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Sinopse
Para consertar a relação rompida com o irmão que está mal de saúde, o idoso Alvin decide fazer uma viagem improvável, passando por alguns estados norte-americanos a bordo de um carrinho cortador de grama.
Crítica
Assistindo a Uma História Real, não deixa de surpreender a constatação de que ele é dirigido por David Lynch. É o trabalho que mais se diferencia do restante da filmografia do diretor, o mais acessível tanto em termos de narrativa quanto de história. Contudo, isso não torna essa produção menos interessante, pelo contrário, já que é uma das melhores de Lynch e talvez a mais emocionante de sua carreira, trazendo no centro um belo estudo de personagem, com uma maravilhosa atuação do saudoso Richard Farnsworth.
Baseado em, bem, uma história real, o roteiro escrito por John Roach e Mary Sweeney segue Alvin Straight (Farnsworth), que aos 73 anos tem sua cota de sérios problemas físicos e de saúde. Ao ficar sabendo do derrame sofrido por seu irmão, Lyle (Harry Dean Stanton), com quem se desentendeu e não fala há dez anos, ele decide ir contra as recomendações de todos, incluindo sua filha Rose (Sissy Spacek), e atravessar o estado para visitá-lo, fazer as pazes. Teimando que precisa fazer isso sozinho, Alvin encontra em seu carrinho cortador de grama o jeito ideal, ainda que inusitado, para realizar a jornada.
Os trabalhos dirigidos por David Lynch geralmente causam alguma espécie de estranhamento pelo modo como abordam a natureza humana. Talvez por isso, vê-lo ligado a uma produção como Uma História Real seja algo tão inesperado. Em nenhum momento o filme chega a ganhar contornos mais sombrios, mantendo do início ao fim a leveza de sua história. É um verdadeiro road movie, de roteiro calcado nos contatos de Alvin com várias pessoas pelo caminho. No entanto, se tematicamente a trama não parece fazer o estilo de Lynch, fica claro desde o início que é mesmo ele quem está no comando da narrativa, em virtude dos movimentos de câmera, como o travelling de abertura, e outros aspectos, como a linda trilha de Angelo Badalamenti.
Em meio a isso, Uma História Real mostra ser um conto sensível sobre a importância da família. Alvin demonstra saber que, por mais que haja discussões e problemas, as relações familiares podem ser o grande apoio que precisamos. Assim, todas as pessoas que ele encontra são tocadas por sua história de vida. No processo, compreendemos os motivos para ele querer rever seu irmão. Mesmo que não possamos continuar acompanhando personagens como Crystal (Anastasia Webb), menina que tenta pegar uma carona no meio da estrada, ou os irmãos gêmeos mecânicos Harald e Thorvald (Kevin Farley e John P. Farley), imaginamos que eles terão uma convivência melhor com seus entes queridos depois de ouvir as palavras de Alvin. Nesse sentido, é impossível não destacar a cena em que ele menciona a brincadeira envolvendo um graveto, sem dúvida um dos melhores momentos do filme.
Alvin, por sua vez, é vivido admiravelmente por Richard Farnsworth em seu último papel no cinema (ele suicidou cerca de um ano depois da estreia). O ator brilha ao fazer de Alvin uma figura extremamente doce e frágil, por sua postura em cena, por seu olhar, além de trazer uma determinação tão grande para o personagem que nunca duvidamos do êxito da jornada, mesmo que todas as pessoas ao seu redor tenham certeza que ele não passará do primeiro terço do caminho. É uma atuação delicada, não à toa reconhecida com uma indicação ao Oscar. Uma História Real foi uma mudança de rumo temporária na carreira de David Lynch. Em seus filmes seguintes, Cidade dos Sonhos (2001) e Império dos Sonhos (2006), ele voltaria a montar narrativas atípicas como aquelas com as quais nos acostumamos ao longo de sua carreira. Mas o fato de ele ser capaz de fazer um “feel good movie” tão bom quanto suas obras autorais apenas comprova ainda mais seu imenso talento.
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olá você disse o que pensei na narrativa dos gravetos. fiquei muito emocionado.