode ser questionada, pois se a amizade estava realmente destinada a acontecer, qual a função da fada?
Uma Fada Veio me Visitar tem aspectos positivos, como uma Xuxa evidentemente se divertindo no papel de coestrela disposta a fazer piada de si própria e com uma atitude menos angelical do que a maioria de suas mocinhas cinematográficas. Além disso, a produção tem uma equipe criativa de mulheres, em sua maioria (elenco, roteiro, produção). Nela, temas como a rivalidade feminina ganham espaço para acontecer dentro de uma dimensão infantojuvenil. No entanto, a execução das ideias deixa a desejar. Lá pelas tantas, as aparições de Tatu são mais justificadas pela novidade do figurino e da referência do que do ponto de vista da trama propriamente dita. Transformações repentinas de panoramas complexos determinam a aura inocente dessa produção empenhada em demonstrar que está antenada com diversas discussões importantes que pipocam na atualidade. Por um lado, a discussão em torno do bullying é muito relevante, mas aqui é resolvida de modo um tantinho inocente e abrupto demais, como se o desabafo diante dos colegas fosse capaz de sensibilizar imediatamente gente que sofreu durante anos com abusos morais. Por outro, é interessante localizar num filme para adolescentes, nessa época hiperconectada como a nossa, o discurso de que é preciso refrear os julgamentos e compreender que nem sempre sabemos onde aperta o sapato do outro. As intenções são ótimas, mas a concretização delas em filme fica no meio termo entre a nostalgia e a consciência.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Alysson Oliveira | 3 |
MÉDIA | 4 |
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